Adilson Luiz Gonçalves Colunistas

SÉRGIO MENDES & BRAZIL

Foi em 21 de novembro de 1962, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, que alguns artistas brasileiros subiram ao palco para internacionalizar a Bossa Nova.

Dali ela ganhou o mundo, fãs famosos e elevadores comerciais.

Já havia brasileiros que haviam feito sucesso na Terra de Tio Sam, mas nem todos cantando em português ou ritmos de nosso país. Carmen Miranda foi para lá em 1939, em parte por conta de uma política de aproximação com o Brasil. Levou consigo o Bando da Lua e várias composições de autores brasileiros, com destaque para Ary Barroso e Dorival Caymmi.

Antes de ir, ela despediu cantando: “Adeus! A-A-Adeus, meu bandeiro de samba, tamborim de bamba! Já é de madrugada! Vou-me embora chorando, com meu coração sorrindo. E vou deixar todo mundo valorizando a batucada!”.

Porém, quando voltou pela primeira vez ao Brasil, disseram que ela havia ficado “americanizada”, o que a magoou, até musicalmente.

Depois dela, Leny Eversong e Dick Farney também fizeram sucesso por lá, mas cantando em inglês.

Consta que a Bossa Nova teria surgido em 1958, no Rio de Janeiro, tendo o baiano João Gilberto como mentor, se bem que o carioca Johnny Alf já vinha ensaiando o estilo.

A Rua Nascimento Silva, 107, e as canções de “Canção do amor demais” foram um marco e em pouco tempo a Bossa Nova, com sua extrema musicalidade e letras que variavam do despretensioso ao deliciosamente malicioso, rapidamente caíram no gosto popular, sobretudo da juventude, disputando “cabeça-a-cabeça” com o também emergente rock and roll, ambos derivados de outros estilos musicais. Alguns dizem que a Bossa Nova tem um quê de jazz, outros que é um sub-gênero do samba. Não importa!

Quando o próprio João Gilberto, acompanhado de Tom Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal e outros subiram ao palco do Carnegie Hall, uma nova fase foi inaugurada para a música brasileira.

Tom foi convidado para gravar com Frank Sinatra; outros intérpretes famosos gravaram Bossa Nova em inglês; Quincy Jones também se rendeu.

Após essa excursão, todos voltaram ao Brasil, mas Sérgio Mendes resolveu retornar e se estabelecer nos EUA em 1964. Lá, criou o grupo Sérgio Mendes & Brazil 66, mesclando instrumentistas e cantores brasileiros e estadunidenses. Além de traduções de músicas brasileiras de vários autores, ele incorporou ritmos de lá e regravações personalizadas de clássicos contemporâneos, como: “Fool on the hill”, “With a little help from my friend”, “Going out of my head” e “The look of love”, entre outros.

Celebrado no mundo, ele seria a atração principal de evento no Maracanãzinho, em 1969, para um público em torno de 30 mil pessoas! Mas foi ofuscado por uma apresentação espetacular, carismática, de Wilson Simonal, que literalmente comandou o público e “fez o povo inteiro cantar”! “Só quem viu pode contar”! Eu vi, pela televisão, e vibrei tanto quanto!

Eram estilos diferentes, e pouco depois ele também aderiu a novos sons brasileiros, nunca deixando de brilhar.

Ao longo do tempo, ele mudou o nome do Grupo: Brazil 77, Brazil 88…, mas nunca perdeu a ginga, e sempre foi extremamente respeitado no meio artístico. Sempre se reinventou!

Recentemente, vi um documentário sobre ele, que se mantinha ativo, virtuoso em sua arte.

Morreu em Los Angeles, aos 83 anos, em consequência dos efeitos de uma “covid longa”, segundo sua família.

Se é que há algo de bom na morte de uma artista, é que sua obra é perpetuada em sons e imagens. Por meu gosto musical, que é bastante eclético, Sérgio Mendes vai entrar na lista de meu “sexto sentido”, que vê e ouve gente morta todos os dias, o que não deixa de ser um tipo de imortalidade.

Seu novo grupo agora poderia se chamar Brazil ¥ (infinito), para manter o padrão…

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

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