Navegando pelas páginas da História da Educação: a imprensa como guia
Simone Garbelini Parro Pialarissi[1]
Luana Beatriz Paes Magalhães[2]
Camilly Aparecida de Souza Francisco[3]
Denise Gomes dos Santos[4]
Marcela Silva da Cunha[5]
Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar a discussão da relevância da pesquisa histórica tomando os jornais como fonte de pesquisa. Levamos em consideração a ampliação do campo de pesquisa historiográfica, a partir da Escola de Annales (1929). Queremos responder porque os jornais (e a imprensa de modo geral), podem ser considerados fontes confiáveis na investigação dentro do campo da História da Educação.
Palavras-chave: História da Educação; Imprensa; Jornais; Fonte.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo presentar la discusión sobre la pertinencia de la investigación histórica utilizando los periódicos como fuente de investigación. Se tuvo en cuenta la expansión del campo de la investigación historiográfica, a partir de la Escuela Annales (1929). Queremos responder por qué los periódicos (y la prensa en general) pueden ser considerados fuentes fiables en la investigación dentro del campo de la Historia de la Educación.
Palabras clave: Historia de la Educación; Prensa; Periódicos; Fuente.
Considerações Iniciais
Neste texto nosso objetivo é apresentar a discussão acerca da relevância da pesquisa histórica tomando os jornais como fonte, demonstrando a importância da imprensa como veiculadora de informação, problematizando sua utilização e indicando caminhos para as investigações. Sabemos que durante muito tempo na História da Educação a imprensa não era considerada uma fonte viável de pesquisa.
A partir da década de 1970 a imprensa tomou um papel de destaque nas pesquisas em História, principalmente na História da Educação, Souza e Catani (1994, p. 178) indicam que “o estudo da imprensa periódica especializada em educação pode trazer elementos extremamente úteis para a compreensão histórica do sistema de ensino e colocar novas questões acerca da cultura escolar brasileira”. Principalmente por fazer circular informações sobre “o trabalho docente, a organização dos sitemas de ensino, as lutas da categoria profissional do magistério, bem como os debates e polêmicas que incidem sobre aspectos dos saberes ou das práticas pedagógicas” (CATANI, 1996, p. 116). Uma fonte especializada com um grande potencial de investigação no campo educacional.
Para isso, o trabalho foi desenvolvido a partir de revisão bibliográfica, pautada em autores como: Catani (1996), Pallares-Burke (1998), Barros (2023), Souza; Catani (1994), Pasquini e Toledo (2014) e Leite (2016). E justifica-se pela importância em dar visibilidade a esse tipo de fonte que nos oferece um leque de possibilidades de pesquisa.
A imprensa no Brasil e seu caminho na pesquisa
Sabemos que a imprensa escrita chega ao Brasil junto da família real em 1808, e passa a divulgar o olhar desta para as questões do nosso país. Até aquele momento era proibida qualquer atividade de imprensa no Brasil, sendo uma das justificativas o papel desempenhado pela imprensa como doutrinador, visando influenciar a opinião pública.
A Imprensa Régia estabelecida pela corte tinha a função de gerenciar e examinar todo material que se mandasse publicar e fiscalizar para que não se imprimisse nenhum livro ou panfleto que manifestasse ideias contrárias a religião, ao governo e aos bons costumes. Nenhum material poderia ser impresso sem o exame dos censores reais, era a censura à imprensa (PASQUINI; TOLEDO, 2014, p. 259)
Nas palavras de Pallares-Burke (1998) a imprensa no Brasil foi banida até o século XIX. Apenas com a transferência da corte portuguesa para a colônia, a imprensa volta ser implantada e utilizada. A Gazeta do Rio de Janeiro marcou o início da imprensa periódica brasileira, no entanto, até os anos de 1820, a censura restringia os periódicos a publicarem apenas notícias insípidas do exterior ou defesas parciais do regime monárquico absolutista. Somente mais tarde, com o retorno da corte à metrópole e a independência do Brasil de Portugal, que a imprensa começou a adquirir características semelhantes às da imprensa iluminista europeia.
De acordo com Leite (2016, p. 14) os meios de comunicação são uma importante fonte de informação, tanto para compreender a sociedade atual, como para promover um certo controle social, e “a imprensa, as editoras e o sistema escolar tornaram-se as mais dinâmicas organizações culturais da sociedade civil, assumindo um papel essencial, sobretudo porque conseguem ter um alcance maior na sociedade”. Logo, “Máquinas de impressão, seres humanos letrados e papel: eis aqui o tripé sobre o qual se assenta a produção massiva de jornais” (BARROS, 2023, p. 40).
E por ser de baixo custo, fácil de manusear e de descartar, tornou-se parte do cotidiano de grande parte da população localizada nas cidades, um modo barato de ficar sabendo as notícias e:
acreditar nelas, comover-se com o que dizem, temer as suas consequências, encher-se de alguma esperança ou simplesmente assistir, nos diversos textos articulados de um jornal, à passagem da vida em todos os seus aspectos: a política, a vida, a morte exposta nos obituários, a compra e venda anunciada nos classificados, as notícias sobre o país e o mundo, a expectativa da guerra e paz, a sensualidade, o crime, o humor da charges, o gol e a notícia inesperada (BARROS, 2023, p. 41).
