Luis Fernando Mordente*
Já parou para pensar e responder a essa pergunta? Você acha que possui alguma responsabilidade sobre a Educação em nosso país? De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Educação está inserida em praticamente tudo em nossas vidas: na família, no trabalho, nos relacionamentos, na escola, na universidade, na sociedade e até mesmo na cultura. A Constituição Federal de 1988 diz que a Educação é um direito de todos e dever da família e do Estado e que seu objetivo é garantir o pleno desenvolvimento da pessoa. Se cada um fizesse parte para cumprir com esse dever e assegurar esse direito, poderíamos promover a transformação por meio da Educação.
Países desenvolvidos, por mais que apresentem alguns desafios, possuem a Educação como prioridade e isso faz com que a sua população tenha mais oportunidades e que os problemas enfrentados sejam muito menores, já que possuem um entendimento melhor de coletividade. Certa vez, em Londres, tive a oportunidade de conferir como a Educação de um povo pode influenciar o funcionamento de uma sociedade. Em uma estação de Metrô, vi uma das catracas, que são de abrir e fechar, aberta o tempo todo. Pensei que havia câmeras ou agentes fazendo a fiscalização, mas não havia. Então perguntei para um londrino porque aquela catraca estava aberta e ele me respondeu que era para crianças pequenas e idosos passarem, já que, em geral, são mais lentas. Perguntei então se ninguém passava sem pagar e ele me respondeu com outra pergunta: e por que alguém faria isso?
Talvez falte ao Brasil tempo de amadurecimento enquanto sociedade, já que somos uma nação muito recente em relação à maioria dos países desenvolvidos. Nosso país possui pouco mais de 500 anos, com uma história de dizimação de povos indígenas, escravidão e o fornecimento de metais preciosos, produtos naturais e agrícolas para países desenvolvidos que se entendem como nação há muito mais tempo que nós e que entendem que a falta de saúde, de comida, de teto e de Educação não é condição normal e aceitável para o ser humano. Por aqui, levaremos quantos anos para o brasileiro entender isso?
E o que podemos fazer para transformar a nossa realidade? Cada um cumprir com o seu papel. Ao Estado cabe a responsabilidade de investir mais e melhor na Educação, promovendo uma gestão eficiente dos recursos. Se preocupar mais com a eficiência do processo de ensino-aprendizagem das instituições de ensino, rever os próprios conteúdos, por meio de uma discussão bem mais ampla com a sociedade, valorizar mais o professor, oferecendo melhores condições de trabalho, ofertar acesso à internet e à tecnologia educacional, e promover a formação continuada de todos nas escolas.
Aos professores não caberia a revisão de sua prática? Sabemos bem da desvalorização do professor, das altas cargas de trabalho a que são submetidos e do grande desafio que é a prática docente. Vivemos a seguinte situação: a instituição escolar atual ainda tem seus moldes nos séculos XVIII e XIX, com educadores do século XX e alunos do século XXI. Afinar isso é bastante difícil, mas o professor precisa entender que não é mais o único meio de acesso às informações e ao conhecimento, que seu papel mudou e que ele agora precisa mediar esse acesso e construir o conhecimento junto aos educandos. É urgente a adoção das metodologias ativas e, sobretudo, amar o que se faz.
Os alunos precisam ser conquistados, motivados e seduzidos pela Educação e pelo conhecimento. Mas é preciso também atribuir aos principais interessados o papel de protagonista no roteiro dessa história. As redes sociais tomaram conta da atenção dos estudantes e, por isso, pergunto constantemente a eles: quem manda, você ou o celular? Os alunos devem entender que a vida oferece oportunidades para quem se dedica. É certo que eles precisam de ajuda para desenvolver e elevar a autoestima, a confiança em si mesmos e merecem desenvolver o processo de autoconhecimento e identificar suas virtudes e forças de caráter para que possam atuar no desenvolvimento e crescimento pessoal e coletivo.
Aos pais, cabe acompanhar e se preocupar efetivamente com a Educação de seus filhos, não atribuindo somente à escola essa responsabilidade. Tomemos como exemplo a mãe do famoso neurocirurgião de fama mundial, Dr. Ben Carson. De origem humilde, ele ficou conhecido por ter realizado a primeira cirurgia de separação de gêmeos siameses unidos pela cabeça, como nos conta o filme Mãos Talentosas. O que a mãe dele fazia? Limitava o tempo dele e do irmão na frente da Televisão e os obrigava a ler dois livros por semana.
Precisamos entender que existe algo que se chama homologia de processo, ou seja, que não formaremos crianças leitoras se não formos leitores, que não teremos crianças honestas que respeitam filas e que devolvem o troco errado se assim não o fizermos, que se não sonharem alto, não poderão conquistar alto, que não teremos mudanças se continuarmos a fazer as coisas do mesmo jeito. Já passou da hora de entender que Educação transforma um aluno, uma escola, uma cidade, um país, basta que cada um de nós cumpra com o seu papel, mesmo porque não estamos fazendo mais do que a nossa obrigação no caminho da evolução. Vamos juntos?
*Luis Fernando Mordente é gestor educacional do Colégio Mais Positivo (Sistema Positivo de Ensino), de Uberlândia (MG).