Mudanças naturais na deglutição, associadas a doenças comuns em idosos, aumentam os riscos de complicações graves. A Fonoaudiologia desponta como aliada essencial no diagnóstico e tratamento.
O envelhecimento populacional é uma das mudanças demográficas mais marcantes do século XXI. No Brasil, a população acima de 60 anos deve alcançar cerca de 37% até 2050, segundo o IBGE. Este cenário exige atenção especial a condições comuns dessa faixa etária, como a presbifagia e disfagia – dificuldade de engolir alimentos e líquidos. O problema, que pode passar despercebido em seus estágios iniciais, é influenciado tanto pelo envelhecimento natural do corpo quanto por doenças que afetam significativamente a população idosa, como o AVC, Parkinson e as demências.
O impacto do envelhecimento na deglutição
Mesmo em idosos saudáveis, o envelhecimento provoca mudanças fisiológicas na estrutura da deglutição. A musculatura responsável pelo ato de engolir enfraquece e os reflexos tornam-se mais lentos, aumentando o risco de aspiração de alimentos e saliva para os pulmões e consequente pneumonia aspirativa. Essas alterações podem dificultar não apenas a ingestão de alimentos, mas também comprometer a qualidade de vida.
Doenças neurológicas e aumento dos casos de disfagia
Além do envelhecimento natural, condições como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), Parkinson e demências aumentam significativamente a prevalência de disfagia na terceira idade. Estima-se que até 50% dos pacientes com AVC e cerca de 80% dos idosos com Parkinson enfrentem dificuldades para deglutir. Esses números são um alerta para a necessidade de diagnóstico precoce, tratamento adequado e políticas públicas.
Implicações da disfagia: riscos e impactos na saúde
- Desnutrição e Desidratação: A dificuldade para engolir compromete a ingestão de alimentos e líquidos, levando a quadros de desnutrição e desidratação.
- Pneumonia Aspirativa: A aspiração de partículas de alimento ou líquidos para os pulmões pode causar infecções graves, sendo uma das principais causas de morte relacionada à disfagia.
- Comprometimento Psicológico: O medo de engasgar e as restrições alimentares podem levar ao isolamento social e à depressão, prejudicando o bem-estar emocional do idoso.
O papel da Fonoaudiologia: diagnóstico e tratamento
A Fonoaudiologia desempenha um papel essencial na identificação e no manejo da disfagia. A atuação do fonoaudiólogo inclui:
- Avaliação e Diagnóstico: Avaliações específicas com esse idoso comendo, além de exames direcionados, como a videofluoroscopia, ajudam a identificar alterações na deglutição.
- Terapia Personalizada: Estratégias como exercícios para fortalecimento muscular, mudanças na consistência alimentar e uso de técnicas de compensação minimizam os riscos e restauram a capacidade de deglutição.
- Educação e Prevenção: Orientações para cuidadores e familiares são fundamentais para garantir a segurança e a qualidade de vida dos pacientes.
O cuidado integrado como solução
“Diante do aumento da expectativa de vida e das taxas de envelhecimento, a presbifagia e a disfagia precisam ser reconhecidas como prioridade em políticas de saúde pública. Investimentos em prevenção, diagnóstico precoce, tratamentos acessíveis e conscientização são passos fundamentais para mitigar os impactos da condição”, destaca a Fonoaudióloga vice-coordenadora do Departamento de Disfagia da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Dra. Carolina Silvério, e que exemplifica uma ação simples no campo da prevenção, como o desenvolvimento de cartilhas educativas estimulando a população ao exercício preventivo e de manutenção da estrutura muscular responsável pela deglutição.
O Congresso Brasileiro da SBFa criou o ecossistema da disfagia, espaço onde expositores estarão apresentando soluções que auxiliam tanto o exercício como a alimentação de pessoas disfágicas.
A presbifagia e a disfagia na terceira idade não são apenas reflexos do envelhecimento, mas sinal de que o cuidado com a saúde deve ser ampliado e integrado. A Fonoaudiologia se apresenta como uma aliada indispensável, contribuindo para um envelhecimento mais saudável e com maior qualidade de vida.
Fonte profissional entrevista: Dra. Carolina Silvério
Fonoaudióloga, Doutora em Ciências pela Unifesp e especialista em Disfagia. Atual Vice-Coordenadora do Departamento de Disfagia da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
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