Adilson Luiz Gonçalves Colunistas

ANTONIO BANDERAS E O EMPREENDEDORISMO

Antonio Banderas, em uma entrevista que não foi com o vampiro, comentou que pesquisa realizada em universidades dos EUA apontou que 75% dos estudantes consultados pretendiam criar seus próprios negócios, enquanto que na Espanha, estudo similar concluiu que 75% dos universitários cogitavam ingressar no serviço público.

Alguns podem querer “queimar” Banderas por essa entrevista.

É possível ser empreendedor também no setor público?

Sim, se bem que as impedâncias são diferentes.

Um empreendedor privado tem vida mais atribulada, às vezes à beira de um ataque de nervos: riscos de mercado, obrigações perante o setor público… Porém, sua atuação é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico de um país.

Sendo competente, esforçado e inovador, poderá enriquecer!

Já quem opta pelo serviço público corre o risco da estagnação por limitações impostas ao seu desenvolvimento profissional, em função de interesses político-partidários.

Banderas elogiou o espírito empreendedor que é tradição na formação acadêmica e cultural dos EUA – sentiu isso na pele que habita -, criticando a visão corrente em seu país de origem, que denota uma característica que é comum a outros países latinos, sobretudo em regimes que são ou pretendem ser autocráticos: Estados “inchados”.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) definiu em sua obra “Do Contrato Social” a importância do Estado como regulador e protetor da sociedade. Assim, sua importância é inegável. No entanto, é fundamental que essa regulação e proteção não se transforme em engessamento ao empreendedorismo privado. Infelizmente, isso acaba ocorrendo, sobretudo quando quem assume o Estado tem perfil centralizador e autoritário, embasado em ideologias radicais, que incluam a doutrinação da juventude e a repressão a qualquer oposição, em nome da manutenção do poder e a eternização de uma elite burocrática.

Ser empreendedor é uma condição que deveria ser natural do ser humano. Porém, algumas ideologias criticam o empreendedorismo, por associá-lo ao capitalismo.

Lembro de episódios em uma universidade pública, em que o acesso a palestras sobre empreendedorismo (2022) e a uma feira de universidades israelenses (2023) foi prejudicado por manifestantes radicais, denotando influência político-partidária em suas ações (doutrinação da juventude). Coisas da democracia relativa… Ou seria seletiva?

Qual a expectativa desse tipo de estudante? Será atuar como empreendedor privado, gerando empregos, tributos e desenvolvimento tecnológico? Ou orbitar o poder como militante político, na expectativa de ser nomeado para cargos públicos quando e enquanto seus líderes estiverem no poder, sendo remunerados pelos tributos pagos por contribuintes, sobretudo por quem empreende e gera empregos, acreditando que aumentar impostos é a solução para tudo?

É certo que não há regra sem exceção. O problema é quando a exceção vira regra.

O empreendedorismo precisa ser incentivado nos setores público e privado, pois ambos necessitam de profissionais competentes, motivados e continuamente aprimorados.

Assim, quem sabe um dia, o empreendedorismo se torne uma regra universal. Afinal, todos precisam ser empreendedores no melhor interesse próprio e da sociedade.

Nesse tempo, talvez tenhamos mais estudantes pensando em como poderão contribuir efetivamente com suas profissões para a evolução da sociedade, sem preconceitos, proselitismos, radicalismos ideológicos ou oportunismos.

Para tanto, quem forma as novas gerações também deve estar isento de preconceitos e da tentação deletéria de doutrinar segundo suas crenças e modismos, tendo como bandeira única ensinar suas matérias e fomentar a autonomia de pensamento, com base em princípios holísticos e conciliadores.

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

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