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A atuação do Tutor a Distância no Ensino Superior: uma análise do processo educativo na Educação a Distância à luz de Paulo Freire

http://ead.ifb.edu.br/ultimas/17-ultimas-noticias/138-ead-em-movimento

 

A atuação do Tutor a Distância no Ensino Superior: uma análise do processo educativo na Educação a Distância à luz de Paulo Freire

Virginia Magano Bastos*

Vanessa dos Santos Moura**

 

Resumo

Virginia Bastos – Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Especialista em Gestão Ambiental em Municípios (FURG). Licenciada em Geografia (FURG). Técnica em Meio Ambiente. E-mail: vmbastos@furg.br

O presente artigo versa sobre a temática da Educação a Distância. O objetivo geral é promover uma análise da atuação do Tutor a Distância na Educação a Distância no Ensino Superior à luz de Paulo Freire. A abordagem metodológica é de cunho qualitativo, empreendendo-se uma concisa revisão bibliográfica do tema.

Palavras-chave: Educação a Distância, Tutor a Distância, Paulo Freire, Revisão bibliográfica.

Abstract

This paper deals with the theme of Distance Education. The general objective is to promote an analysis of the performance of the Distance Tutor in Distance Education in Higher Education according to Paulo Freire. The methodological approach is qualitative, with a concise bibliographical review of the theme.

Key words: Distance Education; Distance Tutor; Paulo Freire; Bibliographical review.

Introdução

O desenvolvimento dos meios de comunicação e o avanço da tecnologia ao longo de décadas permitiram que a educação, como processo formativo, fosse levada aos lugares mais longínquos do Brasil. Embora a Educação a Distância (EaD) não seja nenhuma novidade no país, haja vista a existência de registros desta desde a década de 1920, percebe-se que as três últimas décadas foram determinantes na sua disseminação.

Essa nova modalidade educacional – e, porque não dizer, realidade educacional – se concretizou no Brasil como resultado da criação de legislação específica

Vanessa Moura – Historiadora e Advogada. Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutoranda em Educação Ambiental (FURG). Mestranda em Direito e Justiça Social (FURG). Licenciada e Bacharela em História (UFRGS). Bacharela em Direito (FURG). E-mail: vanessamoura@furg.br

(nomeadamente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, de 1996), da criação de uma Secretaria de Educação a Distância em 1996 (inserida no Ministério da Educação e Cultura – MEC) e de Regulamentações próprias para os cursos a Distância (sobretudo a partir de 1998) juntamente com o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’s (COSTA et al., 2006). Pode-se afirmar com alguma margem de certeza que, a partir de 2004, a EaD se consolidou – por intermédio das políticas públicas referidas aliadas a uma massiva injeção de capital oriundo do erário – e voltou-se, sobretudo, para o Ensino Superior.

Salienta-se que as TIC’s e legislação pertinente não produziriam uma educação de qualidade caso não fossem incorporados a esse processo profissionais comprometidos com a educação e, particularmente, com a modalidade EaD. É que, por trás das ”telas dos computadores”, figuram diversos educadores e que se constituem numa grande equipe de profissionais qualificados, tais como programadores, revisores linguísticos e de conteúdo, coordenadores pedagógicos, secretários de curso, professores e tutores (presenciais e a distância).

Nesse variado grupo citado, destaca-se a figura do Tutor a distância. Não há dúvidas que é ele, dentre todos os demais profissionais, quem estará em contato por mais tempo com os educandos durante o processo de ensino-aprendizagem, quase se fundindo com o papel de professor. O Tutor, nesse sentido, precisa se apropriar não somente dos conteúdos a serem trabalhados, mas também de todos os saberes necessários a uma prática educativa crítica, libertadora e transformadora, tal como preconiza Freire (2004).

Com efeito, o presente artigo versa sobre a temática da Educação a Distância. O objetivo geral é promover uma análise da atuação do Tutor a Distância na Educação a Distância no Ensino Superior à luz de Paulo Freire. A abordagem metodológica é de cunho qualitativo, empreendendo-se uma concisa revisão bibliográfica do tema.

A prática cotidiana de um Tutor a Distância

Segundo Marinho et. al (2011, p. 42), o Tutor a distância deve “(…) orientar o trabalho dos alunos, fomentando as discussões, dirimindo dúvidas e ajudando-os a superar dificuldades”. Para tanto, o ingresso na função de Tutor, via de regra, inicia por intermédio de processo seletivo, no qual o candidato deverá apresentar todas as suas qualificações/titulações. Nesse processo, além da formação na área exigida (ou em áreas afins), destaca-se a necessidade de ter facilidade/habilidade para utilizar os mais diversos tipos de softwares, entre eles de áudio e vídeo, assim como conhecimentos nas mais diversas redes sociais. Após selecionado, o Tutor será responsável por uma determinada(s) disciplina(s) e passará a atender um determinado polo(s) ou cidade(s).

Normalmente antes de iniciar a disciplina, o Tutor se reúne com o professor responsável para discutir os processos pedagógicos que serão empregados ao longo dos trabalhos. Em geral, são discutidos prazos, referenciais teóricos e processos avaliativos, que poderão ser construídos conjuntamente entre Professor e Tutor ou somente pelo professor. Pode ocorrer do professor apenas elaborar os materiais instrucionais e dar autonomia ao Tutor para que defina como ministrá-los. A gestão democrática do processo educativo não é regra, mas é o que se verifica na prática.

