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USO EXCESSIVO DE TECNOLOGIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA

USO EXCESSIVO DE TECNOLOGIAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA

LAYANE EVELIN VIEIRA RODRIGUES

NILTOM VIEIRA JUNIOR

RESUMO

Este artigo, apresenta fatos e fatores a respeito das discussões sobre o uso excessivo de tecnologias na primeira infância, apresenta estudos que analisam os impactos que esta prática traz a longo prazo para uma criança em idade de formação. Possui como principal objetivo verificar como e o quanto estas práticas afetam o nível de aprendizado e o desenvolvimento de crianças em sua primeira infância, dos 0 aos 7 anos de idade. O estudo também apresenta um levantamento bibliográfico que pode ajudar pesquisas futuras.

ABSTRACT

This article presents facts and factors regarding discussions about the excessive use of technologies in early childhood, presenting studies that analyze the long-term impacts that this practice has on a child of formative age. Its main objective is to verify how and to what extent these practices affect the level of learning and development of children in their early childhood, from 0 to 7 years of age. The study also presents a bibliographical survey that can help future research.

PALAVRAS CHAVE: primeira infância; tecnologia; desenvolvimento infantil, Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)

  1. INTRODUÇÃO

A utilização dos meios de comunicação digital se tornou presente na sociedade a partir da década de 1990, quando houve uma expansão rápida e muito abrangente da tecnologia a nível mundial. Com o passar do tempo, os aparelhos tecnológicos, antes usados de forma restrita por adultos e apenas para fins profissionais, começaram a ser atualizados, tornando-se cada vez menores e mais práticos, o que tornou sua utilização acessível para qualquer faixa etária (Rocha, 2022). 

A exposição ao entretenimento digital tem se tornado comum cada vez mais cedo, abrangendo até mesmo bebês na sociedade moderna. Embora a tecnologia tenha grande relevância para a humanidade nos processos de aprendizagem, o uso excessivo e indiscriminado das telas pode estar associado a efeitos colaterais diversos como sedentarismo, patologias cardíacas, musculares e até mesmo distúrbios sociais como depressão e ansiedade (Rocha, 2022).     

Além disso, a comunicação e interação social tem sido ressignificada à luz dos dispositivos tecnológicos presentes na sociedade contemporânea. Seguindo essa tendência, as relações entre as crianças também se tornaram alvo dessa metamorfose. Aplicativos de diálogos instantâneos e redes sociais permitem que elas se conectem com pares de qualquer local do mundo, o que fomenta a criação de novas amizades e o compartilhamento de novas experiências. Entretanto, em grande parte do tempo às crianças são usuárias da rede, não estão sendo supervisionadas, o que as tornam vulneráveis aos desafios e perigos do mundo online (Ferreira, 2022)

Carvalho (2019) afirma que às crianças nascidas no século XXI sofrem ainda mais influência da tecnologia frente às demais gerações, ele atribui isso ao fato de que essas já são “nativas digitalmente”, a partir do momento que nascem já estão ligados e de certa forma dependentes da tecnologia atual, diferentemente de pessoas mais velhas, que foram se adaptando ao novo modelo social.

As brincadeiras que eram comuns na infância como pular corda, pega-pega, carrinhos e bonecas e tantas outras estão sendo substituídas, de forma súbita, por telas de celulares, computadores ou tablets.  Atualmente, o celular tornou-se prioridade na hora de brincar quando comparado às brincadeiras ao ar livre e por essa razão, torna-se cada vez, por essa razão, torna-se cada mais importante estudar e entender as consequências desta prática (Silva; Bortolozzi; Milani, 2019). Para tanto, por meio de uma pesquisa exploratória de caráter descritivo, apresenta-se uma revisão bibliográfica relacionada à temática.

