Adilson Luiz Gonçalves Colunistas

LIVRO: UM GRANDE PRESENTE!

LIVRO: UM GRANDE PRESENTE!

Ganhei meu primeiro livro num Natal! Eu tinha seis anos, trezentos e sessenta e três dias… Até hoje lembro do título: “Contos Maravilhosos”, uma coletânea de fábulas, repleta de dragões, fadas, feiticeiras, cavaleiros, reis e príncipes. Mas, além dos personagens exóticos, vilões traiçoeiros e cruéis, e guerreiros destemidos havia algo que, igualmente, me fascinava: as palavras!

“Ricamente ajaezado”, “canto mavioso”, “potestades”, “manto de urtigas silvestres”, “bodas reais” e muitas outras expressões despertaram minha curiosidade e a utilidade de um tradutor que consulto até hoje: o dicionário!

No ano seguinte ganhei: “Histórias da Mata Virgem” e, de repente, passei a gostar de ganhar livros, e de devorá-los sem discriminação.

Por volta dos doze anos, resolvi imitar meus colegas numa de suas “artes” preferidas: apertar campainhas e sair correndo. Fiz isso algumas vezes no apartamento embaixo do meu, até que um dia meu pai disse que o vizinho o havia procurado, e pedira que eu fosse conversar com ele.

Lá fui eu, sem nenhum preparo para enfrentar esse tipo de dragão: assumir meus atos!

Toquei a campainha com vontade de sair correndo, não por brincadeira, mas por absoluto pavor! Quando a porta foi aberta, a vizinha atendeu como se já soubesse quem era, sorriu e chamou o marido.

Ele veio com uma expressão tranquila e convidou-me a entrar.

Pedi desculpas pela estripulia infantil e, como castigo, fui convidado a voltar sempre que quisesse. Os dois eram professores de escola pública e tinham uma bela biblioteca, pela qual me apaixonei imediatamente, principalmente pela Enciclopédia Disney. Foram várias visitas vespertinas, cujo principal divertimento era ler histórias para as filhas deles, com direito a lanche. Mais tarde, ele foi meu professor de inglês!

Meu pai, atento ao meu gosto, fez um pacto comigo: sempre que eu tirasse média superior a nove ele me daria um livro. O resultado foi: “O Príncipe e o Mendigo”, “Um Ianque na Corte do Rei Arthur”, “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, “O Raio Verde” (dá para perceber que eu virei fã de Jules Verne), “Quo Vadis”, “O Ladrão de Bagdá”…

Meu irmão mais velho começou a ter aulas de literatura, e fui apresentado à: “Olhai os Lírios do Campo” (Ah, Érico Veríssimo!), “A Moreninha”, “Dom Casmurro” (Fantástico Machado de Assis!), “Memórias de um Sargento de Milícias”…

O tempo passou e nós mudamos para uma casa. Minha mãe logo fez amizade com um vizinha, Dna. Marly. Ao saber de minha paixão por livros, ela emprestou uma pilha deles, todos clássicos modernos. “Por quem os Sinos Dobram”, “Beau Geste”, “As Chaves do Reino”, “Como era Verde meu Vale”, “A Morada da Sexta Felicidade”… Eu já tinha visto todos os filmes, mas as “imagens” dos livros eram muito mais fascinantes.

Então, meu irmão do meio começou a trabalhar numa livraria. Quando ele avisava que ia haver uma “Feira do Livro”, meu pai me dava dez cruzeiros, e eu trazia a maior quantidade de livros que eu pudesse. Uma vez trouxe, numa batelada só: “A Verdade sobre a FEB”, “Limite de Segurança”, “O Homem que Sonhou com a Copa do Mundo”, entre outros.

Comecei a trabalhar, além de estudar e, num momento de tristeza, li a Bíblia inteira. Depois, li Dumas, Victor Hugo, Kafka, Sheldon, West, Sabino, Clarke, Milton…

Outro dia, por conta de um amável convite para proferir uma palestra sobre o ato de escrever, fiz uma revisão de meu processo de aquisição do gosto pela leitura: primeiro vieram os livros só com figuras; depois os com grandes figuras e pequenos textos, seguidos dos com figuras e textos, equilibrados em espaço. Na sequência foram os com várias páginas de textos, entremeadas por algumas, poucas, com resumos de imagens. De repente, a presença de imagens passou a ser irrelevante, diante da capacidade de imaginar os cenários e situações descritos pelo autor.

Quem lê pensa melhor, argumenta melhor, aprende melhor, escreve melhor e preenche seu tempo melhor. É capaz de viajar pelo mundo, real ou da fantasia, por si próprio, pela história ou pelo universo sem sair do lugar, e de primeira classe!

E esse “passaporte” sempre estará à disposição, na prateleira ou na cabeceira da cama.

Há presentes que saem de moda, evaporam ou ficam gastos com o tempo, mas nunca um livro! Pelo contrário, ele sempre será um presente fantástico para quem ainda não o leu!

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitários e membro da Academia Santista de Letras

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