Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte.
Cora Coralina

Por Margarete Hülsendeger
A sala de estar, quase silenciosa, parecia um palco montado para um encontro improvável. De um lado, a avó, da geração X, lia um livro. No centro, o pai, millennial, equilibrava o café e o celular com a maestria de quem vive entre obrigações e distrações. No canto, a filha, geração Z, assistia a um vídeo com fones enormes que a conectavam a um mundo só dela. Três gerações, três mundos, unidos sob o mesmo teto, mas separados por tempos e desafios distintos.
Quando falamos de gerações, é comum categorizá-las em intervalos de tempo definidos. Geração X? De 1965 a 1980. Millennials? De 1981 a 1996. Geração Z? A partir de 1997. Contudo, essas fronteiras são mais fluidas do que parecem. Pessoas não mudam suas formas de pensar ou agir de um ano para outro. Afinal, o que define uma geração não é apenas o ano de nascimento, mas os contextos culturais, políticos e tecnológicos que moldaram sua infância e juventude. Assim, alguém nascido no fim de um período pode se identificar mais com a geração seguinte – ou vice-versa.
A geração X, por exemplo, testemunhou a chegada do computador pessoal e dos primeiros celulares. Muitos abraçaram as redes sociais com facilidade, ainda que tenham crescido ouvindo rádio e assistindo televisão. Os millennials, divididos entre o analógico e o digital, foram moldados pela internet, pelas redes sociais e por eventos históricos como o 11 de setembro e a crise financeira de 2008. Já os Z, nascidos em 1997 viveram experiências muito diferentes daqueles que nasceram em 2010, apesar de pertencerem ao mesmo grupo. Isso mostra que as categorias geracionais são úteis para observar tendências gerais, mas não para determinar uma identidade fixa.
A pandemia de COVID-19 deixou marcas profundas nas gerações mais jovens, especialmente os Z e os primeiros Alfa. O isolamento social interrompeu momentos cruciais de convivência, educação e desenvolvimento emocional. Estudantes ficaram presos a telas por meses, perdendo a convivência que forma vínculos e ensina habilidades interpessoais. A ansiedade e a depressão aumentaram, acompanhadas por uma sensação de incerteza constante. Ao mesmo tempo, a pandemia escancarou as desigualdades sociais e econômicas, impactando especialmente naqueles com menos acesso à tecnologia. Enquanto alguns jovens prosseguiram com aulas online, outros ficaram sem recursos básicos para acompanhar a vida escolar. Essa disparidade aumentou o fosso entre os que têm e os que não têm recursos, criando desafios que as gerações futuras ainda terão de superar.
Ainda assim, os Z e os Alfa mostraram uma resiliência incrível. Redes sociais e ferramentas digitais foram usadas para manter conexões, criar movimentos de apoio mútuo e até mesmo mobilizar mudanças sociais. Essa capacidade de adaptação será crucial no enfrentamento das dificuldades que o mundo pós-pandemia ainda reserva na economia, saúde mental e novas formas de trabalho e estudo.

E então, surge a geração Beta, ainda sem consenso sobre seu marco inicial. Alguns sugerem 2020, com a pandemia como um divisor de águas. Outros apontam 2025, quando mudanças mais profundas devem se consolidar. Seja qual for a data, essa geração crescerá em um mundo transformado pela inteligência artificial, pela robótica e pela urgência da sustentabilidade. A geração Beta será a primeira a crescer totalmente inserida em uma realidade onde as fronteiras entre humano e máquina estarão mais tênues. Questões como saúde mental, adaptação tecnológica e consciência ambiental serão temas centrais em suas vidas, exigindo delas um equilíbrio que talvez as gerações anteriores não tenham conseguido alcançar.
Essas novas gerações nos fazem refletir sobre nosso legado. Se as fronteiras geracionais são incertas, o que realmente importa são os valores, as histórias e os recursos que deixamos. A geração Beta, assim como a Alfa, será um reflexo das nossas escolhas – um lembrete de que a humanidade está sempre em movimento, aprendendo e se adaptando, às vezes de forma dolorosa, às vezes com esperança.
No fim, o rótulo ou a data de início de uma geração importam menos do que o impacto que elas deixam no mundo. Talvez, ao invés de olhar para gerações como linhas separadas, devêssemos vê-las como um rio contínuo, onde cada gota contribui para o fluxo, carregando histórias, desafios e possibilidades. Afinal, enquanto houver novas gerações, haverá novas chances de transformar o mundo.
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