EDUCOMUNICAÇÃO: POSSIBILIDADES E NOVAS PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS
*Nádia Cristina Rodrigues da Conceição de Toledo
Resumo: O presente texto tem o objetivo de apresentar uma reflexão referente às relações entre Educação e Comunicação e a derivação atualmente discutida como Educomunicação a partir da utilização da Rádio na escola. A metodologia utilizada para a sua elaboração foi a pesquisa bibliográfica. Após a realização das leituras selecionadas, foi possível compreender que os processos comunicativos são próprios da natureza humana e que neste sentido ainda há lugar para o rádio na sociedade e na escola mesmo em tempos de culturas digitais. Esta decisão tem relação direta com os objetivos de aprendizagem, pois na perspectiva da Educomunicação o uso de Tecnologias da Informação no ambiente escolar devem considerar a leitura crítica da mídia, bem como o uso adequado do instrumento pertinente para aquela situação.
Palavras-Chave: Educação. Comunicação. Rádio. Educomunicação.
Abstract: This text aims to present a reflection on the relations between Education and Communication and the derivation currently discussed as Educommunication depart from the use of Radio in school. The methodology used for its elaboration was the bibliographical research. After the selected readings, it was possible to understand that the communicative processes are proper to human nature and that in this sense there is still room for radio in society and school even in times of digital cultures. This decision is directly related to the learning objectives, because in the perspective of Educommunication the use of Information Technologies in the school environment should consider the critical reading of the media, as well as the appropriate use of the relevant instrument for that situation.
Keywords: Education. Communication. Radio. Educommunication.
Introdução
Em tempos recentes, pesquisadores e pesquisadoras na área de educação têm discutido amplamente sobre a difusão das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) na sociedade e nas escolas. (PRETTO, 2006; (LÉVY, 1993). Nessa direção, o conhecimento desses recursos pode significar mais uma possibilidade de potencializar a produção de aprendizagens significativas. Partindo deste princípio é que delineamos nossa indagação inicial enquanto problema de estudo: há lugar ainda para contribuições da rádio como emissora da comunicação na escola considerando o advento das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação?
Nesta direção, o presente trabalho trata de um recorte resultante de um estudo desenvolvido na Dissertação de Mestrado: “Culturas da escola por meio dos sons do Rádio: linguagens alternativas em uma escola do campo em Ji-Paraná – Rondônia”. Foi realizada na Universidade Federal de Rondônia por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (PPGEEProf) – Mestrado e Doutorado Profissional (TOLEDO, 2018).
De certa forma constitui uma ampliação da pesquisa produzida no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma Especialização Lato Sensu (TOLEDO, 2006) que também discutiu processos comunicativos com foco nos aspectos históricos que envolveram o surgimento das primeiras emissoras de Rádio em Ji-Paraná, estado de Rondônia, tendo em vista a relação com a minha primeira graduação que foi na área do jornalismo.
Neste texto, nosso propósito é discutir a Comunicação enquanto recurso humano em dialogia com a Educação, sintetizada no termo Educomunicação e as possibilidades do uso da Rádio em contexto escolar mesmo em tempos de internet. O procedimento metodológico adotado foi a pesquisa bibliográfica “[…] um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. […] representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações”. (LAKATOS; MARCONI, 2008, p. 158).
Comunicação e Educação – reflexões iniciais
No uso das ferramentas da mídia (rádio, tv, jornal, revista, mural, mídias sociais), o aluno pode partir da leitura das mídias do universo em que vive para re-elaborar suas próprias leituras a partir da construção viva desse universo. Ao relatar uma história de seu bairro, de sua comunidade, de seus habitantes, passará a ter voz e conhecer novas possibilidades de diálogo. Dessa forma, ganha voz e transforma-se em um sujeito de sua própria história. (CALDAS; CAMARGOS, 2013, p. 3).
A comunicação entre as pessoas é algo que existe desde o início da humanidade. Acontece de diversas maneiras e meios e é através dela que podemos nos deslocar de um lugar para o outro, interagir e organizar grupos tanto para a constituição de uma comunidade familiar, escolar, religiosa ou de trabalho. Neste sentido, “Desde que se possa identificar a existência de grupos humanos, na pré-história mais remota, existe ‘comunicação’ social”. (BRAGA; CALAZANS, 2001, p. 14).
