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Em busca da construção de outros saberes docentes nas vivências durante o estágio supervisionado de docência: um relato de experiência

Em busca da construção de outros saberes docentes nas vivências durante o estágio supervisionado de docência: um relato de experiência

Antonia Fernanda Dutra Pinto[1]

Rozane Alonso Alves[2]

A proposta deste texto visa descrever um relato de experiência vivenciado durante o estágio supervisionado de docência. O objetivo do texto é pontuar discussões sobre outros saberes docentes a partir das relações estabelecidas com as turmas e com a professora da disciplina Didática Geral a nível de graduação. Como possibilidade metodológica utilizamos a descritiva com uma abordagem qualitativa. Dessa forma, o conhecimento adquirido no estágio, descortinou outros saberes, outras relações, outras identidades e outras possibilidades de ser e estar na universidade pública.

Palavras-chave: Saberes docentes; Identidade; Experiência; Formação docente;

In search of the construction of other teaching knowledge in experiences during the supervised teaching internship: an experience report

The purpose of this text aims to describe an experience report during the supervised teaching internship. The objective of the text is to punctuate discussions about other teaching knowledge based on the relationships established with the classes and with the teacher of the General Didactics subject at undergraduate level. As a methodological possibility, we used a descriptive approach with a qualitative approach. In this way, the knowledge acquired during the internship revealed other knowledge, other relationships, other identities and other possibilities of being at the public university.

Keywords: Teaching knowledge; Identity; Experience; Teacher training;

INTRODUÇÃO

Este texto narra as experiências vividas durante o estágio supervisionado de docência produzidas com as turmas do curso de Licenciatura Plena em Ciências – Biologia e Química e   Licenciatura Plena em Ciências – Matemática e Física, no Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), campos Coari-AM, através das observações e das atividades práticas desenvolvidas pela mestranda Antonia Fernanda Dutra Pinto do curso de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Humanidades da Universidade Federal do Amazonas do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), desenvolvidas na disciplina Estágio de Docência sob a orientação da professora Dra. Eliane Regina Batista.

As atividades do estágio foram realizadas na disciplina Didática Geral, ministrada pela professora Dra. Nara Maciel Falcão Lima, com a duração de 30 (trinta) horas. O abjetivo da disciplina estava direcionado a refletir sobre os fundamentos teórico-metodológicos da educação e suas implicações na formação e nas práticas educativas dos educadores e as influências na elaboração do planejamento educacional.

Quanto a ementa, buscou-se os elementos que constituem o processo didático: contextualização histórico-social da educação. Concepções didático-pedagógicas e suas implicações no processo ensino-aprendizagem. A formação do educador e o compromisso com a transformação social. Planejamento educacional (níveis, etapas, tipos, componentes e operacionalização).

É evidente que o planejamento educacional é uma das atribuições do profissional da educação. Planejar exige tempo, escolhas, dedicação, organização, e sobretudo, é um ato técnico que busca direcionar o fazer docente e as atividades educacionais para atingir os objetivos propostos.

Cabe aqui mencionar a importante contribuição que encontrei na produção acadêmica de Behrend e Garcia (2012, p. 62), ambas escrevem que “[…] planejar implica uma intencionalidade e se constitui como uma prática contínua e integrada ao processo de ensino e aprendizagem”.  No que se refere a proposta do planejamento educacional, logo penso que esta ferramenta possibilita a fluidez no trabalho docente, ele busca dialogar com outras possibilidades na produção do conhecimento, para não o engessar, não o tornar fixo e acabado.

Com o objetivo de evidenciar a fluidez das vivências durante o estágio, nesta escrita, procurei narrar outras possibilidades de ser e estar na universidade pública, como mestranda, experimentei e vivenciei a docência com outras lentes, sob outro olhar, em outra modalidade de ensino, no ensino superior a nível de graduação nos cursos de licenciaturas.

Assim, proponho trazer os escritos de Larrosa (2022, p. 26 e 27) que em seus escritos argumenta que “ […] o sujeito da experiência tem algo desse lugar fascinante que se expõe atravessando um espaço indeterminado e perigoso, pondo-se nele à prova e buscando nele sua oportunidade, sua ocasião” para viver outras travessias de vida que me trouxeram outros significados permitindo tempo de escuta e reflexões outras sobre o ser, viver e estar sempre disposta a outros aprendizados nesse processo fluído de desconstrução e reconstrução do eu que a própria vida proporciona a cada um de nós.

METODOLOGIA

Para isto, o presente texto apresenta uma descrição das atividades vivenciadas durante as 30 (trinta) horas de estágio supervisionado de docência, no período de 29/08/22 a 25/08/22. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa que adotou a metodologia descritiva para relatar as atividades propostas, sendo elas: planejamento, observação, regência e avaliação. Das 30 (trinta) horas, foram destinadas 06 (seis) horas de planejamento, 10 (dez) horas de observação, 10 (dez) horas disponibilizadas para regência de acordo com as datas preestabelecidas na ementa da disciplina e 04 (quatro) horas para os momentos de avaliação.

