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A posicionalidade das mulheres nas eleições municipais de 2020: representação feminina no executivo e legislativo na região sul do Brasil

A POSICIONALIDADE DAS MULHERES NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2020: REPRESENTAÇÃO FEMININA NO EXECUTIVO E LEGISLATIVO NA REGIÃO SUL DO BRASIL

Evandro Del Negro da Silva *

Alides Baptista Chimin Junior **

Crislaine da Silva Glogovski ***

Emily Caroline Marks Prado****

Jaine Lilian dos Santos *****

Rafael Berechavinski ******

Resumo: Este artigo analisa a participação das mulheres nas eleições municipais de 2020 na região Sul do Brasil, destacando os desafios enfrentados pelas candidatas ao executivo e legislativo. A pesquisa, fundamentada na Geografia Feminista, examina variáveis como grau de instrução, estado civil, cor/raça, ocupação e filiação partidária. Utilizando dados do TSE organizados em um Banco de Dados Geográfico, os resultados evidenciam a sub-representação feminina e as barreiras institucionais e socioculturais que limitam sua participação política.

Palavras-Chave: Geografia, Eleições, Mulheres, Municípios.

Abstract: This article analyzes the participation of women in the 2020 municipal elections in the Southern region of Brazil, highlighting the challenges faced by candidates for executive and legislative positions. The research, grounded in Feminist Geography, examines variables such as educational level, marital status, race/color, occupation, and party affiliation. Using TSE data organized in a Geographic Database, the results reveal the underrepresentation of women and the institutional and sociocultural barriers that limit their political participation.

Keywords: Geography, Elections, Women, Municipalities.

1 Introdução

A representação política das mulheres tem sido um tema recorrente nos debates sobre democratização e igualdade de gênero. Embora representem 52% do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda encontram obstáculos significativos para ocupar cargos públicos, especialmente no executivo. Segundo Pinto (2003), a luta das mulheres pelo direito ao voto e à participação na política brasileira foi um processo marcado por resistência e desafios estruturais. Desde o sufrágio feminino conquistado em 1932, avanços legislativos têm ocorrido, mas a sub-representação feminina ainda persiste (ALVES, 2012).

A criação da Lei de Cotas (1997) buscou amenizar essa disparidade, exigindo que 30% das candidaturas fossem femininas, mas pesquisas demonstram que a efetividade dessas medidas ainda é limitada (AVELAR e LIMA, 2000). Além das barreiras institucionais, há também desafios socioculturais que dificultam a ascensão feminina na política, como a distribuição desigual de financiamento eleitoral (Jornal Estado de Minas, 2020) e a prevalência de candidaturas fictícias (Agência Brasil, 2024). Conforme Gonçalves (2022), a sub-representação racial entre as candidatas reforça as desigualdades já existentes na estrutura política brasileira, sendo que mulheres negras são ainda mais marginalizadas nesse cenário.

Este estudo busca compreender as dinâmicas eleitorais que moldam a posicionalidade das candidatas nos cargos de prefeita e vereadora na região Sul do Brasil, analisando fatores que influenciam seu sucesso ou fracasso nas urnas.

2 Metodologia

Os dados foram obtidos junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e organizados em um Banco de Dados Geográfico no PostgreSQL. A análise incluiu representação cartográfica por meio do software QGIS e análise estatística com LibreOffice Base. As variáveis consideradas incluíram grau de instrução, estado civil, cor/raça, ocupação e filiação partidária das candidatas eleitas.

3.1 Participação Feminina no Executivo

A pesquisa identificou que, dos 1.191 municípios da região Sul, apenas 9,15% elegeram mulheres para o cargo de prefeita. Esse dado reforça a análise de Alves (2012), que aponta que a presença feminina no executivo ainda é um desafio significativo devido a barreiras institucionais e culturais. Conforme apontado por Avelar e Lima (2000), a baixa adesão das mulheres à política executiva está relacionada à dificuldade de acesso aos mecanismos de financiamento e apoio partidário. As candidaturas femininas foram mais bem-sucedidas proporcionalmente em relação aos homens, mas ainda representam um percentual reduzido no total de eleitos. A análise por estado indicou que o Paraná apresentou maior número de prefeitas eleitas, seguido de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

