Adilson Luiz Gonçalves Colunistas filosofia

FILOSOFANDO…

Dizem que a Filosofia é a “mãe” de todas as ciências.

O termo é atribuído a Pitágoras e tem sua origem etimológica na fusão das palavras gregas: amor e sabedoria.

Por definição, a Filosofia busca respostas a problemas existenciais, conhecimento, valores, com base na razão, no desenvolvimento intelectual e na forma de expressão.

Assim, nem sempre quem se diz filósofo se enquadra nessa definição, ou, no extremo oposto, cada um de nós é um pouco filósofo.

A apreciação da natureza, confrontada com as necessidades humanas, fez com que problemas fossem solucionados, embora algumas soluções gerassem novos problemas.

De certa forma, as ciências derivadas da Filosofia foram evoluindo do empirismo para a ciência exata, ou que ao menos tenta ser, nos âmbitos estatístico e probabilístico.

A Engenharia, em suas múltiplas especializações, é um exemplo dessa evolução, ciência aplicada por excelência. Mas existem outros, em diferentes áreas do conhecimento, onde os resultados práticos são exigidos, e não apenas lucubrações.

Engenheiros são filósofos, então?

Bem, se analisarmos que a formação de engenheiros é basicamente cartesiana, sim!

Muitos acusam os engenheiros de serem materialistas, tão concretos, duros e frios como o resultado da mistura de cimento, areia, pedra e água. No entanto, eles também têm seus aditivos e, cá entre nós, para entender como as coisas se comportam e como tirar proveito delas para solucionar problemas, é preciso ser capaz de abstrair, inovar.

Talvez o maior problema dos engenheiros, que passa a imagem de insensibilidade para alguns de seus críticos, seja o próprio cartesianismo, ou seja, o tratamento de um problema sob determinados aspectos, ou seja, de forma fragmentada.

O paradigma emergente é holístico enquanto propõe o sentido inverso do cartesianismo, a saber: unir as partes para entender o todo, num resumo bem simplório.

Com o tempo, alguns engenheiros atingem essa condição. É quando a experiência profissional se funde com a de vida, em seu sentido mais amplo.

De fato, a busca pela solução de problemas práticos que afetam a vida de seres humanos e países tende a tornar os engenheiros profissionais focados, pragmáticos, objetivos, contrariando as visões de outras áreas do conhecimento. Nesse afã de resolver problemas, os engenheiros também se incomodam com certas divagações e conceitos. Mas a tendência é de incorporar o contraditório na equação que definirá a solução do problema. As novas tecnologias e práticas surgem desse processo “filosófico”, por envolver problemas existenciais, conhecimento e valores, tratados com base na razão, no desenvolvimento intelectual, e expressos na forma de soluções inovadoras, mas que não impedem a revisitação de práticas pregressas.

A função básica da Engenharia é de adaptar a natureza às necessidades humanas, mas para isso é preciso entendê-la, inclusive em suas imponderabilidades, o que não é fácil.

Há quem defenda condições que considere ideais, mas também estão sendo cartesianos, pois não consideram o “todo”, pois toda a ação tem consequências positivas ou negativas em algum aspecto. Alguns desses teóricos não se incluem nas propostas que formulam para seu “mundo ideal”. E quando alguém tenta implantá-las sem avaliar as consequências de forma holística, eles ou seus discípulos sempre argumentarão que a teoria não foi aplicada corretamente, espécie de tentativa de “sobrevivência ideológica”.

Engenheiros, médicos e outros profissionais que lidam com problemas práticos nunca terão essa justificativa, pois serão responsáveis diretos e inalienáveis pelas soluções aplicadas, pois mexem com a vida de pessoas de forma objetiva.

Todas as áreas de conhecimento têm sua importância para a humanidade. Porém, ela só será efetivamente benéfica para a solução de problemas quando tiverem a necessária visão holística da Filosofia como essência da vida do ser humano sobre a Terra, isenta de querelas deletérias, reunindo as partes em busca do entendimento consensual de causas e consequências, o que exige doses semelhantes de conhecimento, inteligência e sabedoria.

Cada um pode continuar puxando a “brasa para sua sardinha”, vivendo em sua “caverna de Platão”, ou apenas observando, de sua “torre de Montaigne”, mas será muito melhor construir um consenso, um “braseiro” que atenda a todos os apetites, numa área de convivência bem iluminada.

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

Deixe um comentário