  1.  TECNOLOGIA

É notável que desde a criação do computador, diversos outros instrumentos tecnológicos foram desenvolvidos, advento da internet fez com que todos estes aparelhos pudessem se conectar em uma esfera mundial. Logo, a tecnologia possibilitou a integração e a comunicação social (Ferreira, 2022)

A internet tomou forma e alcançou pessoas de todos os locais do mundo, tornando-se um excelente meio de comunicação ainda no final dos anos 90. Atualmente, essa tecnologia já faz parte do cotidiano da sociedade moderna. Segundo as Nações Unidas, o acesso à internet já configura um direito humano básico, pois se mostra como um instrumento de transformação, possibilitando ao indivíduo o seu exercício social e político. (Laranjeira, et.al. 2021)

A partir deste movimento tecnológico transformador, acende-se uma preocupação em relação ao uso excessivo da tecnologia, pois, é necessário conhecer os riscos que essas conexões podem causar na vida humana. Alguns estudos já demonstram que a exposição intensa às telas pode ocasionar um processo de remodelação dos circuitos cerebrais, que pode ser responsável, em longo prazo, por mudanças comportamentais e cognitivas em todas as faixas etárias. (Rich, 2013)

  1. INFÂNCIA

Infância é definida como o período que vai desde o nascimento de um indivíduo até os seus doze anos de idade. Esse período é considerado primordial para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança. O uso inadequado de tecnologias pode gerar perigo frente aos desenvolvimentos humanos básicos. (Madigan et al., 2019)

Compreende-se que nesse período acontecem diversas transformações cognitivas, motoras e no próprio corpo da criança. Nesse sentido é importante salientar que a tecnologia pode interferir de forma direta nestes processos.

Com isso é necessário entender o momento certo de introduzir na vida da criança o uso das tecnologias e como esse processo ocorre. Durante os três primeiros anos de vida o cérebro da criança passa por transformações significativas, é nesse período que acontece o seu principal amadurecimento anatômico e fisiológico, os neurônios criados durante a gestação agora passam pela fase de crescimento, fato esse que pode ser influenciado e estimulado pelo contexto ambiental no qual está inserido (Costa, L. 2020)

Cientistas fundamentam a ideia de que a criança não consegue ter seu amadurecimento mental sozinha, é necessário que as pessoas ao seu redor, por meio do ambiente e dos estímulos forneçam a ajuda necessária para que o processo se concretize. Vigotsky, Wallon confirmam ainda que o indivíduo não se resume somente à parte biológica, pelo contrário, a sua essência social é desenvolvida frente às diversas situações em que se encontra. (Postolache, 2016)

Baseado nisso a literatura têm cada vez mais, defendido a ideia de que para um desenvolvimento social saudável da criança é necessário que exista relações interpessoais, interações com o outro e principalmente brincadeiras que envolvam psicomotricidade, na qual o indivíduo será constantemente exposto a estímulos motores, lúdicos e sensoriais. (Costa, L. 2020)

Apesar da mudança do comportamento humano frente a tecnologia ser uma tendência mundial crescente, ela deve ser inserida com moderação no meio familiar e principalmente na vida das crianças. A Associação Brasileira de Pediatria (2019) defende que as telas digitais só devem ser conhecidas pelas crianças a partir dos dois anos de vida, para isso é necessário a desestimulação ou até mesmo a proibição desta prática por parte dos pais. (Costa, L. 2020)

Costa (2020) afirma que isolamento familiar, distúrbios oftalmológicos, hiperatividade, falta de concentração, aumento do índice de massa corporal e predisposição a álcool e drogas são apenas alguns dos malefícios que o excesso de telas pode ocasionar na vida de crianças e adolescentes.  Câmara (2020) conclui através de seus estudos que irritação, sonolência e choro excessivo se fazem presente na maioria das crianças que são expostas a telas por um longo período de tempo.

Arantes e Morais (2021) realizaram um estudo com pais de crianças de 0 a 6 anos de vida que estavam internadas na pediatria de um hospital do Distrito Federal, 100% dos participantes relataram fornecer aparelhos tecnológicos para seus filhos antes dos dois anos de idade, e desses, 80% ainda forneceu telas antes de 1 ano de idade.

Os estudos recentes apresentam como resultado comum a exposição precoce de tecnologia a qual as crianças vêm sendo cada vez mais submetidas, conclusão que distorce totalmente a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (2019) na qual afirma que no primeiro ano de vida, fontes naturais e reais de estímulos são as mais necessárias. (Ahmed et al., 2019)

Todos esses dados corroboram a necessidade de que informações assertivas sejam fornecidas aos pais e a sociedade em geral para que exista uma revisão dos costumes e comportamento que estão sendo repassados entre as gerações.

