Gilda E. Kluppel
Talvez esteja muito distante do mundo conectado, mas salta aos olhos a ligação, até mesmo afetiva, dos jovens com seus smartphones. Quem perguntar quantas mensagens de texto eles são capazes de enviar, em um dia, pode também se surpreender: mais de cem! Isto acontece durante o período diurno, noturno e até de madrugada. A troca de mensagens, que não escolhe hora e ocasião, penetra inapropriadamente na escola, durante as aulas. Alguns alunos não resistem à tentação de conferir as novidades recebidas. Os aparelhos são fáceis de camuflar e o alerta vibratório passa desapercebido. A digitação do texto acontece embaixo das carteiras, junto com canetas em penais, em bolsos de casacos, atrás de um livro, entre outros artifícios. A tecnologia, ao invés de auxiliar, escraviza quando torna seus usuários prisioneiros do momento nas teias da rede gigante. As mensagens se restringem aos meros cumprimentos, um “oi”, “estou aqui” e as “fotos do instante”; enviadas e recebidas em curtos intervalos de tempo. O teor da mensagem pouco importa, interessa mesmo se manter em linha viva, sempre on-line. Existe uma ânsia em não perder algo, o desejo de participar e compartilhar de todas as coisas. E este comportamento torna-se cada vez mais a regra que a exceção. Compartilhar informações é importante, porém, neste caso, resume-se em comunicados banais e supérfluos.
Antes, o exagero de tempo dispensado para a internet, limitava-se à casa ou a uma lan house, agora com o acesso facilitado pelo wi-fi, o hábito se prolifera de forma incontrolável. As redes sociais são muito atraentes e, para os mais jovens, a atração pode resultar em compulsão. Recentemente considerado um vício semelhante ao da dependência química. Imagine o sentimento de isolamento, para quem esquece ou perde o celular e não pode ouvir os bips e nem se nutrir com imagens, recados e downloads.
A internet faz parte da vida das pessoas, entre muitas utilidades disponíveis e outras sequer ainda conhecidas. As janelas, de nossas casas, abriam para a rua e não para o cyberspace, necessitamos aprender o modo de lidar com esta ferramenta. Os mais jovens cresceram conjugando os verbos twittar e blogar.
Pode ser uma fase da adolescência, na qual alguns excessos tendem a acontecer, quando se necessita de autoafirmação e predomina o sentimento da insegurança. Contudo, nós, da geração stand-by, desligados e ainda energizados, enfrentávamos certas situações com a cara e a coragem, carregando, algumas vezes, a incômoda timidez. Estranha a preferência de apenas enviar mensagens de texto, ao invés de falar pessoalmente com um colega ou amigo. Substituir as relações por conexões significa que a prioridade está na tecnologia e não nos laços afetivos.
O mundo virtual exerce fascínio, repleto de pessoas e histórias interessantes. Mas, ainda pertencemos ao mundo in-off, conhecido como real, onde os problemas não são virtuais e as paisagens merecem uma observação mais atenta. Resta não permitir que o brilho nos olhos seja somente a consequência de permanecer plugado em smartphones de última geração.