Tales de Mileto é considerado o “Pai da Filosofia”, por ter questionado formalmente o fatalismo religioso de seu tempo, em nome do saber racional. E a Filosofia se tornou a “mãe” de todas as ciências.
Um dos significados de Filosofia é atribuído a Pitágoras: amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância.
Para ter consciência da própria ignorância é preciso ser capaz de pensar, ou seja, todo ser humano é um pensador, e não apenas quem se diz ser.
Séculos antes de René Descartes, Tales já considerava que pensar é existir. Seguramente, incontáveis pessoas já devem ter pensado e vivido o que muitos filósofos antes e depois teorizaram. E muitas ainda o fazem, sem jamais os terem lido ou ouvido falar deles. A humanidade evoluiu da “lei do mais forte” graças a isso.
A diferença é que o ser humano comum não precisa estar preso, internar-se num sanatório ou viver sustentado por mecenas, ou familiares ricos para pensar. Mas também é verdade que muitos tentam mantê-los permanentemente na ignorância, para preservarem seu status e poder.
Ao longo da história, de cunho próprio ou por obra de seus discípulos, alguns desses filósofos e pensadores “de carteirinha” tiveram seus nomes vinculados às suas percepções, ou neologismos criados para identificá-las. O problema é que alguns seguidores e opositores mais radicais ainda hoje chegam irracionalmente a vias de fato, em nome deles ou delas. Livros de uns são destruídos, em favor da exclusividade de leituras “autorizadas”. No limite, pessoas também são exterminadas, por contraporem um pensamento único.
O controle de instintos básicos do ser humano demanda certos “freios” e “empurrõezinhos” intelectuais. Faz parte de sua formação. No entanto, dependendo da intencionalidade de quem forma, o freio pode imobilizar e o impulso pode ser para um precipício mental, tornando-o parte de um rebanho; ou um trem, que só sabe percorrer o caminho dos trilhos. Doutrinação, censura e idolatria são a base da ignorância!
Modelos políticos e ideologias têm usado seres humanos como cobaias, alguns tratando-os de forma sistemática, como se a humanidade fosse uma linha de montagem, com o “controle de qualidade” descartando os fora do padrão exigido.
Georg Hegel, no início do século XIX, sistematizou um “modelo” de pensar: tese, antítese e síntese. E consta que Edward Bulwer-Lytton teria cunhado a frase “A caneta é mais poderosa que a espada”, na mesma época.
Ter uma ideia e contrapô-la a fatos e evidências, e procurar entender o que outrem pensa ou acredita, não necessariamente resultará em consolidar o pensamento original: é possível reformulá-lo ou, até, descartá-lo. Infelizmente, isso não ocorre com alguns seguidores radicais, simpatizantes oportunistas, e insanos sequiosos de poder, que mostram que ideias são como facas: servem tanto para cortar pão, como para matar, física ou mentalmente.
Determinar o que pode ser expresso ou lido, calar ou eliminar sumariamente quem discorde, também não é uma solução racional, pois a vida é como um diamante bruto: quanto mais facetado, mais brilhante fica!
O ideal seria que cada um fosse uma “metamorfose ambulante”, como diz a música de Raul Seixas, pela capacidade de entender o mundo e as pessoas de forma flexível, resiliente e evolutiva. Ser autônomo e não um autômato!
Afinal, todo ser humano é intrinsecamente filósofo porque, como diz a música de Paulinho da Viola: “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”.
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro e Pesquisador Universitário
Membro da Academia Santista de Letras