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LENY EVERSONG

Li que Hilda Campos Soares da Silva, internacionalmente conhecida como Leny Eversong, tem uma biografia escrita por Rodrigo Faour.

Segundo seu autor, ela foi “apagada” da história da música do Brasil.

Bem, se considerarmos o nível da música “brasileira” que vem sendo massificada pela mídia, o momento atual é que deveria ser apagado, não por saudosismo ou purismo, mas pela mediocridade e baixo nível de composições e interpretações. Mas tem quem goste e imponha seu gosto em alto e ruim som transitando nas ruas, nas praias e em casa, ignorando o respeito ao direito do semelhante e a existência de fones de ouvido.

Leny não foi apagada por quem teve o privilégio de ouvi-la.

Foi esquecida por ter sido alvo do que agora chamam de “gordofobia”? Outra Leny, a Andrade, recentemente falecida, foi um ícone da Bossa Nova! Sempre é um deleite para os ouvidos ouvir Alcione e Cláudia! Ah, Cláudia: “Adeus! Adeus! Meu pandeiro do bamba, tamborim de samba, já é de madrugada! Vou me embora chorando, com meu coração sorrindo. E vou deixar todo mundo, valorizando a batucada”.

Foi por ter feito sucesso cantando em inglês, inclusive nos EUA, com temporadas em Las Vegas e apresentação em programas como o de Ed Sullivan?

Bem, antes dela, Carmen Miranda partiu para os EUA como parte da política de “boa vizinhança” entre Roosevelt e Vargas, também cantando “Adeus batucada”. Ao retornar pela primeira vez,  ela foi taxada de “americanizada”, mas nunca foi apagada.

Conheci Leny Eversong por conta do gosto de minha mãe por programas como “Flávio Cavalcante”, “Almoço com as estrelas” e “Clube dos Artistas”, quando só havia uma TV em casa.

Não raro, assistir esses programas era uma tortura, mas eles contribuíram fundamentalmente para minha cultura musical. No caso de Leny, de cara fiquei impressionado quando ouvi sua interpretação de “Free Again”. Que voz poderosa e afinada!

Tive a sorte de ainda ouvi-la em seu esplendor vocal, sem nunca me importar com sua aparência física, pois também nunca notei isso em Ella Fitzgerald ou Sarah Vaughan.

Hilda também era o nome de minha mãe e Leny era natural de Santos, o que também despertava certo orgulho.

Se ela foi “apagada”, com ela também o foram muitos dos grandes intérpretes das décadas de 1930 a 1960, menos por aqueles que assistiam os mesmos programas que minha mãe gostava, ou escutavam as emissões radiofônicas do Projeto Minerva, aos sábados, também meu caso.

Recentemente, vi uma exposição sobre a “Era de Ouro” do rádio brasileiro, onde vários astros e estrelas desse tempo estavam lá.

Às vezes, em conversas informais, surge uma lembrança de uma música e, quando lembro do autor e a canto, isso gera surpresa até para pessoas da minha idade.

Alguns desses artistas souberam se adaptar ao tempo, como Elizeth Cardoso, Marlene e Nelson Gonçalves, mas poucos souberam inovar ou se renovar enquanto envelheciam.

Leny teria seguido esse caminho, mas, infelizmente, problemas de saúde e pessoais, trágicos, a afetaram profundamente, progressivamente a afastando do cenário artístico.

Leny Eversong nunca será apagada da memória de quem a ouviu e, seguramente, será admirada por quem tiver oportunidade de ouvi-la. Não à toa, a tradução de seu sobrenome artístico é, mui apropriadamente, “canção eterna”.

Ela, como muitos de seus contemporâneos e antecessores podem estar “adormecidos”, mas nunca esquecidos. Porém, é importante que a mídia e autores como Faour mantenham acesa a chama da boa música brasileira, que tinha na voz e na qualidade das composições um valor que infelizmente é raro encontramos na atualidade.

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

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