Nair Lúcia de Britto
Vocação é o talento que Deus deu ao homem e que significa a missão que lhe cumprir na Terra. Mesmo que muitos obstáculos se interponham entre ele e o trabalho, segundo à sua vocação, nunca deve desistir; porque, se não realizar a missão que lhe foi predestinada não se sentirá feliz e realizado.
Beethoven era pobre e surdo, mas nada disso o importava quando queria compor uma obra. Ele buscava inspiração na Natureza e, embora não fosse religioso, sabia que quando estava compondo era Deus quem estava falando com ele.
Todo talento é um dom de Deus e, portanto, deve ser sempre voltado para o Bem, uma vez que Deus é a bondade suprema. É o elo entre o homem, Deus e seu Universo. Daí a razão dessa felicidade interior, quando se realiza um trabalho de acordo com o nosso talento.
Observem, por exemplo, numa orquestra sinfônica a expressão facial de cada músico. É uma expressão de felicidade e de paz porque, quando ele toca ou canta, está em contato direto com Deus e com seu universo. Nesse momento ele não percebe o mundo a sua volta, só a sua arte. E, através da arte, o músico transmite aos ouvintes a mesma sensação agradável; se conectados na mesma sintonia.
O homem, porém, comumente desvia-se da própria vocação influenciado pela opinião da família, da sociedade e pela necessidade de sobrevivência, que o levam a fazer escolhas erradas, que atendem suas necessidades materiais, mas não atendem às suas necessidades espirituais. Fica sempre aquela sensação de vazio, um descontentamento inexplicável à primeira vista, mas que no fundo tem uma razão de ser.
É que o homem só consegue se sentir em paz consigo mesmo se puder conciliar as necessidades materiais com suas necessidades espirituais. A vocação é uma força que vem de dentro da alma, que se transforma em uma grande vontade de realizar uma determinada tarefa e que, depois de realizada, proporciona uma gratificante sensação de felicidade. Se cada pessoa trabalhasse conforme seu talento o mundo seria maravilhoso e tudo funcionaria a contento.
Infelizmente muitas profissões não são valorizadas, o que obriga muitas pessoas talentosas procurarem outras profissões que lhe garantam apenas a sobrevivência, mas que as deixam frustradas, espiritualmente.
Enquanto não lhe aparece uma oportunidade, é imprescindível que a pessoa não abandone o seu talento; e procure conciliar a profissão que lhe dá sustento com a atividade que lhe dá prazer, até que possa se dedicar apenas àquela que realmente satisfaça seus anseios.
A insatisfação no trabalho que não corresponde ao seu verdadeiro talento é um aviso de Deus para que a pessoa corra atrás da profissão que seria sua verdadeira missão.
Já nos bancos escolares, os alunos deveriam ser analisados, psicologicamente, para que fosse constatada a vocação de cada um deles. E, depois do ensino básico, serem encaminhados aos cursos que, respectivamente, correspondessem às suas aptidões e interesse profissional. Acredito que obrigar os alunos a estudarem matérias alheias ao seu real interesse constitui uma agressão à natureza do aluno, à sua individualidade. O desrespeito à individualidade do aluno é uma das causas da evasão escolar.
Todas as profissões devem ser valorizadas porque todas são úteis e necessárias a todo mundo. É preciso corrigir esta lacuna, não só pela necessidade, mas por uma questão de justiça social e igualdade de direitos.
Há um trecho de um artigo escrito por Mercedes Marin que eu gostei e diz o seguinte:
“Você que está escolhendo sua profissão, faça-o baseado nas suas espectativas, na sua capacidade, confiando naquilo que você traz como ideal. Confie na sua capacidade, na sua experiência de vida, lembrando que qualquer momento é o momento de iniciarmos uma nova etapa de vida e de desenterrarmos os nossos talentos.”
“A nossa evolução espiritual se faz presente em nossas vidas quando o mundo interno encontra-se com a realidade externa, numa produção compartilhada: é a vida fazendo-se presente como obra de nossa genuína produção.”
No livro “Pensamento e Vida”, Chico Xavier explica:
“A Vocação é a soma dos reflexos de experiências que trazemos de outras vidas. É natural que muitas vezes sejamos iniciantes nesse ou naquele serviço.”
Cada espírito recebe no plano em que se encontra certa quota de recursos para honrar a Obra Divina e engrandecê-la.”
“Faça hoje o que é possível, que amanhã você estará fazendo o impossível! Querer é começar a fazer!” (São Francisco de Assis)