3.2 Participação Feminina no Legislativo

Para o cargo de vereadora, os resultados mostraram uma distribuição desigual entre os estados, com o Rio Grande do Sul liderando em número de mulheres eleitas, seguido pelo Paraná e Santa Catarina. Avelar e Lima (2000) destacam que essa distribuição está diretamente ligada à estrutura dos partidos políticos e sua adesão a políticas de incentivo à participação feminina. Além disso, a pesquisa de Jornal Estado de Minas (2020) aponta que as mulheres ainda enfrentam um financiamento desigual, o que limita suas chances de sucesso eleitoral., com o Rio Grande do Sul liderando em número de mulheres eleitas, seguido pelo Paraná e Santa Catarina. Mesmo com a implementação da lei de cotas, que exige que 30% das candidaturas sejam femininas, a taxa de sucesso das candidatas foi menor do que a dos homens.

3.3 Fatores que Influenciam o Sucesso Eleitoral

Grau de Instrução: A maioria das prefeitas e vereadoras eleitas possui ensino superior completo, destacando a importância da educação na viabilidade eleitoral das mulheres. Alves (2012) aponta que mulheres com maior nível educacional possuem mais chances de superar barreiras estruturais dentro dos partidos políticos.

Estado Civil: Mulheres casadas foram as mais eleitas, sugerindo que a estabilidade conjugal pode estar associada a uma maior aceitação social da candidatura feminina. A pesquisa de Pinto (2003) destaca que o papel social da mulher casada muitas vezes reforça sua credibilidade política.

Cor/Raça: A sub-representação de mulheres negras é um dos desafios mais evidentes, refletindo desigualdades estruturais históricas. Gonçalves (2022) aponta que mulheres negras enfrentam não apenas a barreira de gênero, mas também o racismo estrutural presente na sociedade e na política.

Ocupação: A maioria das mulheres eleitas vem do setor público e da educação, indicando que profissões com forte interação comunitária favorecem a viabilidade eleitoral. Segundo Miranda e Lobato (2018), a experiência em setores de serviço público permite que as candidatas estabeleçam redes políticas mais sólidas.

Partidos Políticos: Os partidos de direita e centro-direita elegeram mais mulheres do que os de esquerda, o que contradiz a ideia de que partidos progressistas promovem mais candidaturas femininas. Conforme Avelar e Lima (2000), isso pode estar relacionado ao modo como as estruturas partidárias tradicionais ainda restringem a ascensão feminina em partidos progressistas., destacando a importância da educação na viabilidade eleitoral das mulheres.

Estado Civil: Mulheres casadas foram as mais eleitas, sugerindo que a estabilidade conjugal pode estar associada a uma maior aceitação social da candidatura feminina.

Cor/Raça: A sub-representação de mulheres negras é um dos desafios mais evidentes, refletindo desigualdades estruturais históricas.

Ocupação: A maioria das mulheres eleitas vem do setor público e da educação, indicando que profissões com forte interação comunitária favorecem a viabilidade eleitoral.

Partidos Políticos: Os partidos de direita e centro-direita elegeram mais mulheres do que os de esquerda, o que contradiz a ideia de que partidos progressistas promovem mais candidaturas femininas.

Considerações Finais

Os resultados revelam que, apesar dos avanços legislativos, a política brasileira ainda é marcada por desigualdades de gênero e raça. A sub-representação feminina nos cargos eletivos reflete barreiras estruturais que dificultam o acesso das mulheres a espaços de poder. A baixa taxa de sucesso das candidatas, especialmente no executivo, evidencia que a inserção feminina na política não depende apenas de quotas eleitorais, mas também de mudanças institucionais que garantam condições equitativas de participação.

A persistência de candidaturas fictícias e a distribuição desigual de financiamento eleitoral mostram que os desafios enfrentados pelas mulheres vão além da simples inclusão nos pleitos eleitorais. A análise evidenciou que mulheres negras são ainda mais marginalizadas nesse processo, enfrentando não apenas barreiras de gênero, mas também discriminação racial e dificuldades no acesso a recursos de campanha.

