A palavra mosaico, teria origem grega, denominando a técnica de juntar pedras ou outros materiais para formar imagens.
Os mosaicos bizantinos, produzidos entre os séculos IV e XV, provavelmente influenciaram os artesãos lusitanos, cuja técnica passou a ser conhecida como “mosaico português”. Existem vários exemplos no Brasil, como o padrão “Copacabana”, em forma de onda. O Estado de São Paulo também tem o seu. Enfim, há espaço para criatividade.
Trabalhei em obras públicas tempo suficiente para formar convicção um pouco mais ampla sobre esse tipo de revestimento.
Concordo que pisos de mosaico de pedra são lindos, quando vistos de cima e a distância, do alto de um prédio, voando, ou em fotos de drones, ou satélites. No entanto, sua execução, manutenção e condição de trânsito merecem algumas considerações normalmente não observadas por quem projeta.
Certa vez, pediram que eu fizesse uma lombada com mosaico, em via pública. Avisei que isso não funcionaria. Contra-argumentaram, em tom malicioso, com o que descobri ser uma “frase feita” de quem nunca executou ou fez manutenção: “Quando não é bem feito, nada dura”.
Funcionou por pouco tempo.
Esse tipo de piso é normalmente executado assentando as pedras sobre uma base de areia, rejuntando-as com uma “farofa” de areia e cimento para, em seguida, aspergir água na superfície. A técnica é simples. O problema está nas condições ambientais e de uso do piso, no caso de áreas públicas sujeitas a intempéries.
Pode ser assentado com argamassa? Pode, mas isso só adia os problemas.
Há pisos antigos de mosaico português, praticamente originais, cujas pedras mais pareciam pastilhas, de tão pequenas e bem facetadas, resultando em juntas mínimas entre elas.
Hoje, as pedras disponíveis no mercado são grandes e disformes, gerando superfícies desniveladas e juntas largas e irregulares. Um desnível de milímetros pode ocasionar um tropeço que, no caso de idosos e crianças, pode ter consequências graves. Isso sem falar no desconforto para quem usa saltos altos.
Com o tempo, as chuvas deterioram o material das juntas, e o trânsito de veículos, ou a falta de civilidade de indivíduos, fazem com que as pedras se soltem, aumentando o risco de acidentes e fornecendo “munição” para vândalos.
Há outros fatores a considerar: a execução de pavimentos em mosaico e paralelepípedos de pedra é penosa, ergonomicamente, e lenta, além de submeter os operários a chuva e sol. As manutenções também são complexas, pois é quase impossível repetir o desenho original. No caso de pedras brancas, a limpeza é complicada e restrita, e os reparos destacam os remendos.
Há quem diga que são pisos ecológicos. No entanto, as pedras são obtidas via extrativismo mineral de blocos, e de um processo de fragmentação que, feito manualmente, lembraria campos de trabalho forçado.
Um mestre de obras bastante experiente me contou que, quando da execução um desses pisos numa praça pública, seu chefe reclamou do formato das pedras, sugerindo que elas fossem cortadas com serra circular, na obra. O mestre concordou, desde que o chefe segurasse as pedras.
Recentemente, quando voltaram a sugerir o uso de mosaico de pedra em área pública, eu e um colega, também engenheiro, ponderamos sobre os problemas de execução e manutenção, para mais uma vez ouvirmos, ironicamente, a frase feita: “Quando não é bem feito, nada dura”.
Não digo que esse tipo de revestimento deva ser evitado, mas sua especificação deve considerar todos os aspectos que mencionei, e não apenas os estéticos.
Há outras técnicas e materiais que podem ser utilizados, com vantagens.
Meu medo é que quem discorde atire a primeira pedra, alegando que não foi bem feito…
Adilson Luiz Gonçalves
Engenheiro, Pesquisador Universitário, Escritor e membro da Academia Santista de Letras