Deste modo, o ato de comunicar-se é inerente ao ser humano, dessa maneira podemos afirmar que só podemos compreender a comunicação como um recurso da linguagem onde há entendimento, vontade e disponibilidade para esta interação, pois na perspectiva freireana:
Comunicar é comunicar-se em torno do significado significante”. Dessa maneira, no ato de comunicar-se, não existe desinteressados. As pessoas estabelecem a comunicação entre si conforme suas necessidades e interesses. […]. O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicando-se, é que ela é diálogo, assim como o diálogo é comunicativo. (FREIRE, 1983, p. 46).
Outras concepções de comunicação enxergam neste processo possibilidades de coesão coletiva, como Matellart (2000, p. 6), por exemplo, onde a “[…] comunicação tem, […] a função de ‘religar’ os membros dispersos de uma comunidade distante e tirar de seu torpor civilizações adormecidas […]”. Assim, os (as) autores (as) nos fazem entender que a comunicação é uma possibilidade de diálogo e de troca de conhecimentos e informações com possibilidades de ampliação dos saberes. Nesse contexto, a Comunicação não é neutra, pois toma partido, defende determinados interesses, processo que exige Educação crítica para perceber o jogo destas intencionalidades:
[…] toda comunicação é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo e contra alguém, nem sempre claramente referido. Daí também o papel apurado que joga a ideologia na comunicação, ocultando verdades, mas também a própria ideologização no processo comunicativo. (FREIRE, 1996, p. 71).
Deste modo, foi possível interpretar que há especificidades entre Educação e Comunicação, cabendo a primeira definir e decidir sobre a segunda por meio de saberes importantes para todas as pessoas. É preciso considerar que a ampliação das possibilidades formativas e a Comunicação ocupam um lugar de veiculação desses conhecimentos, por meio da derivação conhecida como Educomunicação:
O conceito de educomunicação, surgido a partir de estudos fincados na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e difundido nas plataformas de interação de pesquisas de organizações como a Intercom, tem ganhado vertentes multiplicadoras de acepções acerca de sua definição primeira. (MESSIAS, 2015, p. 109).
O aprofundamento de leituras sobre as relações entre Educação e Comunicação produziram o termo “Educomunicação”, que abrange “[…] um conjunto das ações destinadas a integrar às práticas educativas o estudo sistemático dos sistemas de comunicação, […] criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos […]”. (SOARES, 2017, p. 23).
Nesta direção, a presença das Tecnologias de Comunicação (TIC’S) na escola representam a oportunidade de diminuir distâncias entre os ambientes escolares e das pessoas que circulam por eles, ressignificando essas relações e também e deste modo, “[…] criando sempre ambientes abertos e democráticos […]”. (SOARES, 2017, p. 25).
Partindo desse princípio, a presença da Rádio na Escola como recurso pedagógico no desenvolvimento de atividades dentro e fora da sala de aula nos coloca diante de dois campos de conhecimentos que se diferem em diversos pontos, mas que no entanto, se encontram a partir do momento em que o/a educador/a procura meios de dinamizar suas aulas. Estudos sobre o tema, reconhecem que a rádio tem “[…] servido historicamente à educação, mas parece ter atendido com eficiência as concepções mais conservadoras, como o processo centrado no professor-emissor, na transmissão de conteúdos […]” (ANDRELO, 2012, p. 139).
Em nossas reflexões compreendemos que a rádio na escola enquanto recurso pedagógico traz diversas contribuições que vão desde a melhor compreensão dos conteúdos, como recurso de entretenimento, pois permite a interação e a ampliação da comunicação entre os/as que frequentam o ambiente escolar. É importante lembrar que a rádio na escola deve ser utilizada não apenas como um vago recurso pedagógico ou de forma complementar sem relação direta com a temática estudada. Neste sentido, é necessário um amplo estudo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e suas contribuições formativas:
[…] Caso contrário, elas correm o risco de tornarem-se meros recursos didáticos para ensinar determinados conteúdos, sem que haja qualquer reflexão sobre suas características, ou mesmo serem encaradas como o fim do processo, em uma visão tecnicista da educação […]. (ANDRELO, 2012, p. 139).
