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“CHUVA” DE PAPEL E PARAQUEDAS

Durante a Primeira Guerra Mundial, os aviões já eram utilizados para o lançamento de panfletos, seja para apavorar inimigos, ou motivar tropas.

Provavelmente, isso já era usual mesmo antes, como técnica de propaganda.

A utilização de aeronaves para esse fim também ocorreu na Revolução Constitucionalista de 1932.

Esse recurso foi ainda mais intensificado durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive com aviões de maior porte e velocidade, voando em altitudes bem elevadas, o que exigiu soluções criativas para reduzir o risco de dispersão fora da área objeto da propaganda.

Essa técnica também foi muito utilizada em tempos de paz, mas por conta de uma “guerra” comercial: anúncio de produtos ou eventos de forma barata e difusa, mas nem sempre objetiva.

Lembro claramente de dois episódios ocorridos quando eu tinha por volta de 3 anos, na década de 1960.

No primeiro, eu caminhava com meus pais e irmãos pela calçada dos jardins da praia de Santos, quando uma chuva de papel caiu ao nosso redor.

Era uma curiosa propaganda de uma loja de roupas infantis famosa na época, que continha uma espécie de jogo: era preciso coletar uma quantidade exata de imagens e cores, para ganhar uma peça de vestuário daquela marca.

Eu e meus irmãos saímos catando papel feito loucos, porém sem sucesso no resultado, aliás, como era comum para quem colecionava figurinhas: só quem tinha muito dinheiro era capaz de completar os álbuns e, principalmente, encontrar uma “carimbada”, que valia seu peso em ouro, nas trocas. Ninguém as apostava em jogo de “bafo”.

Ainda bem que minha mãe costurava, o que diminuiu a frustração.

O problema é que aquele monte de papel entupia bueiros e calhas, e dava um trabalhão para limpar.

O segundo foi bem mais divertido e coerente: lançaram uma enorme quantidade de paraquedistas de plástico, de várias cores.

A gente os recolhia e brincava, jogando para cima, o mais alto que podíamos, para vê-los novamente abrir e pousar.

Porém, era perigoso, pois além dos mesmos problemas que os panfletos de papel provocavam, colocavam em risco o trânsito de veículos. Como muitas outras coisas, bonito de ver, no entanto, temerário.

Por esses e outros motivos, lançar objetos de propaganda de aeronaves passou a ser proibido pouco tempo depois.

Hoje, o máximo que se vê são “teco-tecos” com longas faixas a reboque com, ou sem sinais sonoros e mensagens vocais.

São lembranças de tempos tão românticos quanto inconsequentes, que hoje seriam impensáveis, inclusive do ponto de vista ambiental.

Os meios digitais trouxeram novas formas de comunicar e divertir, que incluem: realidade virtual ou aumentada, capazes de nos transportar para um mundo paralelo, onde as sensações são induzidas.

Entretanto, quando nada disso existia, brincar era uma atividade eminentemente cinética, mesmo que a brincadeira fosse uma imitação de filmes, séries ou estórias em quadrinhos.

Por isso, nunca esqueci, ou esquecerei, daqueles paraquedistas de brinquedo, protagonistas daquela invasão aérea que não remetia a guerras, mas associava imaginação e movimento.

O novo é naturalmente surpreendente e fascinante, como diria o Sr. Spock. Mesmo os papéis daquela “chuva”, o plástico dos paraquedas e paraquedistas, e a própria aeronave que os lançava já foram novidades. Para alguns, ainda é.

O ideal é que toda a novidade seja uma evolução no pensar e no fazer, e que nos conscientizemos de que sonhar faz parte da vida, mas não é possível viver só de sonho, num mundo virtual.

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

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