  1. PANDEMIA DO COVID 19

Em concomitância a esse cenário, a sociedade ainda vivencia as consequências deixadas pela pandemia do COVID 19, que ocasionou diversas alterações no cotidiano de indivíduos e famílias, mudando de forma drástica os hábitos e costumes já tidos como normais. Tal fato também potencializou a expansão do uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), em diversos cenários diários, como: trabalho remoto, fonte de informações e também como forma de entretenimento que é utilizada por pessoas de todas as idades, idosos, adultos, adolescentes e crianças, inclusive em sua primeira infância.

Desta forma, este artigo busca acrescentar informações a respeito do assunto desenvolvido, trazendo mais clareza aos pais e responsáveis sobre o uso excessivo desta ferramenta, que é a internet, por crianças em sua fase de desenvolvimento inicial, a primeira idade.

  1. DISCUSSÃO

Arantes e Morais (2021) apresentam através dos dados obtidos em sua pesquisa uma alta prevalência de uso de dispositivo de mídia pelas crianças, uma vez que todos os entrevistados afirmaram acessar algum dispositivo de tecnologia pelo menos uma vez ao dia. O estudo ainda afirma que 100% das crianças participantes da pesquisa iniciaram o uso dos dispositivos antes dos dois anos de idade, período ainda considerado prematuro pela Sociedade Brasileira de Pediatria. (SBP)

Em relação ao período em que as crianças ficam expostas às telas digitais, Arantes e Morais (2021) concluíram que mais da metade das crianças participantes da pesquisa utilizam por mais de 2horas/dia, esse resultado reforça a pesquisa de Nobre et.al. na qual evidenciou que um terço das crianças utilizam dispositivos digitais mais de 3 horas por dia

A SBP emitiu um manual, em concordância com outras orientações internacionais, limitando o máximo de 2 horas por dia de exposição para crianças entre 6 e 10 anos, e menos tempo para crianças de menor idade.

Paiva e Costa (2015) afirmam que quando existe o uso excessivo de mídias digitais na infância, aumenta-se o risco de distorções na saúde física, mental e social das crianças, o que pode acarretar comprometimentos cognitivos como problemas na fala e no sono, ou até mesmo distúrbios relacionados ao humor, tendo em vista que essa exposição exacerbada de telas torna às crianças “desligadas da realidade”.

A pesquisa de Paiva e Costa (2015) ainda apresenta que a ansiedade e agressividade presente nos participantes da pesquisa podem estar associada ao fato do exagero de acesso a tecnologia desse público, uma vez que não se tem limite no uso de aparelhos de mídia digital, diante disso, os resultados apontam que devem existir acordos realizados em parceria entre pais e filhos a fim de padronizar regras e horários.

Apesar da necessidade de regulação do uso de telas, Arantes e Morais (2021) alertam que grande parte das crianças e até mesmo dos pais, apresentam dificuldade de reconhecer o risco dessa exposição desenfreada, consequentemente, a imposição de limites e regras se torna cada vez mais complexa.

Estudos apontam que um outro fator influenciador para exposição precoce de crianças às telas digitais é a ausência de tempo que os pais possuem para se relacionar com os filhos. Uma vez que a televisão, jogos, ou até mesmo smartphones tem sido visto como uma maneira de compensar essa ausência.

Em contrapartida, Nobre et al. (2021) enfatizam que alguns aplicativos de cunho educacional podem se tornar benéficos para o desenvolvimento da criança, contribuindo para o seu desenvolvimento lexical, da leitura, da fala ou até mesmo na aprendizagem de um novo idioma. Corroborando com a mesma opinião, Russo-Johnson et al. (2021) consideram o uso de tablets importante na aprendizagem e interatividade da criança.

Nobre et al. (2021) aponta ainda que as condições de escolaridade de uma família influenciam de forma significativa na incidência de tecnologia a qual às crianças daquele lar serão submetidas. Os resultados apontaram que quanto maior o nível de escolaridade dos pais, maiores oportunidades de estimulação os filhos terão em casa, consequentemente, menos uso de telas se fará necessário.

Levando em consideração a relevância do assunto, às inúmeras variáveis pertencentes e às possíveis consequências que acarreta, o número de pesquisas no Brasil relacionadas ao tempo das crianças nas telas ainda são consideradas insuficientes. Diante disso o presente estudo, buscou compreender as descobertas já realizadas a respeito dessa temática, objetivando contribuir na construção do conhecimento relacionado ao desenvolvimento infantil.