 De acordo com Nunes, Nascimento e Luz (2016, p. 146) a pesquisa descritiva “inclui um estudo observacional, onde se compara dois grupos similares, sendo assim, o processo descritivo visa à identificação, registro e análise das características, fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo”. Partindo da perspectiva da pesquisa descritiva, posso destacar que ela possibilita outros olhares sobre os caminhos percorridos.

A bibliografia de apoio utilizada nas aulas foram as disponibilizadas conforme o PCC do Curso, e o disposto no Inciso IV, Art. 13, da Resolução n° 020/2019 de 16/12/2019 para o curso de Licenciatura Plena em Ciências – Biologia e Química (GANDIN, 2009); (FAZENDA, 2007); (PERRENOUD, 1999); (BORDENAVE, 2011); (CANDAU, 2007); (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2015) e (TOSI, 2001) e para o curso de Licenciatura Plena em Ciências – Matemática e Física (ARANHA, 2006); (FREIRE, 2013); (GANDIN e CRUZ, 2011); (FREIRE, 1987); (GADOTI, 2011); (HAYDT, 2006); (LIMA, 2001) e (VEIGA, 1989).

RESULTADOS E DISCUSSÕES DAS ATIVIDADES

Do planejamento

Inicialmente, passei a estabelecer contato via Whatsapp com a professora responsável pela disciplina Didática Geral, fiz minha apresentação virtualmente e neste mesmo canal, marcamos nosso primeiro encontro pessoal que ocorreu na sua sala, no Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), localizado a Avenida do Futuro, 315 no município de Coari-AM.

Nosso encontro foi realizado dia 27/07/2022, as 9h e 30 min, com a professora a Dra. Nara Maciel Falcão Lima, onde dialogamos sobre as orientações existentes na ementa da disciplina e o planejamento das atividades que seriam desenvolvidas durante o período do estágio nas turmas do curso de Licenciatura Plena em Ciências – Biologia e Química, no turno matutino e   Licenciatura Plena em Ciências – Matemática e Física no turno noturno.

Logo, dividimos as horas destinadas ao planejamento, a observação, a regência e a avaliação conforme as datas preestabelecidas na ementa: 06 (seis) horas para planejamento, 10 (dez) horas de observação, 10 (dez) horas de regência e 04 (quatro) horas de avaliação, totalizando 30h de estágio supervisionado de docência.

Da observação

As atividades de observação foram produzidas na turma do curso de Licenciatura Plena em Ciências – Biologia e Química, no horário de 9:00h às 11:00h, em dois dias da semana (segunda-feira e quarta-feira) e no curso de Licenciatura Plena em Ciências – Matemática e Física, no horário de 18:30h às 20:30h, em dois dias da semana (segunda-feira e sexta-feira).

Quando passei a vivenciar a o ambiente universitário, como estagiária e aluna de mestrado, pude estabelecer outras relações que me ajudaram na produção de outros saberes, ao mesmo tempo, percebi que naquele espaço pulsa conhecimentos específicos e ferramentas metodológicas que colaboram para a formação de futuros professores (as).

Interessante pontuar, que nestas vivências, foram inspiradoras a didática, a postura e a metodologia aplicada pela professora que ministrou a disciplina. Ressalto ainda, todo seu conhecimento sobre os temas abordados durante as aulas, as relações que ela estabeleceu com os (as) alunos (as), domínio de conteúdo e a experiência na área de atuação. Seu modo de ser e estar na universidade, na condição de professora, possibilitaram momentos de escuta, discussões e de muito aprendizado.

As atividades práticas foram realizadas em grupo, onde os (as) discentes aplicaram uma entrevista com profissionais atuantes nas escolas públicas ou privadas do município de Coari, das modalidades de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio para verificar como é feito o planejamento anual, semestral e diário, bem como, os documentos que norteiam a produção dos planos. Posteriormente, foi realizada a socialização das entrevistas em sala de aula.

Em outro momento, a professora solicitou dos (as) acadêmicos (as) livros didáticos das modalidades de ensino da educação básica para que fossem produzidos, em sala de aula, modelos de planos anuais, semestrais e diários.

Foram nesses momentos que passei a refletir sobre minha prática docente, atuo como professora da rede pública do estado do Amazonas, no Ensino Fundamental I, transito pelos componentes curriculares de língua portuguesa e matemática com crianças do 5º ano. Naquele instante, vivenciei deslocamentos e ressignificações na produção da minha identidade docente, mulher, amazônica e pesquisadora em produção.

Nos caminhos desses deslocamentos e ressignificações “[…] as posições que assumimos e com as quais nos identificamos constituem nossas identidades” (Woodward, 2000, p. 55) na compreensão de que é possível entender o nosso lugar como algo capaz de produzir outras identidades, outros sujeitos, sempre em busca de tudo aquilo que nos move.

Da regência

As experiências de vida e de docência caminharam comigo durante as vivências no estágio com as turmas dos cursos de licenciaturas. Foram aproximações que me possibilitam perceber, a partir de Larrosa (2022, p. 68) que “[…] a experiência é atenção, escuta, abertura, disponibilidade, sensibilidade, exposição”, produzindo assim, um sujeito múltiplo e flutuante.

Nestas circunstancias, segui a mesma metodologia utilizada pela professora responsável, com a aplicação de aulas expositivo-dialogadas com o auxílio de Datashow e notebook para projeção dos slides, imagens e vídeos dos conteúdos referentes ao planejamento educacional.

Depois das aulas teóricas, foi realizada uma roda de conversa, onde dialogamos sobre as possíveis dúvidas dos (as) discentes sobre a produção de planos didáticos, a importância dos objetivos, da metodologia, da seleção dos conteúdos, o tempo de aula, os recursos didáticos e as atividades a serem desenvolvidas.

Da avaliação

As avaliações foram realizadas a partir da participação na pesquisa de campo referente a entrevista e a socialização dos dados produzidos, como também, a participação nos diálogos em sala de aula e a produção dos planos anuais, semestrais e diários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio supervisionado de docência foi um espaço de outras possibilidades, mostrou-me outras ferramentas, outros elementos e novos movimentos escolares que se constituíram na minha identidade de professora e pesquisadora. Foram aproximações que desconstruíram posicionamentos arraigados sobre a produção de conhecimento/saberes na sala de aula de uma universidade pública.

Neste espaço, pude estabelecer outras relações, com os (as) futuros (as) colegas de profissão e com a professora que ministrou a disciplina, com eles eu aprendi mais sobre ser professora da rede pública do interior do Amazonas, dialoguei sobre minhas experiencias com as crianças do Ensino Fundamental I, sobre os modos de ser e estar na escola pública, sobre os jeitos de produzir o planejamento anual, semestral, quinzenal e diário, bem como, ele é flexível e fluído.

Estas vivências abriram uma janela para eu olhar e perceber a docência universitária de outro jeito, romperam com a insegurança que eu tinha de atuar e estar com outros sujeitos (adultos) que me permitiram vislumbrar outros caminhos na educação, como professora universitária, constituindo minha identidade  docente.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) nos cursos de Licenciatura Plena em Ciências – Biologia e Química e   Licenciatura Plena em Ciências – Matemática e Física, campos Coari-AM, a professora Dra. Nara Maciel Falcão Lima pela oportunidade de fazer o meu estágio em docência. E ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Humanidades (PPGECH).

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.

BEHREND, Danielle Monteiro; GARCIA, Narjara Mendes. CONSIDERAÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO DA PRÁTICA EDUCATIVA. In: BEHREND, Danielle Monteiro; GARCIA, Narjara Mendes (Orgs.). Contribuições da Didática para a construção dos Saberes Pedagógicos. Coleção Cadernos Pedagógicos da EaD. Volume 4. Editora da FURG: Rio Grande, 2012, p. 59-62.

BORDENAVE, J. D; PEREIRA, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 28 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

CANDAU, V. M. (Org.). A didática em questão. 27 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

FAZENDA, I. C. A. (Org.). Didática e interdisciplinaridade. 12 ed. Campinas, SP: Papirus, 2007.

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GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. 16. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2011.

GANDIN, D. Planejamento como prática educativa. 17 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

GANDIN, Danilo; CRUZ, Carlos Henrique Carrilho. Planejamento na sala de aula. 13. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

GHIRALDELLI JÚNIOR, P. História da educação brasileira. 5 ed. São Paulo, SP: Cortez, 2015.

HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de didática geral. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006.

HOFFMANN, J. M. L. Avaliar: respeitar primeiro, educar depois. Porto Alegre: Mediação, 2008.

LARROSA, Jorge. Tremores: Escritos sobre a experiência. 1. ed., 6. Reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.

LIMA, Adriana de Oliveira. Avaliação escolar: julgamento x construção. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

NUNES, Ginete Cavalcante; NASCIMENTO, Maria Cristina Delmondes do; LUZ, Maria Aparecida Carvalho Alencar. Pesquisa científica: conceitos básicos. Ano 10, No. 29. Fevereiro/2016-ISSN 1981-1179. Edição eletrônica disponível em; https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/390/527. Acesso em 09 de jul. de 2024.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

TOSI, M. R. Didática geral: um olhar para o futuro. 2 ed., ref. e atual. Campinas, SP: Alínea, 2001.

VEIGA, Lima Passos Alencastro. A prática pedagógica do professor de didática. Campinas, SP: Papirus, 1989.

WOODWARD, Kathryh. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: A perspectiva dos Estudos Culturais. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.


* Professora graduada em Normal Superior (UEA), com especialização em Psicopedagogia pela Universidade Estácio de Sá e Mestra em Ensino de Ciências e Humanidades. Email: fdutra2013@gmail.com Informações profissionais e acadêmicas no endereço:  http://lattes.cnpq.br/2022482869634934

* Professora orientadora Doutora em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)-Campo Grande-Mato Grosso do Sul. Email: rozanealonso@ufam.edu.br  Informações profissionais e acadêmicas no endereço: http://lattes.cnpq.br/7271103372811887.

Como citar: PINTO, Antonia Fernanda Dutra; ALVES, Rozane Alonso. Em busca da construção de outros saberes docentes nas vivências durante o estágio supervisionado de docência: um relato de experiência.

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