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Teoria da Aprendizagem Significativa no processo de Alfabetização Científica no Ensino Fundamental

Teoria da Aprendizagem Significativa no processo de Alfabetização Científica no Ensino Fundamental

Aliny Coelho da Silva Duarte[1]*

Sérgio Choiti Yamazaki[2]*

Resumo

Este artigo explora a Teoria da Aprendizagem Significativa, abordando a importância desta no processo de alfabetização científica no Ensino Fundamental a partir de um levantamento no Encontro de Pesquisa em Ensino de Ciências (ENPEC). Discute-se como a Aprendizagem Significativa pode transformar a prática pedagógica por meio da valorização do conhecimento prévio dos alunos. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, e os resultados apontam que, embora haja pouca pesquisa dentro deste tema, há boas razões para que as investigações continuem.

Palavras-chave: Aprendizagem Significativa; Alfabetização Científica; Prática Pedagógica; Conhecimentos Prévios.

Abstract

This article explores David Paul Ausubel’s theory of Meaningful Learning, focusing on its importance in the elementary school literacy process. It discusses how Meaningful Learning can transform pedagogical practice by proposing an approach that values students’ prior knowledge and the construction of new concepts. The methodology employed was bibliographic research aimed at theoretically substantiating the application of this theory in educational contexts.

Keywords: Meaningful Learning; Scientific Literacy; Pedagogical Practice; Prior Knowledge.

Introdução

A aprendizagem significativa ocorre quando novas informações, como conceitos, ideias ou proposições, são assimiladas pelo aprendiz ao se ancorarem em aspectos significativos de sua estrutura cognitiva preexistente. Esses novos conhecimentos estabelecem conexões com conceitos já familiares e estáveis na estrutura de saberes do indivíduo, conforme enfatizado por David Ausubel, para quem a aprendizagem significativa é fundamental para a retenção de uma vasta gama de ideias e conteúdos em qualquer campo de conhecimento (AUSUBEL, 1963, p. 58).

A teoria de Ausubel propõe que a essência da aprendizagem significativa reside na conexão substantiva, não arbitrária, entre novas ideias e o conhecimento prévio do aprendiz. Esta conexão deve ser estruturada e relevante, integrando-se de maneira significativa à estrutura cognitiva existente, seja por meio de imagens, símbolos, conceitos ou proposições já internalizados pelo aprendiz (AUSUBEL, 1978). A manipulação deliberada dessa estrutura cognitiva pode ocorrer de duas formas: substancialmente, visando à organização integrativa de conceitos e proposições que possuam maior poder explicativo; e programaticamente, mediante princípios que ordenam sequencialmente a matéria de aprendizagem, respeitando sua lógica interna e planejando atividades práticas (AUSUBEL, 1968; MOREIRA; MASINI, 1982).

No contexto educacional, especialmente no Ensino Fundamental, é crucial que os educadores promovam uma aprendizagem significativa ao estimular a reorganização ampla e consistente dos conceitos já adquiridos pelos alunos, tornando-os mais inclusivos e adaptáveis a novos conhecimentos.

Segundo Moreira (2012), os primeiros subsunçores são particularmente importantes, pois a partir deles acontecem processos de inferência e atribuição de sentidos a outros objetos ainda não assimilados: “a criança nos primeiros anos de vida, na fase pré-escolar, vai formando também modelos causais de estados de coisas do mundo e outros construtos mentais” (MOREIRA, 2012, p. 38).

Progressivamente, no entanto, ela passa a aprender cada vez mais em função dos subsunçores já construídos e a mediação pessoal (geralmente da professora ou professor) passa a ser uma negociação de significados, aceitos e não aceitos no contexto de um determinado corpo de conhecimentos. (MOREIRA, 2012, p. 39)

Neste contexto, este artigo visa explorar a importância da aprendizagem significativa na modificação do conhecimento dos alunos do ensino fundamental, focando no maior evento de ensino de ciências do país – o Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências (ENPEC), encontro bienal. Procuramos verificar se há contribuições no que tange à educação infantil e aos primeiros anos da adolescência – 9º ano do Ensino Fundamental.