O Tutor é responsável por acompanhar diariamente os educandos, seja para tirar dúvidas quanto aos textos e exercícios, motivá-los, chamar atenção para determinadas tarefas, monitorar as frequências no ambiente virtual (acesso), entre outros. São comuns as situações em que o Professor mantém pouco contato com os alunos ou mesmo nenhum tipo de contato, ficando a responsabilidade do processo formativo massivamente a cargo do Tutor. Por conseguinte, é fundamental que o Tutor esteja qualificado para desempenhar suas atividades; conforme corrobora Almeida:

Quando o papel do professor não envolve as interações com os alunos, o que é muito freqüente, cabe ao tutor fazê-lo. Porém, caso esse tutor não compreenda a concepção do curso ou não tenha sido devidamente preparado para orientar o aluno, corre-se o risco de um atendimento inadequado que pode levar o aluno a abandonar a única possibilidade de interação com o tutor, passando a trabalhar sozinho sem ter com quem dialogar a respeito de suas dificuldades ou elaborações. (ALMEIDA, 2002, p. 1).

Dessa forma, para que o atendimento aos alunos seja ainda mais eficiente, é interessante que o Tutor ofereça aos educandos determinados dias e horários em que estará on-line para atendê-los. No entanto, toda essa descrição da rotina da prática educativa do Tutor só produzirá resultados positivos se estiver permeada por uma reflexão crítica e constante do Tutor no exercício da sua docência; e por isso uma leitura freireana da dodiscência se faz oportuna.

A Contribuição dos Saberes Necessários à Prática Educativa de Paulo Freire para a Atuação do Tutor

A mudança do espaço tradicional e presencial de ensino para o espaço virtual requer mudanças tanto estruturais e como pedagógicas. O Tutor precisa utilizar-se mais do que nunca dos saberes necessários a uma prática educativa de qualidade como forma de compensar a distância física que o separa dos alunos. Nesse viés, as contribuições de Paulo Freire (2004) fornecem uma base teórica para atuação docente do Tutor, das quais se destacam três macro-eixos de sua proposta de Pedagogia da Autonomia: Não há docência sem discência; Ensinar não é transferir conhecimento; Ensinar é uma especificidade humana.

Sobre aquilo que Freire nomeia de dodiscência, isto é, de que Não há docência sem discência, destaca-se que a interação do Tutor com os alunos constrói-se em uma relação dialógica, na qual o Tutor atua como mediador na construção da aprendizagem. Ao mesmo tempo em que desperta nos alunos a curiosidade pelo conhecimento e a reflexão crítica, ele também se constrói e reconstrói como docente, demonstrando que o processo de aprendizagem é mútuo. A baixa participação dos alunos no ambiente virtual, por exemplo, pode sinalizar para o Tutor a necessidade de refletir sobre sua prática educativa e buscar novas formas de despertar o interesse nos educandos. Por isso, é indispensável que o Tutor esteja em constante processo de pesquisa, trazendo novas alternativas para o processo de ensino.

No que diz respeito ao eixo “Ensinar não é transferir conhecimento“, o Tutor passivo, que apenas reproduz informações, que não problematiza um determinado assunto, está contribuindo para a manutenção das desigualdades sociais, uma vez que não possibilita ao educando construir suas próprias ideias, ceifando a curiosidade deste em relação ao mundo e suas possíveis transformações. É necessário que o Tutor conheça a realidade do aluno, de modo que, a partir desta informação, ele possibilite aos educandos a reflexão de que mesmo sendo seres condicionados, estes podem intervir na sociedade e mudar a própria realidade e da sociedade.

Sobre o terceiro e último eixo, “Ensinar é uma especificidade humana“, independentemente do Tutor não estar fisicamente presente, é no contato diário que se constrói o comprometimento das partes envolvidas, criando laços de respeito e afetividade que contribuem para o crescimento do grupo. O Tutor poderá, inclusive, se deparar com desabafos dos alunos, tamanho o grau de envolvimento do grupo. Saber escutar e lidar com uma situação dessas, por exemplo, pode influenciar muitas vezes na permanência ou evasão do aluno no curso. O Tutor precisa ter a consciência de que não está somente formando um profissional, mas um cidadão que poderá contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Se de um dos lados da tela há um profissional, do outro lado também existe um ser humano – mais, um ser em formação, cheio de questionamentos e angústias.

Considerações Finais

O contínuo aperfeiçoamento da Educação à Distância é essencial para que esta modalidade de ensino se fortaleça ainda mais no cenário brasileiro, possibilitando que cada vez mais pessoas tenham acesso à educação. O Tutor tem um papel fundamental e é uma figura determinante na melhoria dos processos pedagógicos e de grande influência no processo de ensino-aprendizagem dos educandos. Nesse sentido, é imprescindível que o Tutor, nas suas formações, receba também uma educação adequada, que o capacite criticamente de forma a compreender que, um, não há docência sem discência, dois, Ensinar não é transferir conhecimento e, três, Ensinar é uma especificidade humana.

Referências

ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância no Brasil: diretrizes políticas, fundamentos e práticas. São Paulo, 2002.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

MARINHO, H. B.; RODRIGUES, C. A. F.; SCHMIDT, L. M. Tutoria em Educação a Distância. Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Ponta Grossa, 2011.

 

* Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Especialista em Gestão Ambiental em Municípios (FURG). Licenciada em Geografia (FURG). Técnica em Meio Ambiente. E-mail: vmbastos@furg.br

** Historiadora e Advogada. Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutoranda em Educação Ambiental (FURG). Mestranda em Direito e Justiça Social (FURG). Licenciada e Bacharela em História (UFRGS). Bacharela em Direito (FURG). E-mail: vanessamoura@furg.br

 

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