Acreditando ou não em Papai Noel, também conhecido como São Nicolau, e deixando para lá se 25 de dezembro seria a data efetiva de nascimento de Jesus, ou um sincretismo religioso adotado para uma transição mais suave do paganismo ao cristianismo, a época de Natal sempre traz expectativa de alguma surpresa boa, ou de realização de um sonho ou desejo.
Para alguns, pode ser a espera de um presente caríssimo, nem sempre acompanhado de bons sentimentos ou intenções; para outros, pode ser um prato de comida minimamente decente, uma roupa limpa, um emprego, uma cura milagrosa. Também pode ser um “sim” a um pedido de namoro ou casamento.
Há quem receba presentes até de quem não conhece, admiradores secretos, ou benfeitores anônimos.
Para os que necessitam de tudo, isso é uma benção, uma manifestação de humanidade em meio ao materialismo consumista, ou radicalismo iconoclasta. Para os que tem tudo, nem sempre por merecimento, tende a ser uma oportunidade para pagar “indulgências” pelos “pecados cometidos” sem intenção de arrependimento.
O Natal é um tempo em que as pessoas deveriam ter ao menos vontade sorrir. Haver motivo para tanto é o ideal, mesmo que em função de pequenas coisas, que normalmente são as mais importantes. Estar com pessoas queridas, por exemplo.
Cada um de nós tem seu natal, que pode ser cada um dos 365 dias do ano, inclusive os sortudos que nascem no dia 29 de fevereiro, que só “envelhecem” um a cada quatro anos. Até parece…
Há quem o comemore em família, ou convidando centenas de pessoas, por prazer, vontade de compartilhar ou pura ostentação midiática.
No caso do Natal, há que não comemore por múltiplos motivos: traumas, desilusões, preconceitos, abandono, coisas que jamais deveriam ocorrer com crianças.
Lembro de duas músicas brasileiras antigas:
Uma delas tinha como versos: “Criança feliz, feliz a cantar. Alegre a embalar seu sonho infantil. Ó meu bom Jesus, que a todos conduz, olhai as crianças do nosso Brasil!”. Tinha uma visão positiva da importância do sonho e da alegria na formação da infância. Mas outra, embora composta para o período natalino, trazia uma visão delusória do Natal, embora algo realista: “Eu pensei que todo mundo fosse filhos de Papai Noel… Já faz tempo que pedi, mas meu Papai Noel não vem. Com certeza já morreu, ou, então, felicidade é brinquedo que não tem”.
Talvez o pior “presente” que se possa dar a qualquer ser humano, ainda mais a crianças. é privar-lhe do direito de sonhar.
E qual seria o melhor?
Em minha opinião, por experiência própria, é o dom da vida, renovado a cada dia!
Nem sempre ela é fácil. Por vezes, a vida é árdua, dependente, frágil, submissa, ou uma imitação. No entanto, mesmo nesses casos, ela se faz solo fértil para que outras vidas nos abracem e cuidem, transformando as suas num presente de inestimável valor para quem dá e recebe.
Há cerca de dois milênios, Cristo nos deu um exemplo de humildade, ao nascer, e de amor infinito, ao deixar a vida por nós: um amor sem discriminação de qualquer espécie.
Sim, o melhor presente é a vida! Pois ela pode ser usada, revisada e aprimorada enquanto existir. É um brinquedo que pode e precisa ser reinventado a cada dia!
Assim, que aprendamos a dar-lhe o devido valor, bem como à do semelhante, em qualquer tempo e lugar!
Feliz Natal! E que celebremos a vida em qualquer tempo!
Adílson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras