Meio Ambiente

Resgate da história brasileira em João Pessoa/ PB

Prestes a se tornar patrimônio nacional, a terceira cidade mais antiga do país recebe obra de restauro e projeto de revitalização em seus núcleos de formação originais

A população de João Pessoa recebe, na próxima terça-feira, 7 de agosto, a Igreja da Misericórdia totalmente restaurada pelos alunos da Oficina-Escola de João Pessoa, um projeto da Comissão Permanente de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa e recursos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, em conjunto com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional – AECI, Governo do Estado da Paraíba e Prefeitura Municipal de João Pessoa. A entrega, que será acompanhada de duas aberturas de exposição e o lançamento de projeto de revitalização do Porto do Capim, marca o início das comemorações dos 20 anos de cooperação Brasil-Espanha.

As obras realizadas na igreja não resgataram apenas as características de estilo arquitetônico originais. As descobertas arqueológicas no monumento do Século 17 permitiram traçar um quadro consistente do comportamento social e religioso da população paraibana nos últimos séculos. O investimento total foi de mais de R$ 342 mil, divididos entre Iphan e AECI.

A entrega das chaves da igreja ao provedor da Santa Casa de Misericórdia ocorrerá pela manhã, às 9h, onde o será celebrada uma missa solene de reabertura. Lá também haverá o lançamento de uma exposição fotográfica sobre o processo de restauro do espaço, iniciado em 2002. Em seguida, os alunos da Oficina-Escola, dos cursos da de arqueologia, bens móveis, jardinagem, serralharia, marcenaria e alvenaria receberão seus certificados de conclusão do curso.

Renascedouro

Às 19h30min, na Usina Cultural da Saelpa, outra exposição terá início: Expo 20 Anos de Cooperação Brasil/Espanha, com a apresentação do Programa do Patrimônio para o Desenvolvimento/ AECI, que atua em três estados: Bahia, Maranhão e Paraíba. Na ocasião, será lançado o projeto de revitalização do nascedouro da cidade, o antigo Porto Capim, no Rio Sanhauá, que integra a foz do rio Paraíba.

O projeto prevê toda a adequação do espaço do porto e da região do Varadouro, com destinação voltada a lazer, cultura e turismo. Haverá a restauração de 8 imóveis, a criação de infra-estrutura no parque ecológico da região e a reorganização do comércio de rua, com envolvimento dos agentes e moradores locais.

A revitalização do Centro Histórico de João Pessoa é um projeto abrangente, resultado de 20 anos parceria entre o Iphan e a AECI, com apoio dos governos estadual e municipal. Entre os benefícios proporcionados à cidade, estão a formação de 86 profissionais locais pela Oficina-Escola, neste ano, e a conclusão de seis projetos de intervenção desde 1987.

Esse projeto é ratificado pelo processo de tombamento do núcleo urbano original da cidade, que se encontra em andamento. O dossiê de tombamento da capital paraibana, elaborado pelo Iphan, já foi concluído e deverá ser apreciado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural ainda este ano.

Espaço urbano

Nascida, em 1585, às margens do rio Sanhauá, João Pessoa se encontra entre o mar e os mangues que margeiam este afluente do rio Paraíba. Seu centro histórico é marcado pela acentuada integração com o meio ambiente, em local de privilegiados atributos naturais: suave relevo, clima tropical, vegetação exuberante – marcada pela alternância entre manguezais e coqueirais, com florestas de mata atlântica. Sua área de 4.316 km2 abrange toda a costa marítima paraibana.

Foi a terceira cidade fundada no Brasil Colônia, cujo traçado revela regularidade, nos moldes das cidades portuguesas planejadas. Seu centro preserva praticamente intactas as características tipológicas e urbanísticas originais dessa malha urbana, erguida em dois núcleos principais de formação: a Cidade Alta e o Porto Capim.

Desvendando a História

A Igreja da Santa Casa da Misericórdia da Paraíba, localizada na Cidade Alta, é o único exemplar religioso remanescente na cidade de arquitetura maneirista – tendência estética do Século 16 que remete ao medievalismo. Em vista disso, foi o primeiro monumento tombado pelo Iphan na capital paraibana, em 1938.

Devido ao desaparecimento dos arquivos durante a invasão holandesa (consta que, perseguidos, os religiosos enterraram seus documentos e, quando tentaram recuperá-los, estavam imprestáveis), não há certeza sobre a data exata do início de sua construção, mas é seguramente um monumento do Século 17. Durante a restauração recém-concluída, houve o resgate de novas informações históricas e religiosas deste monumento, proporcionado pelos achados arqueológicos na edificação.

As descobertas refletem uma carga não apenas científica, mas simbólica de um patrimônio que acompanhou importantes momentos da história da Paraíba. Na nave principal do templo, foi encontrada uma lápide de 200 anos que escondia os ossos de um dos mandatários da antiga Parahyba, o capitão-mor João Coelho Vianna, uma espécie de governador daquela época.

“Constatamos que, no espaço interno das igrejas, ficavam as figuras ilustres, como os governantes, os membros da própria Igreja e as pessoas de posse; enquanto no espaço externo da instituição religiosa, estariam as pessoas de menor projeção social (sepultadas diretamente no chão) – os escravos, os indigentes e os doentes”, explica Antônio Canto, arqueólogo e mestre da Oficina-Escola.

Outro achado importante que está intrigando o arqueólogo são duas seqüências de inscrições latinas. Elas não ficam próximas a nenhuma lápide, que, geralmente, trazem junto de si esse tipo de grafia. "Perto dessas inscrições não há ossos. Avalio que deve ser uma espécie de código secreto de ordem religiosa com o intuito de escrever os seus segredos. Estamos tentando decifrar isso em laboratório", revela Antônio Canto.

Serviço
Missa solene de reabertura da Igreja da Misericórdia
Abertura de exposição sobre a obra de restauração da igreja
Entrega de certificados da Oficina-Escola

Horário: 9h
Local: Rua Duque de Caxias, s/n, Centro

Abertura da Expo 20 anos de Cooperação Brasil/Espanha
Lançamento do Projeto de Revitalização do Porto do Capim

Horário: 19h30min
Local: Usina Cultural Saelpa – Rua Juarez Távora, 243

 

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