
“Vigilante Rodoviário” foi a primeira série de televisão produzida no Brasil!
Veiculada entre 1961 e 1962, com apenas 38 episódios, tinha como protagonistas o Vigilante Carlos, interpretado por Carlos Miranda, e cão Lobo que, ao que consta, tinha dois pastores alemães que se alternavam nas filmagens.
Apesar de sua curta duração, a série e seus personagens permanecem na memória afetiva de quem assistiu sua primeira versão e que, quando descobre onde ainda é apresentada, não hesita em matar a saudade de um tempo que hoje podemos considerar “inocente”, mesmo quando as tramas tinham certa complexidade.
Para quem assistiu séries com temas análogos, como “Patrulha Rodoviária” (EUA, 1955-59), liderada por Broderick Crawford; e “CHIPs” (EUA, 1977-1983), com Larry Wilcox e Eric Estrada, “Vigilante Rodoviário” não deixa nada a dever, apesar de seu ineditismo.
Um Simca Chambord preto e amarelo – lindíssimo! – e a moto Harley-Davidson pilotados pelo Vigilante Carlos talvez tenham sido os primeiros sonhos de consumo de muitas crianças e adolescentes, sem falar em adultos. Lembro que antes do Simca, que não passava de 120 km/hora, o veículo era um Aero Willys modelo antigo.
A principal estrada era a Rodovia Anchieta, com algumas passagens pelo Caminho do Mar, celebrizado na música “As curvas da Estrada de Santos”, de Roberto e Erasmo Carlos.
“De noite ou de dia, firme no volante, vai pela rodovia, bravo Vigilante!” era o tema, que a gente cantava junto!
Seguindo o exemplo de séries dos EUA, também houve participações de vários artistas famosos da época, tais como: Ary Toledo, Juca Chaves, Rosa Maria Murtinho e Fulvio Stefanini, entre outros. Fausto Rocha, que depois se tornaria âncora de um jornal televisivo, também participou de um episódio.
Na época, as transmissões eram em preto e branco. Então, como é que eu sei as cores do Simca?
Há alguns anos, um shopping center de Santos promoveu uma exposição relativa à série, e lá estava o Simca, ladeado por Carlos Miranda devidamente fardado, no alto de seus mais de 80 anos!
Tive o prazer de cumprimentá-lo e agradecer por ter contribuído para minha formação, com valores de honra, civilidade e altruísmo, que atualmente são tão pouco considerados. Com ele, o crime nunca vencia!
É interessante lembrar que, em alguns episódios, o Vigilante Carlos aparecia só em certos momentos. A ênfase era dada ao enredo, que envolvia crianças, alerta sobre más companhias, fraudes, sequestros, acidentes e operações de resgate.
O futebol também apareceu ao menos em dois episódios, de uma “pelada” envolvendo meninos próximo a uma indústria que seria assaltada, a um goleiro agredido, para tentarem prejudicar seu time.
Não lembro de ter ocorrido nenhuma morte no seriado, e mesmo as lutas tinham coreografia singela, sempre muito parecidas. Mas não importava, pois Lobo sempre chegava a tempo de “virar o jogo” em favor dos mocinhos.
Carlos era cantor e ator desde os 15 anos, mas a série foi tão premiada e icônica que, após seu término, lhe valeu ingresso efetivo na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, onde se aposentou como Tenente-Coronel.
Soube recentemente que ele é patrono do Automóvel Clube do Brasil.
Não vi a versão de 1978. Aliás, não tenho interesse em conhecê-la, pois algumas coisas para mim merecem ser preservadas, para não perderem o encanto.
Carlos Miranda faleceu aos 91 anos, mas sempre permanecerá em minha memória! Prefiro imaginá-lo pilotando a Harley-Davidson ou o Simca Chambord pela estrada que leva ao Paraíso, sem precisar parar para abastecer ou pagar pedágio.
Descanse em paz, bravo Vigilante!

Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras