Diogo Lüders Fernandes[1]
Poliana Fabíula Cardozo[2]
Ronaldo Ferreira Maganhotto[3]
Vive-se hoje em um mundo transformado por diversas modificações, onde a dúvida e o medo são uma constante, sobre o futuro. Segundo Trigo (2002) as alterações tornam desafiadoras as tentativas de se prever tendências para o futuro, pois o terrorismo, os conflitos políticos e sociais, as crises na economia e diversos outros fatores influenciam diretamente em toda a sociedade neste início de século. As novas tecnologias e a dinâmica econômica e política aceleraram os processos de mudanças criando um clima de incertezas no cenário mundial. Diante deste quadro inseguro percebe-se que as pessoas estão a cada dia que passa mais independentes dos contatos e das relações interpessoais, gerando uma certa carência de proximidade devido o predomínio deste ambiente hostil. No entanto nota-se que o ser humano nos últimos anos está se preocupando com este cenário e, busca formas de minimizar os problemas sociais, frutos de tal realidade. Com intuito de resgatar e por em prática a proximidade social alguns autores se reportam a conceitos comuns e valorosos presentes na antigüidade, mas que se perderam com o passar dos anos. Assim, temas como a hospitalidade, a conversação e a comunicação humana, a identidade cultural, a tradição e os rituais ganham nova atualidade e interesse.
A hospitalidade na idade média era muito mais expressiva, o hábito de acolher as pessoas em deslocamento estava ligado ao dever social, dever religioso e ou de caridade cristã. Após a Revolução Industrial a hospitalidade transforma-se em negócio para atender a classe burguesa, que exigia boas acomodações durante suas viagens. Com os benefícios tecnológicos este tipo de atividade se expande e se aprimora, com foco na hotelaria e na restauração, de forma que o próprio termo hospitalidade se confunde com hotelaria. A palavra hospitalidade é derivada hospitalitas que hospitalitatis do latim, que significa hospedar, acolher, amabilidade e gentileza. Neste contexto percebe-se sua complexidade que é intrínseco ao ato de dar, receber e retribuir.
Desta forma, despertando para esta realidade as gestões de alguns setores, principalmente o de serviços estão aplicando a hospitalidade como elemento diferencial. Tradicionalmente têm-se duas escolas de hospitalidade a francesa e a americana, a primeira se interessa pela hospitalidade doméstica e pública com um atendimento esmerado e personalizado enquanto a segunda baseada na hospitalidade comercial, prática e automatizada legitimada por contratos. O sensato é conseguir instituir uma mescla priorizando os aspectos positivos das diferentes bases formulando, assim, um modelo de hospitalidade imparcial e eficiente para nossa realidade. Porém não adianta manter a tradição da hospedagem doméstica e a hospedagem comercial da prestação de serviço se não tiver solidificado a gestão da hospitalidade pública. Por exemplo, quando se recebe em casas ou como funcionários de hotel, nem sempre se tem consciência de que o espaço real da hospitalidade além da casa ou hotel é a cidade.
Segundo Guerrier (2000), a hospitalidade em si é um fenômeno muito mais amplo, que não se restringe a oferta, ao visitante, de abrigo e alimento, mas sim ao ato de acolher, considerado em toda a sua amplitude. Envolve um amplo conjunto de estruturas, serviços e atitudes que, intrinsecamente relacionados, proporcionam bem estar ao hóspede. Esses elementos que a compreendem, tornam alguns lugares mais hospitaleiros do que os outros e isso se dá em função as variadas dimensões socioespaciais.
Como levantado no início do texto o momento atual é de transição de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços, onde o turismo desponta como a atividade de serviço de maior expressão e potencialidade.
Segundo Moesch (2002, p. 9) o turismo é uma combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, em cuja composição integram-se uma prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações interculturais. O somatório desta dinâmica sociocultural gera um fenômeno, recheado de objetividade/subjetividade, consumido por milhões de pessoas, com síntese: produto turístico.
No entanto para o desenvolvimento da atividade turística deve-se primeiramente priorizar o planejamento da localidade ou empreendimento turístico e posteriormente trabalhar de forma pertinente sua gestão. O planejamento e gestão aplicada ao turismo e a hospitalidade deve abordar uma série de fatores que serão descritos a seguir em formas de perguntas.
Até quando se pensará somente nos que viajam, sem pensar também nos que recebem? É justo colocar todo ônus do crescimento econômico advindo da atividade turística nas costas da população residente? Quando a reflexão vai avançar no sentido das patologias de cidades e condomínios de veraneio que esquizofrenicamente se agitam em algumas épocas do ano para mais tarde se transformarem em locais fantasmas na maior parte do ano? Quando a sociedade irá reagir contra dilapidação de recursos? Como valorizar a comunidade local se os moradores muitas vezes sentem-se agredidos pelo comportamento dos visitantes que muitas vezes não foram convidados?
Os estudos da hospitalidade querem e precisam resgatar, sobretudo na hospitalidade comercial, as verdadeiras virtudes da hospitalidade, com todos os desafios que essa diretriz implica, quais sejam: repensar as cargas turísticas, os receptivos locais, a formação do pessoal envolvido e uma gestão que auxilie as comunidades a pensar um estilo de hospitalidade e que eduque os turistas para a hospitalidade.
Desta forma a hospitalidade de um povo, como se pode perceber com as informações anteriores, resulta de todo o processo de desenvolvimento e em todos os seus aspectos.
Referências
GUERRIER, Yvonne. Comportamento organizacional em hotéis e restaurantes: uma perspectiva internacional. São Paulo: Futura, 2000.
MOESCH, Marutschka Martini. A produção do saber turístico. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2002.
TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. A sociedade pós-industrial e o profissional em turismo. 6.ed. Campinas: Papirus, 2002.
[1] Bacharel e Mestre em Turismo (UEPG/UNIVALI). Docente pesquisador da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro/Irati) para o curso de turismo. E-mail: diggtur@yahoo.com.br
[2] Bacharel e Mestre em Turismo (Unioeste/UCS); Doutoranda em Geografia (UFPR). Docente e pesquisadora da Universidade Estadual do Cento-Oeste (Irati/Paraná) para o curso de turismo. e-mail: polianacardozo@yahoo.com.br
[3] Bacharel em Turismo (UEPG) e Mestre em Geografia (UFPR). Docente e pesquisador da Universidade Estadual do Cento-Oeste (Irati/Paraná) para o curso de turismo. e-mail: ronaldomaganhotto@yahoo.com.br.