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CIVILIDADE E EMPATIA

Muito antes de definições do tipo “politicamente correto”, “linguagem cidadã” e
“comunicação não violenta”, as escolas incluíam em seus currículos, desde os
primeiros anos do antigo ensino Primário, aulas de civilidades.
Uma das definições de civilidade é: “conjunto de formalidades, de palavras e atos que
os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração; boas
maneiras, cortesia, polidez”. Desta forma, ela já pressupõe empatia, dispensando
todas essas estratificações recentes. Aliás, o “cartesianismo” dessas fragmentações vai
contra o paradigma emergente, holístico.
A civilidade pressupõe o uso de bom senso no que se refere a direitos e deveres, o que
envolve limites, e o ideal é que eles não precisem ser lembrados.
Seja um local público fechado, que pode ser um restaurante ou “shopping center”.
Imaginem que duas pessoas que não se conhecem de repente comecem a gritar uma
com a outra, precisando ser contidas para não entrarem em confronto físico. Não
tenho dúvida de que isso incomodará os demais frequentadores, inclusive seus
acompanhantes. Aliás, não consigo visualizar esses acompanhantes conversando
animadamente, elogiando, ou considerando natural o comportamento irracional dos
briguentos. Provavelmente os seguranças convidarão essas pessoas a se retirarem do
local.
Nesses mesmos locais, imaginem um bebê que começa a chorar. Isso não pode ser
considerado um incômodo aos demais, pois o choro de um bebê decorre de sua
incapacidade de manifestar verbalmente um problema. Os pais, principalmente as
mães, serão capazes de identificá-lo, e uma boa mamada, uma fralda trocada ou um
colinho carinhoso podem resolver a situação. No entanto, se isso persistir pode indicar
algo mais complexo, exigindo que saiam do local, em busca de uma solução.
Permanecer nessas circunstâncias, pode gerar percepção de que os pais não estão
cumprindo com suas funções. Alguém pode até alegar omissão ou infração ao Estatuto
da Criança e do Adolescente.
Também há o caso da criança birrenta, mimada, que grita quando contrariada, e faz o
que quer num ambiente público, incomodando todos à volta. Os pais podem estar
acostumados com esse comportamento, mas não é obrigação comunitária aturá-lo.
Nesses ambientes, a acústica nem sempre é bem resolvida e, picos de ruídos são
extremamente incômodos. Se constantes, o efeito é ainda pior.
Agora, imaginem se tudo isso ocorrer numa praça de alimentação ou restaurante.
Segundo os japoneses, a alimentação deve ser apreciada com os cinco sentidos. A
audição, no caso, é representada pelo silêncio, mas também pode ser uma conversa
em baixo tom, para não incomodar os demais clientes. Afinal, não se trata de uma
casa. Infelizmente, tem gente que acha que é, querendo empatia só quando interessa,
ou pouco se importando com o resto do mundo: falta de civilidade, que também pode
ser considerada “politicamente incorreta”, que “linguagem cidadã” e “comunicação
não violenta” podem ser entendidas como afrontas a direitos, gerando reações
agressivas.
Bem, estamos falando de reações irracionais de seres em tese racionais, mas creio que
também vale para quem leva seus animais de estimação a lugares públicos fechados,
inclusive praças de alimentação e restaurantes, onde os espaços a eles reservados não
tenham isolamento acústico. Os latidos agudos e contínuos de certas raças ao visualizarem análogos, podem parecer normais para seus acompanhantes. Porém, suas
preferências, vontades ou costumes não podem ser impostos aos ouvidos dos outros.
Como virou moda redefinir expressões e afins, creio que vale trocar a pouco civilizada
e muito egoísta frase “os incomodados que se mudem”, para “os que incomodam que
mudem”, ao menos de atitude!
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de
Letras

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