Desejo de Tolo
Gilda E. Kluppel
Tolos ambicionam o poder,
e aos inocentes restam as lágrimas,
nem em seus piores pesadelos
podem imaginar,
as competições repugnantes
em palavras imundas.
Clausuram sentimentos
encerram as amizades,
iniciam as parcerias,
unem-se aos assemelhados,
ocupam os espaços,
demarcam territórios
e consolidam acordos
para abrigar os indesejáveis.
Enfileiram as pessoas,
como cartas de um baralho sobre a mesa,
para tecer julgamentos espúrios,
descartam os inconvenientes
que podem ser recolhidos
numa próxima rodada.
Caem as máscaras,
na face a madeira bruta,
sem verniz para disfarçar.
Espectros se levantam,
sombras predominam,
desonram os honestos
e a virtude é humilhada.
Sepultam ideais,
revestem-se de autoridade
e mudam atitudes.
Invertem a moral,
espalham sofrimentos
e se regozijam na desgraça.
Mentiras se transformam em verdades,
verdades se ocultam atrás das mentiras,
meias verdades bastam
onde impera a hipocrisia.
Travestem-se de mártires,
manipulam pessoas,
e inventam feitos heroicos
para conseguirem seguidores.
Oportunistas de ocasião se prevalecem
e reacendem a chama da vaidade
para obterem privilégios.
Logram irmãos,
apedrejam supostos inimigos
e dormem sem consciência,
na certeza da impunidade.
Deliciam-se em fétidas fossas
ao repartirem as migalhas
conquistadas após sórdidas disputas.
Orgulhosos se julgam poderosos
e em todos veem súditos,
prontos para servirem
doses diárias de simulada gentileza.
Vendem a alma
por qualquer bagatela,
em mais uma falcatrua.
Jazem em túmulos esquecidos,
pela vergonha da lembrança
ruborizam descendentes
com a memória da sua insignificância.
No mundo dos espíritos,
no reino das trevas,
cercado de seus semelhantes
e distantes da tolerância dos inocentes
encontram a sua verdadeira morada.