Na história da educação, o uso da imprensa como fonte e objeto de pesquisa vem se consolidando cada vez mais, principalmente no que diz respeito à imprensa voltada para as questões educacionais, ou seja, periódicos educacionais. A importância dos jornais e revistas como fonte de pesquisa “relaciona-se com sua especificidade como veículo de circulação de ideias que representam e ainda podem representar determinado interesse, sendo este dependente do meio de vida dos homens” (ZANLORENZI, 2010, p. 61)
Souza e Catani (1994) apontam ao menos duas diretrizes para o trabalho com e a partir da imprensa pedagógica periódica:
o estabelecimento de repertórios destinados a informar sobre o conteúdo dos periódicos, classificando-os, organizando seu índice temático e registrando seu ciclo de vida. Tais repertórios fornecem materiais básicos: dados de partida que permitem a localização de informações para pesquisas sobre a história da educação, das práticas escolares ou do sistema de ensino. Evidentemente, a partir daí, uma outra diretriz de trabalho se configura e o estudo dos próprios periódicos permite situar movimentos de grupos de professores, mapear diferentes atuações, detectar disputas e, assim, explicitar em parte o funcionamento do campo educacional (SOUZA; CATANI, 1994, p. 178).
Barros (2023) menciona que os jornais não são meros transmissores de informações, mas sim, comunicam ideias e valores em busca de agir sobre a sociedade. São fontes que devem ser problematizadas, considerando “quem a produziu e para qual finalidade”. Ainda nas palavras do mesmo autor é necessário compreender os autores sociais que estão por trás do texto, lançar perguntas e aprender a ler as entrelinhas, é um exercício para o historiador desenvolver uma consciência crítica, e “perceber seus silêncios, os seus entretidos e interditos” (BARROS, 2023, p. 23).
Os jornais podem ser considerados fontes importantes de pesquisa porque tem registros complexos da realidade social e, além de abordar diversos assuntos, conta com uma circulação considerável em muitos espaços. Sendo assim Zanlorenzi (2010, p. 61) afirma que utilizar os jornais para “discutir sobre a educação, principalmente a ideologia que influenciava os discursos referentes a essa, é uma forma de vislumbrar os interesses que permeiam a educação do povo”.
Considerações Finais
Este texto alcança seu objetivo quando consegue apresentar a discussão sobre a imprensa como fonte para a pesquisa histórica em especial os jornais, grande fonte de informação e veiculador de determinadas ideologias.
As fontes históricas devem sempre ser questionadas com rigor e os jornais não diferem disso, devemos investigar sua confiabilidade, as notícias publicizadas, aqueles assuntos que tem espaços nos jornais, as frequências com que aparecem, sua materialidade e diagramação, os sujeitos que aparecem assinando as matérias e os sujeitos que são eleitos como heróis, bem como aqueles que são quase sempre desmerecidos no processo de escrita da história. O entrecruzamento das fontes também é uma necessidade para apurar o censo crítico.
REFERÊNCIAS
BARROS, José D’Assunção. O jornal como fonte histórica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2023.
CATANI, Denice Barbara. A imprensa periódica educacional: as revistas de ensino e o estudo do campo educacional. Educação e Filosofia. Uberlândia, v. 10, n. 20, p. 115–130, 2008. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v10n20a1996-928. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/928. Acesso em: 16 ago. 2024.
LEITE, Valéria de Jesus. A imprensa e a memória: os trabalhadores do Norte de Minas entre o (Des) envolvimento e o progresso. In: PEREIRA, Maria Amaral Rodrigues (org.). A história na imprensa, a imprensa na história. 1 ed. – Jundiaí (SP): Paco, 2016.
PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. A imprensa periódica como uma empresa educativa no século XIX. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 104, p. 144–161, 1998. Disponível em: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/723. Acesso em: 7 jun. 2024.
SOUZA, Cynthia Pereira; CATANI, Denice Barbara. A imprensa periódica educacional e as fontes para a história da cultura escolar brasileira. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo, Brasil, n. 37, p. 177–183, 1994. DOI: 10.11606/issn.2316-901X.v0i37p177-183. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/71310. Acesso em: 21 mai. 2024.
PASQUINI, Adriana; TOLEDO, Cezar de Alencar. Historiografia da educação: a imprensa enquanto fonte de investigação. Interfaces Científicas-Educação. Aracaju, v. 2, n. 3, p. 257-267, 2014. DOI: 10.17564/2316-3828.2014v2n3p257-267. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/educacao/article/view/1297. Acesso em: 18 ago. 2024.
ZANLORENZI, Claudia Maria Petchak. História da Educação, fontes e imprensa. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, SP, v. 10, n. 40, p. 60–71, 2012. DOI: 10.20396/rho.v10i40.8639806. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639806. Acesso em: 4 jun. 2024.
[1] Simone Garbelini Parro Pialarissi* Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: (sim.pialarissi@uel.br).
[2] Luana Beatriz Paes Magalhães* Mestranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: (luana.b.magalhaes@uel.br).
[3] Camilly Aparecida de Souza Francisco* Graduanda do 5º semestre do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: (camilly.aparecida@uel.br).
[4] Denise Gomes de Souza* Graduanda do 5º semestre do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: (denise.gomes.santos@uel.br)
[5] Marcela Silva da Cunha* Graduanda do 7º semestre do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: (marcela.silvacunha@uel.br)