Fundamentação Teórica – Aprendizagem Significativa

A aprendizagem significativa, segundo Ausubel, é o processo pelo qual um novo conhecimento se relaciona de forma não arbitrária à estrutura cognitiva do indivíduo. Isso implica que o conhecimento prévio do aluno se conecta de maneira significativa com o novo conhecimento apresentado, resultando em modificações na sua estrutura cognitiva. Ausubel propõe uma abordagem psico-educativa que se afasta dos princípios condutistas tradicionais, focando na modificação do conhecimento em vez do comportamento observável do aluno (AUSUBEL, 1973, p. 25). Ele destaca a importância da disposição para aprender, do material logicamente estruturado e não arbitrário, e da estrutura cognitiva do aprendiz, que deve ser psicologicamente significativa, com conceitos subsunçores específicos para relacionar o novo material.

A teoria da aprendizagem significativa oferece uma compreensão fundamental do ensino e da aprendizagem e serve como ferramenta essencial para professores e pesquisadores da educação, enfatizando os processos mentais no desenvolvimento educacional. Ausubel (1973) apresenta uma visão organizada do armazenamento de conhecimento no cérebro humano, formando uma hierarquia conceitual onde elementos específicos são associados e assimilados a conceitos mais gerais. Essa estrutura cognitiva hierárquica reflete abstrações da experiência e do conhecimento do indivíduo, facilitando a aprendizagem significativa através de suas três formas principais: representacional, de conceitos e proposicional, que se destacam por sua capacidade de atribuir significado aos símbolos, categorizar conceitos comuns e relacionar ideias em forma de proposições, respectivamente.

O Papel do Professor na Aprendizagem Significativa

O papel essencial do educador na promoção da aprendizagem significativa reside em desafiar e ampliar os conceitos pré-existentes dos alunos, tornando-os mais inclusivos em relação aos novos conhecimentos. Ausubel, Novak e Hanesian (1980) destacam que conceitos mais elaborados servem como modelos eficazes para construir novas aprendizagens, enquanto problematizar os conteúdos estimula conflitos cognitivos essenciais para o crescimento individual e a busca por respostas pessoais.

Para os autores supracitados, a disposição do aluno para uma aprendizagem significativa é crucial. Isso exige do educador não apenas instrução, mas também o estímulo à autonomia e ao engajamento dos alunos no processo educativo. Reconhecer e valorizar o conhecimento prévio dos alunos eleva sua autoestima, criando um ambiente colaborativo e participativo. Ausubel também ressalta a importância de propor desafios adequados às capacidades dos alunos, adaptar a linguagem à compreensão dos estudantes e oferecer suporte diante de dificuldades, fundamentando práticas que promovem uma aprendizagem autêntica.

Metodologia

Este estudo foi fundamentado em uma pesquisa bibliográfica efetuada nos anais dos dois últimos Encontros Nacionais de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC, 2023; 2021), realizados nos três últimos anos. Buscamos analisar por meio da procura nos títulos, nas palavras-chaves e na leitura dos artigos na íntegra quando ela apontava para uma pesquisa que se pautava na aprendizagem significativa. As análises procuraram verificar se diante destes trabalhos a educação infantil e dos primeiros anos da adolescência (até o 9º ano do ensino fundamental) eram contempladas.

A escolha pela pesquisa bibliográfica baseou-se em sua capacidade de fornecer dados substantivos relacionados ao tema. De acordo com Gil (2002, p. 44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

Resultados e Conclusão

De acordo com o levantamento efetuado, no XII ENPEC (2019), foram 8 artigos; no XIII ENPEC (2021), 6 artigos foram publicados com ênfase na aprendizagem significativa ausubeliana. E no XIV ENPEC (2023), foram 9 os artigos que apontaram para a teoria de Ausubel ou a seus pressupostos.

No XII ENPEC, 5 dos 8 trabalhos tratavam de propostas para o ensino fundamental ou educação infantil. No XIII e no XIV ENPEC, somente um em cada um dos eventos apresentaram trabalhos dentro do tema, no ensino infantil ou fundamental. No total, dos 23 artigos publicados nos ENPECs, 7 apontaram para aprendizagem significativa na educação infantil ou ensino fundamental, o que nos fornece um indicativo de 30,4% dos trabalhos levantados, o que significa que outros 69,6% objetivaram o ensino médio ou superior, ou investigações teóricas ou revisões de literatura.

Entre os 7 artigos contemplados por apresentar a aprendizagem significativa no contexto da educação infantil ou ensino fundamental, algumas pesquisas contribuem diretamente com a contemporaneidade por tratarem de temas bastante atuais: FakeNews (OLIVEIRA; ROBAINA; TEIXEIRA, 2023), recursos hídricos (AGUIAR, 2019), educação para o trânsito (BATISTA et al., 2019) e uso de podcast (GOMES et al., 2019). Além disso, outros trabalhos trazem temas científicos que costumam gerar curiosidade e interesse entre os alunos, como Astronomia (ROSÁRIO; ALMEIDA; PASSOS, 2019), jogos digitais e neurociências (SCHUCH et al., 2021).

Portanto, entre os 7 trabalhos encontrados, 6 buscam refletir e apontar para a aprendizagem significativa por meio de temas atuais ou que comumente os alunos possuem ampla curiosidade. Distinto destes, o artigo de Souza, Pinheiro e Miquelin (2019) apresenta uma proposta de ensino (um guia) focado nos mapas conceituais, um instrumento elaborado baseado na aprendizagem significativa.

Diante deste contexto, concluímos que levantamento feito se apresenta como um indicativo de que há certo investimento no que tange à educação dos primeiros anos e do ensino fundamental, e que os caminhos para aprendizagem significativa sugerem temas da atualidade ou que minimamente se encontram no entorno dos interesses dos alunos.          

Referências

AGUIAR, C. E. P. Ensino híbrido: o laboratório rotacional e a rotação por estações como possibilidades para uma aprendizagem significativa em ciências. In: Anais do XII ENPEC, Natal, RN, 2019.

AUSUBEL, D. P. (1963). The Psychology of Meaningful Verbal Learning. New York: Grune & Stratton.

AUSUBEL, D. P. (1968). Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart & Winston.

AUSUBEL, D. P. (1973). Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana.

AUSUBEL, D. P., NOVAK, J. D., HANESIAN, H. (1980). Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart & Winston.

BATISTA, L. S. A. et al. Aprendizagem significativa e educação para o trânsito com a utilização de carrinhos de brinquedo. In: Anais do XII ENPEC, Natal, RN, 2019.

GIL, A. C. (2002). Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas.

GOMES, R. E. et al. O uso de Podcast na aprendizagem significativa sobre a lua no âmbito das ciências naturais no ensino fundamental. In: Anais do XII ENPEC, Natal, RN, 2019.

MOREIRA, M. A. ¿Al final, qué és aprendizaje significativo? Revista Qurriculum, v. 25, p. 29-56, 2012.

MOREIRA, M. A., & MASINI, E. F. S. (1982). Aprendizagem Significativa: A Teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes.

OLIVEIRA, M. P. de; ROBAINA, J. V, L.; TEIXEIRA, M. do R. F. A Educação Ambiental à luz da Aprendizagem Significativa: trabalhando com FakeNews nos anos iniciais. In: Anais do XIV ENPEC, Águas de Lindóia, GO, 2023.

ROSÁRIO, T. L. S. do; ALMEIDA, T. P.; PASSOS, J. P. R. dos. Astronomia em ação: um jogo didático como proposta de unidade de ensino potencialmente significativa. In: Anais do XII ENPEC, Natal, RN, 2019.

SCHUCH C. F.; FERREIRA, AL. G.; SILVA, C. R. C. de A. Jogos digitais/analógicos, atividades lúdicas & aprendizagem significativa. In: Anais do XIII ENPEC – em Redes, 2021.

SOUZA, G. F. de; PINHEIRO, N. A. M.; MIQUELIN, A. F. Guia didático para o ensino de ciências nos anos iniciais: uma experiência envolvendo Mapas Conceituais. In: Anais do XII ENPEC, Natal, RN, 2019.


[1]*Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD, Licenciada em Pedagogia pela UNIGRAN, Especialista em Educação Especial e Gestão, supervisão e orientação escolar – FETAC e mestranda do programa de pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática – UFGD. E-mail: duartealinyc26@gmail.com

[2]*Orientador. Doutor em Educação Científica e Tecnológica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente Permanente de Pós-Graduação da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail: sergioyamazaki@gmail.com

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