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Inteligência Artificial nas escolas brasileiras: dos desafios ao futuro da educação

Por Marcelo Vieira

A integração da Inteligência Artificial (IA) no ambiente escolar é uma tendência promissora para transformar o setor educacional brasileiro, pois oferece novas formas de aprendizagem e de personalização. Contudo, a adoção da tecnologia ainda enfrenta barreiras significativas no país, tanto no que diz respeito à infraestrutura e à formação de professores quanto às questões éticas e culturais envolvidas nesse processo.

De acordo com a pesquisa “Perfil e Desafios dos Professores da Educação Básica no Brasil”, apenas 4,8% dos professores concordam parcial ou totalmente com o uso da IA na aprendizagem, e 39,2% afirmam já utilizar a tecnologia como ferramenta pedagógica regularmente. Esses dados revelam uma lacuna considerável entre a aceitação da tecnologia e sua aplicação nos ambientes de aprendizagem.

Desafios para a comunidade escolar e as famílias

A falta de infraestrutura adequada em parte das instituições é um dos entraves para a adoção da IA. Muitas escolas não possuem equipamentos suficientes, internet de alta qualidade ou softwares que suportem o uso de ferramentas avançadas. Esse problema é especialmente visível em regiões mais carentes do país, onde a desigualdade tecnológica dificulta a integração da IA como uma ferramenta de aprendizagem. Além disso, a ausência de planejamento estratégico agrava essa situação, uma vez que a tecnologia, incluindo a IA, não está inserida em projetos pedagógicos de maneira coerente e integrada.

Outro desafio nesse cenário é a adequação dos professores. Há uma crença equivocada de que os estudantes, por serem nativos digitais, já possuem uma fluência natural em tecnologia, o que muitas vezes impede um avanço mais significativo no uso da IA como ferramenta pedagógica. No entanto, não só os estudantes como também os professores precisam de formaçãoespecífica para compreender e aplicar a IA de forma positiva. Isso inclui o domínio das ferramentas e a abordagem de temas como ética no uso da IA, design thinking e criatividade no ambiente de aprendizagem.

Os educadores também precisam se familiarizar com a aprendizagem de computação presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que oferece diretrizes para a integração da tecnologia no currículo escolar. Contudo, essa familiarização por si só não basta; é necessário que os docentes recebam formação prática e contínua, que os capacite a utilizar as ferramentas de IA de maneira crítica e eficaz e a integrá-las de forma criativa, mantendo seu papel como mediador e orientador do processo de aprendizagem.

As escolas, por sua vez, devem desenvolver um projeto pedagógico que contemple a tecnologia em todos os seus segmentos, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, incluindo a IA como parte dessa proposta. Além disso, esse projeto ainda deve ser construído em conjunto com toda a comunidade escolar, envolvendo professores, estudantes e pais.

Do lado das famílias, os desafios são igualmente relevantes. Muitos pais temem que o uso da IA comprometa a privacidade e a segurança dos dados de seus filhos, além de questionarem o impacto da tecnologia no desenvolvimento emocional e social dos estudantes. Outras preocupações incluem a padronização da aprendizagem, que é marcada pela perda da individualidade no processo educativo, a possibilidade de substituição dos professores por máquinas e a diminuição da interação humana no processo. Para lidar com essas questões, é importante a adoção de uma comunicação aberta e transparente, além de garantir que a IA seja usada de forma complementar e não para substituir o papel dos educadores.

A resistência à mudança também é um desafio a ser enfrentado por parte dos gestores escolares. Muitas vezes, a introdução de ferramentas de Inteligência Artificial pode ser vista como uma ameaça à prática docente tradicional, gerando receios quanto à sua eficácia e ao seu impacto. Para mitigar essa oposição, é fundamental que as instituições adotem estratégias que promovam a adesão e o engajamento, como abordar as preocupações e mitos em torno da IA e apresentar casos concretos de sucesso do uso da tecnologia na educação, a fim de construir uma relação de confiança e colaboração.

Implicações éticas

Entre as principais implicações éticas da Inteligência Artificial na educação a serem consideradas pela comunidade escolar está a garantia da privacidade de dados e da segurança cibernética, além da equidade e inclusão. Isso, porque os algoritmos de IA podem perpetuar vieses existentes na sociedade, levando a desigualdades no acesso à educação e às oportunidades.

Ainda é de extrema importância que as escolas utilizem a IA de forma responsável, respeitando a autonomia e a criatividade dos estudantes. Embora possa ser uma ferramenta poderosa, a Inteligência Artificial não deve ditar o processo de aprendizagem, limitando a capacidade dos estudantes de explorar e pensar criticamente.

Da mesma forma, a tecnologia não deve substituir o professor, mas sim complementar seu trabalho, facilitando a personalização da aprendizagem e liberando-o para atender às necessidades individuais dos estudantes. Os educadores devem ser mediadores do conhecimento, promovendo a interação humana e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

O futuro da IA na educação

Olhando para o futuro, as tendências apontam para uma personalização avançada no processo de aprendizagem. A IA poderá oferecer roteiros de estudo adaptativos, ajustados ao comportamento e às necessidades cognitivas de cada estudante, por exemplo. Assistentes virtuais e plataformas de tutoria inteligente também desempenharão um papel relevante.

Outras inovações incluem a integração de realidade virtual e aumentada, criando experiências de aprendizagem mais imersivas e interativas que tornam os conteúdos mais engajadores e fáceis de compreender, e a IA que tornará os algoritmos mais transparentes e fáceis de auditar. A análise de dadosrealizada por Inteligência Artificial ainda apoiará a identificação de padrões de aprendizagem, permitindo que os professores façam ajustes pedagógicos mais precisos e eficazes.

Marcelo Vieira é Professor de Tecnologia Educacional do Colégio Santa Marcelina de São Paulo da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.

Para ilustrar todo poder e aplicabilidade da IA, algumas ferramentas que já estão sendo utilizadas nas instituições incluem plataformas de aprendizagem adaptativa (Khan Academy, Duolingo), sistemas de tutoria inteligente (Khanmigo) e ferramentas de criação de conteúdo personalizado (Google Classroom).

No panorama atual, a realidade brasileira exige considerar os desafios específicos da educação em relação à implementação da IA, como a desigualdade digital e a falta de recursos. No entanto, também é preciso destacar as iniciativas e projetos que estão sendo desenvolvidos no país para promover a integração da IA na educação, como programas de formação, desenvolvimento de ferramentas específicas e a criação de políticas públicas para impulsionar a inclusão digital.

A adoção da IA nas escolas do país ainda é um caminho repleto de barreiras, mas também de grandes oportunidades. Para que a IA cumpra seu verdadeiro potencial na educação, é necessário um esforço conjunto entre escolas, professores, pais e governo, com investimentos em infraestrutura, formação continuada e projetos pedagógicos integrados. Só assim será possível garantir que a IA seja uma ferramenta inclusiva, ética e transformadora, capaz de preparar as novas gerações para os desafios do futuro, sem perder de vista a importância da interação humana e do desenvolvimento socioemocional.

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