Na perspectiva da educomunicação a utilização de Tecnologias de Informação na escola, podem acontecer de duas maneiras: “[…] A primeira delas pela leitura crítica da mídia e a segunda pelo uso das ferramentas da comunicação no processo de aprendizado. Um é complemento do outro”. (CALDAS;CAMARGO, 2013, p. 3). Um olhar crítico sobre a mídia significa, olhar sem paixão, verificar os erros e os acertos desse veículo, quais o pontos a serem acertados, comparando as diversas formas de se comunicar e os diversos veículos, para que o mesmo possa contribuir como meio formador de opinião crítica, pois:
Para a leitura crítica da mídia e do mundo é necessário um leitor atento, um leitor que não se limite à leitura de um veículo, mas de vários, para que possa comparar os conteúdos, as abordagens e as linguagens para só então fazer sua própria leitura de cenário de forma ampla, contextualizada e não fragmentada, ideologizada. (CALDAS;CAMARGO, 2013, p. 3).
Há necessidade de uma educação crítica que prepare as pessoas para o uso adequado das tecnologias. A utilização de vários recursos midiáticos, especialmente aqueles que atingem um número maior de pessoas “[…] deve acima de tudo favorecer […] o desenvolvimento do espírito crítico, criando um diálogo produtivo e politicamente emancipado, e ainda ampliar […] a capacidade de expressão […].” (CALDAS; CAMARGO, 2013, p. 3).
Numa época em que as fronteiras disciplinares e as barreiras departamentais são destituídas com o objetivo de promover a convergência no campo teórico, por meio de mecanismos interdisciplinares, a troca de experiências no campo universitário e a colaboração no campo da prática profissional, podem favorecer convergências para o desenvolvimento mais articulados destes campos do conhecimento.
Rádio e internet: diferenças que se completam?
Os novos recursos tecnológicos serviram apenas para animar uma educação cansada. Hoje as mudanças que estão ocorrendo exigem uma nova postura da escola, preocupada em formar um profissional, capaz de viver plenamente essa civilização da imagem e da informação. (PRETTO,1996, p. 103).
Assim como a internet e outas mídias, a rádio é um veículo para a disseminação de conteúdos, sejam eles informativos, comerciais ou de entretenimento. Em seus estudos sobre o assunto algumas leituras sustentam que: “Disseminar informação supõe tornar público a produção de conhecimentos gerados ou organizados por uma instituição. A noção de disseminação é comumente interpretada como equivalente a difusão ou mesmo de divulgação. […]”. (LARA; CONTI, 2003, p. 8). Nesse sentido, a internet não se difere do rádio na disseminação de conteúdos, no entanto o acesso a esse meio, a internet, por muitos grupos pode ser comprometido devido os custos dos equipamentos é o que afirma (LARA; CONTI. 2003).
Com a chegada da internet há quem diga que a rádio passou por diversos impactos e que nessa relação está em desvantagem. No entanto, considerando os poucos conhecimentos elaborados em minha trajetória, proponho alguns questionamentos: A rádio teve algum prejuízo depois da chegada da internet? As pessoas pararam de utilizar o rádio em seu cotidiano?
A consulta a dados de 2001 conforme pesquisas realizadas pelo IBGE na PNAD, que envolve Brasil, Grande Região e Unidade da Federação, os resultados foram os seguintes: no Brasil 88,3% dos domicílios tinham rádio, na Região Norte 75,12% e em Rondônia 77,26%. Os últimos resultados relacionados a mídia rádio são do ano de 2015 e mostra uma queda significativa da presença do mesmo nos domicílios.
No Brasil nesse período 69,23% dos domicílios possuíam rádio, na Região Norte 47,40% e em Rondônia 47,87%. Dados empíricos demostram que mesmo com a presença maior por parte da internet nos domicílios, as pessoas não deixaram de usar rádio, o que aconteceu foi que as emissoras estão conectadas na rede e transmitem sua programação em tempo real e essa presença é mais evidente no campo e interior das cidades principalmente na Região Norte. Nesse contexto o que pode ser observado é que “[…] A rádio é um meio de comunicação extraordinariamente rico, com uma narrativa singular e para muitos, fascinante. […]”. (CORDEIRO, 2004, p. 1).
Considerações Finais
A motivação para desenvolver esta reflexão tem relação com nossa primeira graduação, a Comunicação Social – Jornalismo. Em decorrência disso, quando ingressei no curso de Mestrado em Educação Escolar decidi estreitar as relações entre a Comunicação e a Educação por meio da expressão Educomunicação mediante o uso do rádio na escola.
Neste sentido, nossa intenção foi fazer uma discussão introdutória envolvendo a Comunicação em interface com a Educação, através da Educomunicação mediante as possibilidades da Rádio escolar em contextos digitais. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, ocasião em que buscamos aprofundar as leituras para uma melhor compreensão do fenômeno em questão.
Os resultados das leituras permitem inferir que mesmo com a presença da internet na realidade escolar e social, mesmo assim há espaço para o desenvolvimento de atividades comunicativas por meio do rádio. Uma decisão que precisa ser fundamentada a partir das escolhas pedagógicas, momento propício para avaliar qual o recurso tecnológico é o mais adequado e em algumas circunstâncias, o rádio poderá ser a melhor resposta.
Referências
ANDRELO, Roseane. O rádio a serviço da educação brasileira: uma história de nove décadas. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 47, p. 139-153 set., 2012.
BRAGA, José Luiz; CALAZANS, Regina. Comunicação e Educação: questões delicadas na interface. São Paulo: Hacker Editores, 2001.
CALDAS, Graça; CAMARGO, Vera Regina Toledo. Mídia na escola e a leitura do mundo: a educomunicação como incentivadora de novos conhecimentos. ComCiência, nº 154, 2013.
CORDEIRO, Paula. A rádio em Portugal: um pouco da história e perspectivas de evolução. 2004. Biblioteca on-line de ciências da comunicação. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/cordeiro-paula-radio-portugal.pdf Acesso fev. 2018.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 7. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LARA, Marilda Lopes Ginez de; CONTI, Vivaldo Luiz. Disseminação da informação e usuários. São Paulo em perspectiva, 17(3-4): 26-34, 2003.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.2. ed. São Paulo: editora 34, 1993.
LAKATOS, Eva Maria. MARCONI. Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. – 5. ed. – São Paulo: Atlas 2008.
MESSIAS, C. Educomunicação e transmidiação: considerações sobre audiência, protagonismo e ressignificações. In: NAGAMINI, E., org. Questões teóricas e formação profissional em comunicação e educação [online]. Ilhéus, BA: Editus, 2015.
PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola com/sem futuro. Campinas, SP: Papirus, 1996.
PRETTO, N. Cláudio da Costa. Tecnologias e novas educações. Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação. Revista Brasileira de Educação, v. 11 n. 31 jan./abr. 2006.
SOARES, Ismar de Oliveira. Mas, afinal, o que é educomunicação? Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/27.pdf Acesso em: 23 fev. 2018.
TOLEDO, Nádia Cristina Rodrigues da Conceição de. Origem e evolução do Rádio Ji- Paranaense. Monografia (Bacharelado em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.) Ji – Paraná – Rondônia, 2006.
TOLEDO, Nádia Cristina Rodrigues da Conceição de. Culturas da escola por meio dos sons do Rádio: linguagens alternativas em uma escola do campo em Ji-Paraná – Rondônia. 91f. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar). Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (PPGEEProf) – Mestrado e Doutorado Profissional. Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2018.
* Mestra em Educação Escolar pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Luterana do Brasil (2006). Graduanda em Pedagogia (UNIR)É professora da Prefeitura Municipal de Ji-Paraná e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia da Universidade Federal de Rondônia, Campus Ji-Paraná (GPEA).