Augusto dos Anjos (1884-1914) Oh! Negro, oh! Filho da Hotentótia ufana, Teus braços brônzeos como dois escudos, São dois colosso, dois gigantes mudos, Representado a integridade humana! Nesses braços de força soberana Gloriosamente à luz do sol desnudos Ao bruto encontro dos ferrões agudos. Gemeu por muito tempo a alma africana! No colorido dos teus […]
Poesias
Estrela
Paulo de Abreu Lima Estrela, estrela, estrela… Olhe-me, aí do céu E me dê confiança e inspiração Olhe-me, aí do céu E me fale de sua paixão Dê-me razão Dê-me paixão Dê-me… Dê-me algo Fale algo Diga Ouça Cale Veja Estenda sua luz Rastreie tua luz estrela, estrela, estrela fale, cale, cante ande mostra tua […]
A bomda
Carlos Drummond de Andradre A bomba é uma flor de pânico apavorando os floricultores A bomba é o produto quintessente de um laboratório falido A bomba é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles A bomba é grotesca de tão metuenda e coça a perna A bomba dorme no domingo até que os morcegos […]
Dor
Dor Eliana Maria Righi Cravada navalha Lacera alma incauta, Indefesa criança A brincar no jardim Criada do nada, é vislumbre do medo De vê-la inventada pra sempre e sem fim. Repete-se em ciclos Sabidos decor Seu termo bem-vindo já custa a chegar Não posso ditá-lo, Só rezo e espero Por ti e por ela […]
Pó
Pó Raul Prates Rua, lixo, esgoto abandono Mulheres, crianças e velhos abandonados Caras, bocas e prantos Jogados, jorrados marcados Sol, chuva, frio Tempo imperdoável Praças, limbos Ruas e labirintos esquecidos Cheiro de pneus queimados Fumaça, nuvens poluição O que não recicla (é vida?) Cicla o ciclo Da era […]
Paulo pobre
Paulo pobre Gilberto da Silva Paulo, pobre, preto Pedreiro, pobre Pedindo pão, pinga Paulo patriota Pagando promessa. Paulo, pobre, pacato preto, pedreiro Pagando promessa Pedindo pão, pinga. Paulo pintor parado Ponto pequeno, Proletariado. Paulo passado Prometendo pagar Preces, pensamento Pular, pecar. Perdendo poder Patriotismo Perdendo pátria Pronto pra prisão. […]
Domingo sem parque e sem morte
Domingo sem parque e sem morte Depois da ansiedade Fruto da espera louca Da neura da cidade É domingo na metrópole Tem música nos aparelhos, no vento, e nos mistérios. Tem stérios e estéricos, missa, pastores e almas. Mocinhas nos cines e rapazes apressados (onde vão? Hoje é dia de descanso.) Famílias sentadas em […]
Mortal
Mortal Nem tudo é eterno entre a loucura e a realidade real. O mal o tal o sal enfim: o fim começa no inicio de tudo que é o nosso fracasso. Nem tudo é mortal para além do bem e do mal diante da minha impotência anti-nietzschiana. Viver no inferno total Pode não mudar […]
Vós que sois cristãos
Vós que sois cristãos Quando fizerdes vossas orações Por crianças que têm pão, escola e abrigo Lembrai-vos dos meninos da Candelária, Que não tiveram tempo de fazer uma oração. Quando fordes à igreja para a missa Santa rezada pelo vigário paroquial, Lembrai-vos dos caídos em Vigário Geral, Que não tiveram tempo de fazer uma oração. […]
Leve
Leve O corpo é breve a alma leve o som acolhe e recolhe os trapos e os cacos que ficam… Feitos cerol que mata fere e corta a carne feito lança. Assim, repousados no tempo, na linha do vento brincamos de viver. Julho-2000 Raul Prates