APESAR DE VOCÊS…
Neiva Pavesi
Finalmente chega-se a um consenso: a educação começa em casa. Finalmente devolve-se à família a responsabilidade de iniciar a educação das crianças. Finalmente a escola pode retomar seu papel de parceira do processo educativo e livrar-se do peso enorme de ser apontada como única responsável por ele. Quem ama educa, protege e sabe que a educação é um processo contínuo que começa no útero materno, continua no berço, nos primeiros passos, na primeira infância; que nesse período se alicerça o futuro cidadão; que a transmissão de valores, a estrutura moral e ética do indivíduo é, essencialmente, responsabilidade da família. Tal compromisso não pode ser delegado à escola e, sim, somado ao dela. O descompromisso de alguns pais tem sido nefasto à própria criança, à família e à comunidade.
A escola recebe a criança, por mais nova que seja, com uma história de vida já iniciada que poderá ser complementada mas não mudada, porque vivências positivas ou negativas deixam marcas. Entendemos a educação como um processo de mão dupla: a criança transita pelos ambientes familiar e escolar, durante grande parte de sua vida. As duas instituições sociais – família e escola – precisam usar a mesma linguagem, caso contrário a criança perde-se num labirinto de contradições. Assim, não adianta a escola ensinar que mentir não é atitude correta se, em casa, o pai, não querendo falar com alguém, dá o recado: “diga que não estou”.
Que força tem a escola, especialmente nos dias de hoje, sem o apoio da família? Como a família se sustenta sem o apoio da escola? A desestruturação social que atingiu a família chegou à escola e, mais uma vez, ameaça nossos filhos. A união de educadores – pais e professores–dará a segurança necessária ao desenvolvimento intelectual, ético e moral dos futuros cidadãos.
Nesta crise vergonhosa que assola o país, a parceria família-escola é necessária, mais do que nunca, para proteger nossos filhos dos respingos de tanta lama. A corrupção – cancro que corrói a sociedade brasileira desde o ano 1.500 – jamais se sobreporá à estrutura familiar e escolar desde que pais e professores cerrem fileiras pela valorização do ser humano como indivíduo ético e moral. Assim, os educandos entenderão que o Brasil é muito maior que os acontecimentos de hoje. Entenderão que a nação brasileira jamais deve ser nivelada por baixo e que o povo brasileiro não é esse lixo que, ostensiva e diariamente, é jogado na mídia.
Decepções e frustrações fazem parte da aprendizagem de vida de todos nós. Não podemos controlar o momento atual, essa mutação irreversível onde o vento da mudança joga no ar toda a sujeira do mundo. Mas, com a participação da família e da escola nossos jovens superarão esse período difícil e dele sairão fortalecidos e capazes de grandes realizações. A recompensa por cumprirmos nossa responsabilidade é o brilho da dignidade que, em momento de frustração ou decepção, pode parecer NADA, porém, a longo prazo, é só o que importa para a nova sociedade que surgirá.
Como bem disse Chico Buarque “Apesar de você (s), amanhã há de ser outro dia…”
Neiva Pavesi é educadora, escritora e promotora de leitura.