O dedo polegar foi determinante na diferenciação entre os seres humanos e os demais primatas. E já começou polêmico: opositor!
Desde então, o polegar opositor teve altos e baixos, ambos decisivos nas mãos de imperadores romanos. Davam poder de vida e morte! Aliás, esse gesto continua valendo, apenas para indicar se está tudo bem ou não.
Graças a ele, o ser humano adquiriu uma série de habilidades, talvez rivalizadas somente pelo macaco-aranha, mas não vou entrar nesse detalhe.
O polegar é tão relevante na evolução da civilização, que sem ele a escrita não teria surgido, e com ela a História. Mesmo antes, a arte rupestre, pré-histórica, já era uma forma de expressão manual, ou seja, a pintura também surgiu graças ao polegar opositor.
Mais adiante, ele virou padrão de medida, que persiste até a atualidade, parte do Sistema Imperial criado pelos britânicos em 1824, que inclui outras partes de um “corpo-padrão”, como pés, e seus múltiplos: jarda e milha.
Mesmo quando a escrita manual passou a ter a saudável concorrência da imprensa, o trabalho de preparação das publicações contava com mãos humanas.
Quando o polegar não está presente, por qualquer motivo que seja, dá-se um jeito, é verdade, mas a adaptação leva um tempo. E mesmo com ele ativo e operante, há quem prefira manuscrever com o instrumento de escrita entre outros dedos, mas ele sempre permanece “à mão”.
Também conhecido como “dedão da mão”, ele é referência até na literatura clássica, no diminutivo, caso de “O Pequeno Polegar”, obra de Charles Perrault. Pequeno só na dimensão física do personagem, pois sua inteligência demonstrou ser superior à força bruta. No entanto, o dedo polegar também tem seu papel quando se trata de força física, como demonstram algumas artes marciais e esportes. No boxe, há uma controvérsia: por ter um local específico nas luvas, há quem diga que ele está sendo isolado dos demais, que não faz parte do grupo; enquanto outros criticam o tratamento “vip” que recebe, por ter um espaço só para ele. Intrigas da oposição, sempre cheia de dedos.
O polegar é importante desde a infância, pois é a ele que a gente recorre na falta do peito materno ou da chupeta. Por toda a vida, ele é um meio de identificação por excelência, física ou digitalmente.
Sou do tempo em que aprender datilografia era fundamental para entrar no mercado de trabalho. Nas escolas especializadas, a gente treinava para usar todos os dedos, com base no “ASDF-JKLÇ” e teclas adjacentes. Porém, o polegar só tem lugar de ação na barra de espaços. Até na clássica puxada do carro ele não participava.
Lembrei-me da obra musical “A Máquina de Escrever” (“The Typewriter”), composta por Leroy Anderson, em 1950. Eu já a conhecia nas interpretações de Jerry Lewis e Jô Soares. Enquanto escrevia este texto, resolvi procurar vídeos na internet, para confirmar uma percepção. De fato, o polegar não participa em momento algum, a não ser como figurante! No entanto, de forma passiva ou ativa, ele estava presente em todos os instrumentos musicais.
Com o advento dos teclados de computadores, ele continuou com espaço apenas na tecla de espaços. Teve melhor sorte do que os outros dedos, é verdade, pois o dedo indicador passou a dominar o teclado, transformando os “catadores de milho” dos tempos da máquina de escrever em maioria absoluta.
Aí veio a grande redenção do polegar: o celular! Os demais dedos viraram coadjuvantes, veículos para seu estrelato!
Os programas de reconhecimento e sintetização de voz têm ocupado cada vez mais espaço, assim como os de desenho e impressoras 3D. Mas tudo continua ao alcance das mãos. Assim, o polegar continuará tendo uma presença extremamente positiva, não?

Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras