Adilson Luiz Gonçalves Colunistas

O PONTO DE MASSA

Acompanho a F1 desde 1970, graças a Emerson Fittipaldi, com seus dois títulos (1972 e 1974) e dois vice-campeonatos (1973 e 1975). Também havia Wilsinho, recém-falecido.

Emerson abriu mão de uma carreira que poderia rivalizar com a de Fangio, Schumacher e Hamilton, para criar uma equipe brasileira. Só voltou a vencer na Fórmula Indy.

José Carlos Pace tomou o “bastão” vencedor de Emerson, mas um acidente de avião nos privou desse futuro promissor.

O protagonismo brasileiro na F1 só retornou com Nelson Piquet, que brilhou intensamente numa época em que havia vários pilotos e equipes de alto nível, e bólidos tão velozes quanto perigosos, explosivos, até.

Ayrton Senna manteve o Brasil no topo, aliando obstinação e marketing pessoal.

Emerson, em 1975, ao perceber que a pista de Montjuic, em Barcelona, estava extremamente perigosa, recusou-se a correr. Foi taxado de covarde. O resultado foi uma tragédia histórica, com mortos e feridos, e o único meio ponto de uma mulher, Lella Lombardi, na F1.

Não foi muito diferente no GP de Ímola, em 1994. Os treinos já computavam a morte de Roland Ratzemberger e o gravíssimo acidente de Rubens Barrichello. A corrida deveria ter sido suspensa!

Mas Senna, preocupado com mau desempenho do “carro dos sonhos” – talvez arrependido por ter trocado a McLaren pela Williams, já tendo frustrado a Ferrari -, preferiu reclamar com Frank Williams. Este, numa cena patética, passou um pito nos mecânicos enquanto almoçava uma macarronada. O resultado da “tempestade perfeita” daquele domingo foi a dramática morte de Senna.

A partir daí, nossas esperanças foram depositadas em Rubens Barrichello, mas ele teve que assumir a condição de escudeiro de Schumacher. O alemão fez o que Senna poderia ter feito: apostado na evolução da Ferrari, mesmo tendo a chance de mais títulos com a Benetton. Schumi teve paciência para esperar cinco anos e somar mais 5 títulos mundiais.

Felipe Massa teve que esperar Schumacher parar de competir para ter a chance de trazer a alegria dos domingos de volta.

Ele estava indo muito bem, em 2008, mas não dava para entender o que acontecia com a Ferrari. Massa acelerava, mas a equipe parecia estar “com o freio de mão puxado”. Além disso, aquele campeonato também estava muito estranho.

O ápice foi o GP de Cingapura, que teve dois episódios vexatórios, que prejudicaram as pretensões de Felipe: a batida proposital de Nelsinho Piquet, ordenada pela equipe Renault, para beneficiar Fernando Alonso; e o absurdo da mangueira de combustível.

A sorte definitivamente não estava no caminho de Massa, tanto que em 2009 foi a vez de uma peça do carro de Barrichello quase mandá-lo para outro “circuito”.

A partir daí, os domingos nunca mais foram os mesmos.

Agora, os episódios de 2008 voltaram ao “grid”, com Bernie Eclestone afirmando que Lewis Hamilton deveria ter apenas 6 títulos, excluindo o daquele ano. Considerando que aquele foi seu primeiro, talvez a história tivesse sido outra.

Felipe Massa agora reivindica formalmente esse título.

Alguns o chamam de “cry baby” (algo como bebê chorão), mas há histórico de títulos retirados em outros esportes, por motivos similares.

O tempo passou, mas existem massas que demoram para chegar ao ponto. Quem sabe a manifestação de Eclestone seja o “fermento” que faltava para Felipe.

É certo que nada supera a emoção de um título ganho em tempo real, de uma aclamação, e tudo isso pode dar em absolutamente nada. Mas que isso sirva para que o esporte tenha um mínimo de respeito para com quem torce, para que o melhor efetivamente vença!

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letra

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