Diante desse cenário, é essencial que sejam implementadas políticas públicas mais eficazes, voltadas à capacitação de lideranças femininas, à ampliação do financiamento para campanhas de mulheres e ao fortalecimento da representatividade feminina nos partidos políticos. Além disso, é fundamental que se promovam estratégias de engajamento social para conscientizar o eleitorado sobre a importância da equidade de gênero na política, fortalecendo as condições para que mais mulheres possam alcançar cargos eletivos e contribuir para um cenário político mais diverso e representativo. A participação feminina, embora crescente, é marcada por desafios institucionais, partidários e culturais. Para alcançar uma representação mais equitativa, é fundamental investir em políticas públicas que incentivem a formação de lideranças femininas, promovam financiamento adequado e combatam a prática de candidaturas fictícias.

Referências

Agência Brasil. Com nova norma, TSE fecha cerco a candidaturas femininas laranjas.” Disponível em < Agência Brasil, https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2024-03/com-nova-norma-tse-fecha-cerco-candidaturas-femininas-laranjas>. Acesso em 5 agosto de 2024.

AVELAR, L. LIMA, F. D. de Lentas mudanças: o voto e a política tradicional, Lua Nova: Revista de Cultura e Política, CEDEC, 49 ed., 2000.

CANÊDO, Letícia Bicalho. Transmissão Familiar do Poder Político. Corla – SP: Ateliê Editorial, 2024.

GONÇALVES. Discriminação racial na política: como enfrentar e transformar essa realidade? Disponível em: https://www.fundacao1demaio.org.br/discriminacao-racial-na-politica-como-enfrentar-e-transformar-essa-realidade/. Acesso em: 17/09/2024.

Jornal Estado de Minhas. Candidato negro pode ter mais verba. Disponível em <https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/07/05/interna_politica,1162812/candidato-negro-pode-ter-mais-verba.shtml> Acesso em: 17 set. 2024.

MIRANDA E LOBATO. A pauta das jovens mulheres brasileiras junto ao governo federal. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2318-92822018000300004. Acesso em: 17/09/2024.

Nossa Luta. Luta das mulheres. Disponível em <https://nossacausa.com/conquistas-do-feminismo-no-brasil/?gad_source=1&gclid=CjwKCAjw0aS3BhA3EiwAKaD2ZW7ziYBPFzf5yr6nX5StRUPVnT4NFHj05xZJxGoZbd5OZ6y5bo8boBoCDcMQAvD_BwE> . Acesso em: 17 set. 2024.

PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo. 2003.

RODRIGUES, Almira. Mulheres e jovens candidatas. 2004. Disponível em: https://www.gov.br/mulheres/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas-1/acoes-e-programas-de-gestoes-anteriores/politicas-para-mulheres/arquivo/assuntos/poder-e-participacao-politica/programas-acoes/desigualdades-entre-mulheres-e-homens/politica/mulheres_e_jovens_candidata.pdf. Acesso em: 17 set. 2024.

Tribunal Regional Eleitoral-PR.  Combate a discriminação etária. Disponível em<https://www.tre-pr.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Setembro/combate-ao-etarismo-saiba-sobre-a-discriminacao-etaria>. Acesso em 17 de setembro de 2024.

* Evandro Del Negro da Silva E-mail: del.negro@unesp.br

** Alides Baptista Chimin Junior E-mail: alides@unicentro.br

***Crislaine da Silva Glogovski E-mail: glogovskicrislaine@gmail.com

****Emily Caroline Marks Prado (emymarks11@gmail.com

*****Jaine Lilian dos Santos E-mail: jainelilian432@gmail.com

******Rafael Berechavinski E-mail: rafaelberechavinski00@gmail.com

Como citar:
SILVA, E. D. N; CHIMIN, A. B. Jr.; GLOGOVSKI, C. S.; PRADO, E. C. M.; SANTOS, J. L.;  BERECHAVINSKI, R. A Posicionalidade das Mulheres nas Eleições Municipais de 2020: Representação Feminina no Executivo e Legislativo na Região Sul do Brasil. P@rtes. xxxxx

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