VENTOS, TROVÕES E CORRENTEZAS: A FORÇA TRANSFORMADORA DE IANSÃ, XANGÔ E OBÁ
Nada é permanente, salvo a mudança.
Heráclito de Éfeso
Se o tempo fosse um cenário, 2025 seria uma tempestade completa: o vento de Iansã, o trovão de Xangô e as águas profundas de Obá moldando os caminhos do ano. Iansã, Xangô e, possivelmente, Obá, serão, segundo previsões da espiritualidade afro-brasileira, os grandes regentes do próximo ano. Quando essas três forças se encontram, não há espaço para estagnação. É um chamado – ou talvez uma imposição – para mudar, corrigir e resistir.
Na mitologia iorubá, Iansã (Oyá), senhora dos ventos, dos raios e das tempestades, carrega em si a cor vermelha e suas variações, que representam a força, o fogo da vida e a paixão pelo movimento. Ela é o impulso que não se detém, a coragem de romper com o que já não serve e a energia de transformação inevitável. Suas ventanias varrem os caminhos, revelando o que precisa ser visto – mesmo que doa. O vermelho também simboliza a vitalidade que impulsiona e a força feminina em seu estado mais guerreiro e independente.
Ao seu lado está Xangô, o Orixá do trovão e da justiça, que veste o vermelho e o branco. O vermelho de Xangô é o fogo da verdade e do poder, enquanto o branco traz equilíbrio e a sabedoria. O branco de Xangô não é apenas calma – é o intervalo entre relâmpagos, o instante de sabedoria que precede a ação. Xangô é imparcial e firme: pune os erros e corrige os desequilíbrios. É o juiz supremo que exige ordem onde reina o caos. Sua dualidade – paixão e moderação, ímpeto e reflexão – é a essência do verdadeiro poder. O fogo de Xangô não destrói por acaso – ele purifica.
Em 2025, uma presença adicional se revela com força: Obá, a Orixá das águas revoltas, das margens que resistem ao rio e da coragem silenciosa. Obá veste o vermelho profundo e o marrom, cores que evocam a terra firme e a luta resiliente. O marrom de Obá não é apenas a cor da terra – é a raiz que sustenta, a base que resiste às correntezas. Enquanto Iansã comanda o vento e Oxum governa as águas doces e calmas, Obá personifica as correntezas fortes e os sacrifícios que moldam quem somos.
Obá era irmã de Iansã, e ambas, junto a Oxum, foram esposas de Xangô. Sua história carrega dor e superação. Apaixonada por Xangô, ela foi enganada por Oxum, que, em uma trama ardilosa, a convenceu a cortar uma orelha como prova de amor. Obá acreditou que o sacrifício a tornaria única aos olhos do rei, mas foi rejeitada. Humilhada, retirou-se para os rios caudalosos, transformando sua dor em força e tornando-se símbolo de resiliência, superação e amor próprio.
A regência de Iansã, Xangô e Obá traz mensagens complementares e profundas para 2025. Iansã nos empurra para fora do comodismo, lembrando que mudanças, por mais difíceis que sejam, são necessárias para abrir espaço ao novo. Xangô carrega o peso da justiça: será um ano de verdades reveladas e de consequências inevitáveis. Ele exige ética e responsabilidade, tanto no plano pessoal quanto no coletivo. Já Obá nos ensina a força do renascimento: perdas e rejeições não precisam ser o fim, mas o ponto de partida para uma demonstração de coragem ainda maior.
No Brasil, as tradições afro-brasileiras são vivas e sagradas. Os Orixás não são apenas arquétipos: são energias que moldam o cotidiano. Suas cores, usadas nas celebrações, reforçam suas mensagens. Ao saudar Iansã com Eparrei!, o vermelho nos lembra sua força incontrolável. Ao invocarmos Xangô com Kaô Kabiesilé!, suas cores revelam que a justiça, mesmo severa, busca o equilíbrio. E quando reverenciamos Obá com Obá Xirê!, seu vermelho profundo e marrom nos convidam a resgatar a dignidade nas águas turbulentas.
2025 será um ano de tempestades necessárias. As mudanças virão com os ventos de Iansã, as verdades ecoarão nos trovões de Xangô, e a resistência florescerá nas águas de Obá. Não haverá tempo para acomodação. Será o momento de agir, reparar e crescer. Que possamos, então, dançar com o vento, ouvir o julgamento dos trovões e encontrar, nas águas mais profundas, a bravura de seguir adiante.
Porque o mundo não para – ele gira, ruge e se transforma, como os Orixás que o regem.