A invisibilidade profissional acomete milhões de pessoas no mundo. Sua abrangência é comparável à social, que torna pessoas descartáveis aos olhos de lideranças, das grupais às corporativas, dos núcleos locais de convivência a nações.
Os “invisíveis” vão para a linha de frente, nas guerras, convocados como números e tratados como tal. Os que conseguem destaque são elevados à condição de heróis “úteis”, passando a ser referência para que os que continuam invisíveis neles se espelhem. No entanto, esses heróis poderão ameaçar os detentores de poder, caso não se submetam. Daí, mártires serem mais interessantes, pois é possível construir lendas e fantasias sobre eles, tornando-os objeto de adoração e motivação de massas.
Profissionalmente, uma enorme quantidade desses “invisíveis” é efetivamente responsável pela solução de problemas, pela apresentação de resultados, pela evolução da humanidade.
Sua invisibilidade é o resultado da arrogância dos poderosos, dos líderes globais aos “tiranos de aldeia”, que não os enxergam, por vaidade e soberba, ou os veem muito bem, para mantê-los sempre à sua sombra.
Essa “sombra” normalmente é expressa em “portas” e “janelas” fechadas, que impedem o desenvolvimento pessoal, espécie de “vampirismo” ou “parasitismo”.
São esses “invisíveis” que “queimam a mufla” e “amassam o barro”, mas os louros nunca serão deles. Pelo contrário, serão cada vez mais cobrados.
Às vezes, a tentativa de sair das sombras é punida, levando a uma virtual “cegueira”, quando o “invisível” se torna incapaz de enxergar a si próprio. O desprezo e a desmotivação fazem turvar essa visão progressivamente.
Felizmente, há quem consiga sair dessas trevas induzidas, desses grilhões psicológicos ou profissionais, e alcance a luz do reconhecimento, do brilho próprio. No entanto, os “freios” são muitos, e os meios utilizados para manter essa “escravidão” são pródigos.
Às vezes, a submissão ocorre por falta de ousadia, mas é mais comum quando os riscos de ousar envolvem quem depende do “invisível”, pois para a família sua importância é evidente.
Abençoados são os que conseguem ser “vistos” e valorizados por quem é capaz de comprar-lhes uma “carta de alforria”, de os tratar como seres pensantes, indivíduos íntegros com potencial para serem muito mais úteis à sociedade, e não apenas para servirem aos interesses de quem os quer aprisionados ao seu bel-prazer, lucro e fama.
Infelizmente, isso é raro, pois os mecanismos e estratagemas dos que criam barreiras são difíceis de transpor. Quem perde com isso é a sociedade.
É fato que é impossível ser plenamente livre, pois mesmo quem assim se considera tende a causar algum tipo de sofrimento a alguém, e a culpa também é uma forma de escravidão. Desta forma, muitos dos que se consideram livres são egoístas.
Os “invisíveis” podem estar alijados do poder de decisão, mas o influenciam. Podem não ser reconhecidos por seus méritos, geralmente assimilados por outrem, mas quem os acorrenta deles tira proveito, pois quem assim domina tem medo de os perder e assim revelar suas limitações.
Há muita gente má nesse mundo, mas também há espíritos mais elevados, capazes de iluminar caminhos, em vez de impor tapa-olhos, vendar ou cegar em proveito próprio.
Porém, mesmo vivendo enclausurado, é fundamental não deixar de acreditar em si mesmo, de buscar conhecimento, de encontrar prazeres e motivações alhures. Quem sabe as correntes enferrujem e um dia se rompam.
O espírito não pode se deixar aprisionar ou fenecer, pois isso será morte em vida, talvez “severina”!
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras