ADOLESCÊNCIA E MOBILIDADE: uso do telefone celular na escola
Rachel da Silva Bezerra*
Resumo: As questões sobre o uso do celular estão presentes desde a chegada dessa tecnologia na escola. A atual geração de adolescentes já tem como material individual. E é notória a crise causada pela presença indiscriminada deste aparelho na escola. Mas essa é uma via de mão única, não dá para voltar no tempo, é preciso ampliar o conhecimento sobre o telefone celular e suas perspectivas na educação. O presente artigo vem com reflexões que intencionam compor os debates sobre as possibilidades da telefonia móvel na educação escolar.
Palavras – chaves: Celular. Adolescência. Educação. Mobilidade.
Abstract: Questions about cell phone use are present since the arrival of this technology in school. The current generations of teenagers already have them almost as individual material. And one notes the crisis caused by indiscriminate presence of this device at school. But this is a one-way street, not to go back in time; we need to increase knowledge about cell phone and its prospects in education. This item comes with reflections that intend to expand the vision of possibilities of mobile telephony in school education.
Key – words: cell phone – adolescence – education – connectivity
Introdução
A partir da década de 1990 com a chegada do celular no Brasil e a forma de se comunicar e relacionar do brasileiro mudou. Desde então o uso dos telefones celulares entrou em voga na vida das pessoas. Já em 1996 surgiram os telefones inteligentes (os smartphones), os primeiros celulares multiusos que permitiam conexão com a internet. A telefonia móvel foi a mídia com aceitação mais rápida de todos os tempos.
Com a massificação das tecnologias de comunicação e em especial da telefonia móvel a interação entre as pessoas fica cada vez mais dinâmica.
As discussões envolvendo o uso do telefone celular existem desde a chegada deste ao ambiente escolar. E é notória a crise causada pela presença indiscriminada deste aparelho na escola. Mas essa é uma via de mão única, não da para voltar no tempo, é preciso ampliar o conhecimento sobre o telefone celular e suas possibilidades de uso na educação.
1 Adolescência e mídias na era digital brasileira
A relação dos adolescentes com as mídias acompanha estes durante toda sua evolução, desde os livros até hoje com os telefones celulares de última geração com toda sua multifuncionalidade. Segundo Strasbuger (1999) no século XX tudo que era novo e aguçasse a criança e o adolescente a enfrentar ou desobedecer às ordens dos adultos era definitivamente obstruído ou limitado.
Sabemos que a adolescência é uma fase de grandes transformações biopsicossociais na vida do ser humano, e as mídias estão cada vez mais presentes no cotidiano deles (adolescentes) causando impactos positivos e negativos que influenciam comportamentos e escolhas do presente e até da futura fase adulta.
Os nascidos a partir da década de 1990 aprendem a utilizar naturalmente as tecnologias antes de aprender a ler e escrever, considerados na literatura como nativos digitais. Refere-se a uma geração em que cedo teve acesso a ferramentas tecnológicas e desenvolveu habilidades de uso.
Existe uma relação muito estreita entre adolescentes e as mídias digitais, fato que não poderia ser diferente, pois adolescência é a fase da ebulição de hormônios, da necessidade de firmação no grupo, em que a socialização é fator incisivo no estar no mundo e no como estar nesse mundo, e as mídias digitais (internet, telefone celular, etc.) têm em suas tecnologias a característica marcante das possibilidades de comunicação, interação, informação imediata e compartilhamento de dados, o que vai de encontro com a necessidade do adolescente de conexão com os seus e com o mundo, e que não se tem nas mídias anteriores como a televisão, o rádio que é unidirecional.
Já a popularidade da internet com suas possibilidades de informação, comunicação em mão dupla, de criação de espaços de expressão emplacou de forma nunca antes vista entre as pessoas, e aqui em especial os adolescentes, que têm neste meio, opções de compartilhamento de ideias criativas, de comunicação sem uma exposição obrigatória.
Mas nada se compara ao advento dos telefones celulares e a evolução para os multifuncionais, e a possibilidade de mobilidade desse aparato tecnológico trouxe consigo problemas e desafios quando se trata de adolescentes, que precisam de orientações sobre uso responsável, exposição, segurança. Como nos diz Merije (2012, p.34), o importante agora é poder estar “sempre ligado”, em qualquer lugar. Companheiros inseparáveis de muitos adolescentes e adultos (que muitas vezes já os conhecem desde tenra idade) se tornou a conexão do ser humano com o mundo acompanhando suas mudanças ali ao alcance dos dedos.
E a afinidade desse grupo etário com as tecnologias digitais trás à tona a necessidade de se entender o comportamento dos adolescentes com a presença das mídias, em particular os telefones celulares e multifuncionais em seu cotidiano, seu uso no ambien2te escolar e possibilidades de incluir o uso desta tecnologia com propostas pedagógicas.
2 O uso pedagógico do celular: limites e possibilidades
A presença e uso das tecnologias digitais na sala de aula é um dos grandes desafios dos professores na era da informação e comunicação. Conhecê-las e abrir portas para a introdução das mesmas em sua prática pedagógica proporcionando diferentes formas de desenvolver os conteúdos não parece nada simples quando se fala de professores que não tiveram em sua formação a perspectiva de construir conhecimento em sala de aula, e sim, de levar informações fechadas para que os alunos possam recebê-las e tentar decorá-las.
Mas atualmente o que se vê são diferenças de gerações entre professores e os alunos, em especial aqui os adolescentes, que provocam fendas consideráveis entre as práticas pedagógicas tradicionais e contemporâneas. São adolescentes nascidos na era digital, conectados com o mundo através do telefone celular, com recursos de comunicação síncrona e assíncrona, áudio, imagem, vídeo, jogos, etc. ao alcance das mãos. Para muitos, essa tecnologia móvel já faz parte de seu material individual.
Paulo Freire (2011) não tem dúvidas sobre o uso da tecnologia favorecendo a curiosidade dos estudantes. Da mesma forma fala Merije (2012, P.38-44) citando Sugata Mitra2, nos diz que urge a mudança no modelo educacional vigente, que decorar informações levadas pelo professor para sala de aula já é ultrapassado e que tecnologia é algo que não se precisa ensinar para crianças e adolescentes, que o professor tem é que saber fazer boas perguntas para seus educandos.
A telefonia móvel é parte da evolução tecnológica, e foi a mais rapidamente aceita pela sociedade em geral, passando a frente do rádio e televisão. Utilizar os recursos do telefone celular, que são cada vez maiores com o advento dos smartphones (aparelhos multifuncionais) é um aprendizado que independe da escola, esta na verdade precisa buscar estratégias pedagógicas que insiram a linguagem da mobilidade no contexto escolar.
Desmotivação para aprender, falta de atrativos em geral são alguns desafios enfrentados pela comunidade escolar. Enquanto a escola se perde em sua função de que trato dar a informação, ao conhecimento, fora dela os adolescentes tem um mundo de possibilidades, muitas vezes de forma irresponsável, insegura e superficial.
2.1 Regras para uso do celular na escola
De acordo com a legislação brasileira, as escolas definem suas regras quanto a permitir ou proibir o telefone celular. Muitos veem na proibição a solução para o problema do uso indevido dos aparelhos portáteis. Não podemos ‘endeusar’ ou ‘diabolizar’ essa tecnologia como nos diria Paulo Freire (2011), o que precisamos é conhecê-la, seus limites e possibilidades de uso na educação e em especial, neste caso os adolescentes; e isso requer estudo, reflexão, debates, que vão tanger com outra questão, citada anteriormente, que também está em ebulição na escola: o modelo de educação, o trato dado ao conhecimento.
Talvez a proibição seja provisória por questão de segurança, visto a infinidade de possibilidades que o telefone dá; enquanto não se define um código coerente de utilização dos aparelhos, porém, isso não deveria proibir seu uso dentro de estratégias definidas pelo educador juntamente com a coordenação pedagógica e estudantes num verdadeiro sentido de resolução coletiva de conflitos. E isso requer planejamento, que é uma ação que deve existir em todos os seguimentos de uma escola, desde administração, até a sala de aula, passando pela comunicação que se dá entre todos os atores da comunidade escolar, e precisa ser entendido e aplicado no coletivo.
Debater com o adolescente, conhecer a importância que ele dá ao telefone celular no seu cotidiano e discutir com ele possíveis estratégias de inclusão do aparelho em atividades planejadas é uma forma de iniciar e/ou ampliar a discussão e buscar saídas para este problema. Conhecer também o uso do telefone celular por professor e demais atores da escola também amplia conhecimento deste aparelho no contexto escolar, podendo aí até visualizar novas formas de comunicação entre seus pares.
Considerações finais
A mobilidade proporcionada pelo celular facilita e melhora o compartilhamento de dados em diversos formatos, a qualidade de comunicação e interação entre as pessoas, bem como dependendo da modalidade do aparelho, temos uma concentração de funções em uma mesma tecnologia e que ampliam para o horizonte do entretenimento, educação, segurança, economia, etc. Mobilidade esta que traz a tona novos modelos de comunicação, pensamento, de vida.
Os adolescentes de hoje já chegam nesta geração conectados e interagem dentro desse aparato tecnológico com muito domínio. O que falta para muitos é a maturidade e a significação apropriada para o uso sustentável dessa tecnologia. Não dá para recuar, é preciso conhecer, investigar, refletir, debater em busca de estratégias e regras viáveis para utilização dos recursos dos telefones celulares na rede de interação e aprendizagem que precisa existir na educação escolar.
Referencias
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25.ed.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
MERIJE, Wagner. Mobimento: educação e comunicação mobile. São Paulo: Peirópolis, 2012.
Pelo celular… Lá na escola! Disponível em: <http://www.rea.net.br/educarede/2013/05/21/pelo-celular-la-na-escola/>. Acesso em: 04 out.2014.
STRARBURGER, Victor C. Os adolescentes e a mídia: o impacto psicológico. Porto Alegre, ed. Artes Médicas Sul, 1999.
Uso pedagógico do telefone móvel (celular). Disponível em: <http://professordigital.wordpress.com/2010/01/13/uso-pedagógico-do-telefone-movel-celular/>. Acesso em: 31 ago. 2014.
*Professora Graduada em Educação Física da rede pública de ensino no estado do Amapá. E-mail: raich.ddd@gmail.com. Blog: http://rachelbezerra.blogspot.com
2 Sugata Mitra é citado por MERIJE (2012) como um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia educacional.
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