“Foi, foi, foi ele…” era um dos bordões de Sílvio Luiz, que nos deixou aos 89 anos vividos intensamente, dentro e fora dos campos esportivos.
Vai se juntar a outros craques desse mister, como Luciano do Valle, Geraldo José de Almeida, Walter Abrahão, Luiz Noriega, Raul Tabajara e tantos outros que, mesmo quando o jogo estava enfadonho, conseguiam animar e divertir quem assistia.
Já tenho alguns “quilômetros rodados” e sempre fui “rato de televisão” desde que a aquele aparelho Philco de 23”, que tinha um indiozinho com arco e flecha no canto inferior direito, entrou na casa de meus pais, em 1963.
A primeira vez que vi Sílvio Luiz foi num programa “Quem tem medo da verdade?”, que a TV Record veiculou entre 1968 e 1971. Ele era um dos que crivava os infelizes convidados com perguntas capciosas.
Foi por essa época, em 1969, que ele casou com uma das melhores cantoras populares daqueles tempos, em minha opinião, de sempre: Márcia Elizabeth Barbosa Machado de Souza, ou, simplesmente, Márcia, intérprete de músicas como “Eu e a Brisa”, “Ronda” e “Veneno”, para citar alguns de seus sucessos.
Sílvio também atuava como bandeirinha e árbitro de futebol, embora sem maiores consequências, a não ser para os times. Outra atividade foi a de repórter de campo.
Soube há pouco que ele também atuara como ator, na década de 1960.
Mas seu maior destaque, ao menos para mim, foi quando passou a narrar jogos e apresentar programas de entrevistas sobre esportes em geral.
Sua narração era plena de bordões, tais como: “Olho no lance…”, “Pelas barbas do Profeta!”, “Pelo amor dos meus filhinhos!”, também recheada de piadas e comentários hilários, tendo o jornalista Flávio Prado como seu parceiro por longos anos.
Entre 1982 e 1986, ele comandou o programa “Clube dos Esportistas”, ainda na TV Record.
Era imperdível!
Mesclava entrevistas descontraídas, apresentações musicais e “aprontos” de Sílvio com colegas e participantes, que retribuíam na mesma “moeda”. Nem sempre era para menores, além de ser quase sempre politicamente incorreto, pelos padrões atuais. Ou seja, tudo era motivo de gozação, mesmo quando o assunto era sério.
O time de repórteres era ótimo, sendo que muitos deles permanecem com destaque na mídia, aliás, como ele.
Sílvio chegou a concorrer à Presidência da Federação Paulista de Futebol. Sabia que não tinha a menor chance de vencer, mas usava o ato como forma de protesto irônico, com direito a chegar de charrete, vestido com fraque e cartola, ao lado Flávio Prado, seu candidato a vice.
Não sei se ele poderia ser considerado um inovador, mas gostava de fugir de padrões e formalidades, como brincar com os gigantes do Harlen Globetrotters, com seus menos de 1,70 m.
Consta que ele passou mal na final do Campeonato Paulista de 2024, entre Palmeiras e Santos.
Com certeza, não por ser palmeirense ou santista, pois dizia ser torcedor do Botafogo/RJ. Eu também teria passado mal, pela segunda vez, por ser santista. Por isso não quis nem ver o jogo.
Só soube de seu estado de saúde ao assistir Ponte Preta x Santos, em 15/05/2024, quando locutor, comentaristas e repórteres disseram que estavam torcendo para que ele logo saísse do “Departamento Médico” e voltasse ao “jogo”.
Infelizmente, o Juiz lá de cima resolveu que não haveria prorrogação, e deu o apito final…
Sílvio será lembrado pela irreverência e pela longevidade ativa e bem humorada.
Também deveria haver uma placa para os grandes narradores esportivos!
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras