Uncategorized

PRAZER E CULPA

Qualidade de vida tem muito a ver com hábitos e idade, associadas à saúde.

Quando somos jovens normalmente temos a impressão de que seremos eternos, que poderemos nos empanturrar de pudins de leite, quindins, chocolates, sorvetes, balas, lasanhas, nhoques, bifes, pastéis, coxinhas, croquetes, hamburgueres, batatas fritas, refrigerantes, cervejas e tudo aquilo que colocarem ao alcance de nossos cinco sentidos, sendo ou não culinária japonesa.

Nessa época, exceção feita a alguns casos extremos, nossos principais algozes tendem a ser o dentista e acnes, afora algumas indisposições estomacais e “micos” em público. As calorias a gente gasta jogando bola, ou acumula jogando videogames.

Nem sempre a gente come e bebe por prazer, mas por necessidade de prover “combustível” para a “fornalha”, ou, no limite, por pura gulodice.

Com o tempo, vamos aprendendo a apreciar mais o aroma e o paladar de comidas e bebidas; e experimentamos novos pratos e combinações, num processo que envolve prazer, inclusive o de uma agradável companhia.

Esse processo pode transcorrer sem maiores surpresas. No entanto, exageros, maus hábitos de vida, ou problemas de saúde podem resultar em restrições a esses prazeres.

Essas limitações incluem um novo aprendizado, ou o desanimador lembrete das aulas que passaram batidas (de limão, maracujá, morango…), quando parecia que viveríamos eternamente.

É quando passamos a perceber onde ficam nossos órgãos internos, para que eles servem e, em alguns casos, até que eles existiam!

Os médicos vão pesquisar as causas das anomalias e nos receitar dietas baseadas em pequenas porções de proteínas, carboidratos (certamente excluindo açúcares e seus derivados alcoólicos), lipídios, vitaminas, minerais…

Sim! Aquele filé mignon à parmegiana, a macarronada à bolonhesa, o bacalhau à Zé do Pipo, a feijoada, a caipirinha e o vinho mudam de nome e viram vilões, ou amores pratônicos, quer dizer, platônicos.

Está uma tortura escrever esse texto…

A partir daí, “sair da linha” substitui o prazer pela culpa: com direito a crime e castigo.

A conta da farmácia, antes limitada a eventuais antiácidos, começa a também pesar no bolso, para o bem de alguns dos órgãos recém-redescobertos, e efeitos colaterais, para outros.

Dependendo do problema de saúde, a dieta pode ficar limitada e sem graça.

Adeus pimenta! Sayonara wasabi! Bye, bye cobertura de caramelo, até porque o que ela não cobriria mais nada que valesse a pena.

Lembro de ir almoçar em um restaurante industrial, onde a comida de dieta, além de pouco variada, tinha aparência que tirava o apetite do mais esfomeado ser vivo. Mas também é verdade que comida saudável também pode ser melhor apresentada. O potencial gourmet do brócolis pode ser surpreendente!

Meu caso é diferenciado: uma virtual guerra, que já acumula algumas batalhas, enfrentadas com o auxílio de minha Marechal de Campo, Cecília, tantas foram as promoções ela já recebeu desde o início do conflito. Bem que ela poderia acumular postos de comando em todas as áreas, menos a de Brigadeiro, pois isso seria uma tentação… snif

Mas será preciso inventar patentes mais altas para ela. Afinal, anjos são guerreiros do bem, o que é o caso.

É certo que o ser humano pode estar sujeito a restrições temporárias ou definitivas. Faz parte da vida. E elas nem sempre ocorrem por maus hábitos ou exageros. O hereditário e o imponderável também condicionam ou contribuem.

Mas o prazer de estar vivo compensa tudo isso, sem culpa nenhuma!

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

Deixe um comentário