  1. CONCLUSÃO

Esse estudo teve como objetivo investigar e fomentar reflexões relacionadas ao uso exacerbado de tecnologia cada vez mais presente entre as crianças, compreendendo as variáveis que às tornam suscetíveis a esse processo, além dos inúmeros impactos que isso pode ocasionar no desenvolvimento psicológico, afetivo e até mesmo motor das mesmas. Foi realizada uma revisão bibliográfica da literatura a fim de encontrar as principais pesquisas e os respectivos resultados realizados com essa temática.

A partir da estratificação de dados foi possível observar que já existem resultados acerca do uso excessivo de tecnologias, os malefícios dos usos das telas, a importância do ato de brincar durante a infância e o protagonismo pertencente aos pais nesse processo.

Como conclusão, é notável que apesar dos benefícios da tecnologia, a sua inserção precoce pode acarretar malefícios na vida das crianças. Desses, alguns podem gerar obstáculos para a vida toda.

  1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRANTES, Flávia Gava Bandeira; ALMEIDA, Karla Nascimento de. Tecnologias digitais e educação infantil: impactos do uso excessivo na primeira infância. 2018. Disponível em: encurtador.com.br/klstK. Acesso em: 21 abril 2024.

AHMED, Camila Miguez de Oliveira et al. Aspectos relacionados ao uso da mídia eletrônica por crianças atendidas em um ambulatório escolar no município do Rio de Janeiro. Residência Pediátrica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 120-124, 2018. Disponível em: https://cdn.publisher.gn1.link/residenciapediatrica.com.br/pdf/v10n2a18 Acesso em: 30 março 2024.

ANJOS, Cleriston Izidoro dos; FRANCISCO, Deise Juliana. Educação infantil e tecnologias digitais: reflexões em tempo de pandemia. Zero-a-Seis, Florianópolis, v. 23, p. 125-146, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/79007/45378. Acesso em: 06 de abril 2024.

ARANTES, Maria do Carmo Batista; MORAIS, Eduardo Alberto de. Exposição e uso de dispositivo de mídia na primeira infância. Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS/SES-DF, Programa de Residência Médica em Pediatria – Brasília – Distrito Federal – Brasil. 2021.

CÂMARA, Veloso Hortência et al. Principais prejuízos biopsicossociais no uso abusivo da tecnologia na infância: percepções dos pais. Revista multidisciplinar e de psicologia, Tocantins, v. 14, n. 51, p. 366-379, 2020. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/2588. Acesso em: 20 maio 2020.

COSTA, L.; Almeida, M. A substituição do brincar: implicações do uso de tecnologias por crianças de 0 a 2 anos . Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/items/eb283c63-e7dc-4887-b88d-1b7bf1e7a023 Acesso em: 12 abril 2024.

LARANJEIRAS, Ana Letícia Canuto. O uso excessivo das tecnologias digitais e seus impactos nas relações psicossociais em diferentes fases do desenvolvimento humano. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/view/8964/4532 Acesso em: 14 abril 2024

MADIGAN, S., Browne, D., Racine, N., Mori, C., & Tough, S. (2019). Association between screen time and children’s performance on a developmental screening test. JAMA pediatrics, 173(3), 244-250. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/27476/24020/320582  Acesso em: 15 abril 2024.

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PAIVA NMN, Costa JS. A influência da tecnologia na infância: desenvolvimento ou ameaça? Psicologia.pt [Internet]. 2015 [acesso 2021 Jan 10]. Disponível em: https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0839.pdf Acesso em: 20 Jul 2024.

POSTOLACHE, E. Mediação parental do uso de tecnologias digitais por crianças com menos de dois anos em diversos contextos culturais. Dissertação (Mestrado) – Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Ciência da Comunicação, Estudos dos Media e de Jornalismo, Lisboa, 2018, p. 86. Disponível em: https://run.unl.pt/handle/10362/51771 Acesso em: 20 maio 2024

RUSSO-JOHNSON C, Troseth G, Duncan C, Mesghina A. All tapped out: touchscreen interactivity and young children’s word learning. Front Psychol. 2017;8:578. Acesso em: https://www.scielo.br/j/jped/a/yBTYX4TT7LtvH5dTTPKnTrg/?lang=pt  Acesso em: 20 maio 2024.

Como gostaria que o texto fosse citado:
RODRIGUES, Layane, VIEIRA JUNIOR , Niltom;

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