Educação requer diálogo para transformar a realidade
Antonio Artequilino da Silva Neto*
Quando falamos ou escrevemos, deixamos marcas de nossa subjetividade e compartilhamos com as pessoas a nossa forma de compreender a realidade da qual fazemos parte. Assim, nossas concepções de ser humano, de sociedade e de mundo são reveladas de maneira mais intensa quando atuamos como operadores do conhecimento. Por exemplo, quando um professor ministra uma aula ou mesmo quando um consultor pedagógico profere uma palestra, acontece não apenas uma manifestação física do seu potencial vocal, mas principalmente a manifestação de culturas, ideologias, subjetividades e intencionalidades provenientes do seu universo simbólico.
No entanto, como pode o enunciador, a partir do seu universo simbólico, envolver seus interlocutores e estabelecer um diálogo respeitoso, pleno e profícuo? O que é necessário considerar na inclusão daqueles que possuem uma visão diferente e que podem até mesmo assumir um posicionamento contrário ao que defendemos? Muitos partem de supostas “verdades” construídas no interior do seu círculo pessoal de vida e as defendem como sendo suas crenças e práticas.
Ora, como saber se o interlocutor gostaria de ouvir ou ler conteúdos que se distanciam ou não de sua vivência cotidiana para descobrir novas possibilidades de compreensão da vida tendo como propósito a busca incessante de mudanças para melhorar o seu núcleo familiar, sua formação acadêmica ou seu desempenho profissional?
A resposta é simples: precisamos dialogar permanentemente com todos os nossos interlocutores, sem exceção. A fala, a voz, o discurso, a palavra pronunciada ou escrita são elementos comunicacionais que aproximam as pessoas e as envolvem no rico processo da sociabilidade e da interação humana, favorecendo o processo de transformação da realidade.
Quando trabalhamos na formação de professores, realizamos trabalhos de consultoria ou nos dedicamos a qualquer outra atividade que requeira a interação com outros, podemos compreender que a fala de cada pessoa revela o seu modo de vida, as suas aspirações e os aspectos importantes de sua realidade social.
Portanto, vale lembrar o legado de Mikhail Bakhtin, que foi considerado por muitos como sendo o filósofo do diálogo, para quem a linguagem é vida, está no trabalho e na prática social, constituindo-se como interação, como efeito de sentidos entre interlocutores que se encontram e confrontam por meio do signo linguístico, no processo discursivo e no jogo das interações sociais. Ele defendia a linguagem como um constante processo de interação mediado pelo diálogo – e não apenas como um sistema autônomo.
Pois bem, aprendi com Bakhtin que, quando assumimos uma postura dialógica, os atos de ensinar, aprender e empregar a linguagem passam necessariamente pelo respeito às diferenças de cada ser humano, o qual utiliza o conhecimento de enunciados anteriores para formular suas falas e redigir seus textos. Além disso, um enunciado sempre é modulado pelo falante para o contexto social, histórico, cultural e ideológico.
Enfim, como pode o diálogo contribuir com a transformação da realidade, principalmente quando lidamos com processos educacionais? A partir do entendimento de que a história não é apenas uma série de fatos passados. Ela está em contínua construção e acontece num mundo que está em constante movimento, mediado pela essencialidade da Educação, que se dá pela construção dos saberes e práticas e que requer, sobretudo, o diálogo como instrumento vivo que medeia a ação das pessoas no presente, tendo como referência o passado e como propósito a constituição de melhores perspectivas para o futuro.
*Antonio Artequilino da Silva Neto, Historiador, Mestre em Educação, Doutor em Linguística Aplicada e Consultor Pedagógico da Solução Educacional Conquista.