* Por Dijanira Silva
Criar expectativas é um processo que naturalmente faz parte da vida. Basta ouvir falar a respeito de um lugar, por exemplo, que nossa mente viaja para lá em segundos. E quando a expectativa é relacionada a uma pessoa? Aí vamos longe! Sem esforço algum e, às vezes, até sem perceber, criamos uma ideia a respeito da pessoa que, mais tarde, pode ou não ser correspondida. E é aí que está a questão, principalmente, quando o assunto é namoro.
Aliás, namoro é um tempo propício para desvendar o mistério que é o outro, a partir da verdade, trocando de maneira gradativa, a expectativa pelo conhecimento. Mas nem por isso, a expectativa nos deixa. Portanto, é fundamental aprendermos a lidar com ela já no início do relacionamento, da forma mais autêntica possível, ou seja, enfrentando a realidade.
Uma das características da expectativa é nos proporcionar a sensação de conforto à custa da imaginação ligada à fantasia e à emoção. O problema é que, quando isso acontece, muitas vezes nos apegamos ao “personagem criado” e já não damos espaço em nossa mente para outras possibilidades, inclusive as reais que nos são apresentadas.
Quando isso acontece, é um perigo, pois uma vez presos à emoção, nos distanciamos da razão e fica mais fácil nos enganarmos. Inclusive porque, neste caso, temos a tendência de acreditar que a pessoa em questão sente e pensa igual à gente, tendo as mesmas expectativas que nós. Só que não! Pois cada pessoa é única e, mesmo partilhando alguns aspectos em comum, tem seu próprio mundo ligado à cultura, ao convívio social, à estrutura familiar e a tantos outros fatores que influenciam mais do que imaginamos em nosso comportamento.
Por isso, cautela nunca é de mais. Acredito que o certo é estarmos abertos a receber o dom que é a pessoa e a tarefa de ajudá-la a ser plena e melhor a partir do amor que lhe dedicamos, sem esperar milagres. Quem está disposto a passar por este crivo, tem uma grande chance de encontrar o verdadeiro amor, porque este sentimento tem alicerce na verdade, que vai sempre além das expectativas.
Aliás, expectativas tem mais a ver com paixão do que com amor. O amor é uma decisão que exige compromisso e envolvimento total com quem amamos. Já a paixão é aquela fase em que nossos sentimentos estão à flor da pele e, como diz Lídia Vasconcelos, “quase nada, estremece quase tudo dentro da gente”.
Em geral, quando estamos apaixonados, pensamos pouco nas consequências dos nossos atos e agimos mais pela emoção do momento. E isso também é lindo e tem seus benefícios. Há quem diga que a paixão movimenta o universo! Sem ela não teríamos serenatas nem poemas, por exemplo. O problema é parar na paixão e não investir no amor.
Amar é ter a coragem de perder para ganhar, pois o amor é comparado ao fogo, que com suas labaredas destrói tudo que não é eterno, inclusive os muros que construímos à nossa volta na intenção de nos proteger. Mas só o amor nos dá a verdadeira liberdade, nos torna leves, descomplicados e, consequentemente, felizes.
O amor nos faz ir além do que julgávamos conseguir e nos dá uma nova visão até mesmo da nossa própria história. E são inúmeros os benefícios e sacrifícios que o amor propõe! É por isso que só quem é de fato livre de expectativas e apegos no relacionamento consegue amar pra valer.
* Dijanira Silva é missionária, autora do livro “Por onde andam seus sonhos”, da Editora Canção Nova e apresentadora da Rádio América em São Paulo e do programa “De mãos unidas” da TV Canção Nova.