Circula na Internet uma mensagem que contém duas histórias:
A primeira fala de um advogado que defendeu e ajudou a ocultar todas as irregularidades de Al Capone, o gângster dos gângsteres que dominou a Chicago nos tempos da Grande Depressão. Extremamente competente, “Easy” Eddie, como ficou conhecido, permitiu que o “Scarface” praticasse toda espécie de atos ilícitos e atrocidades, protegido por estratagemas, subornos e uso de artifícios legais.
Sua atuação, tecnicamente perfeita, mas, moralmente inescrupulosa, garantia lucros astronômicos para seu cliente, baseados em contrabando, prostituição, jogo, corrupção e assassinatos.
Assim, Eddie enriqueceu e tornou-se figura de destaque na alta-sociedade local, igualmente amoral ou, no mínimo, totalmente alienada ou conivente!
Sua única fraqueza era o filho. Amava-o tanto que fez de tudo para lhe assegurar uma vida sem preocupações. Mas, vivia angustiado, pois, não podia dar-lhe o principal: valores morais e motivos para ter honra de seu nome.
Isto tanto o afligiu que ele decidiu arriscar a própria vida para limpar sua imagem, passando a contribuir para desbaratar o esquema que havia ajudado a acobertar, mesmo sabendo que com disso seus dias estariam contados.
De fato, um ano depois foi assassinado pelos sequazes de Al Capone. Trazia consigo, então, símbolos religiosos e um poema que versava sobre a importância de dar valor a cada momento da vida.
A segunda história é sobre um piloto dos EUA, “Butch” O’Hare, durante a Segunda Guerra Mundial:
Obrigado a retornar ao porta-aviões por problemas técnicos, avistou uma formação de aeronaves inimigas que rumava na direção à sua frota.
Decidiu ataca-las sozinho, abatendo cinco aviões, danificando outros, e ainda conseguiu retornar ao seu porta-aviões. Foi justamente condecorado!
Morreu em combate, um ano depois, mas seu sobrenome foi perpetuado no principal aeroporto de Chicago!
O que as duas histórias têm em comum? “Butch” era filho de “Easy” Eddie!
Num primeiro momento, os relatos e a conclusão lembram uma das “fábulas moralizantes” de Cecil B. De Mille, ou um filme otimista, edificante, como os que Frank Capra fazia na época da Grande Depressão.
Curioso, resolvi pesquisar as histórias e constatei sua veracidade. Pai e filho não eram personagens interpretados por Edward G. Robinson, Charles Laughton, Gary Cooper ou James Stewart, mas personagens reais.
Que belo exemplo! Que coragem de pai, para mudar, e de filho, para seguir em frente!
Hoje em dia, com certeza, não será difícil encontrar profissionais tão, ou mais, competentes do que Eddie, dispostos a defender e inocentar criminosos insensíveis e cruéis, e revestir falcatruas e corrupção de legalidade, por fama, ideologia ou dinheiro.
Provavelmente, consideram sua conduta ética, e não se sentem cúmplices pelos crimes que, com sua destreza, permitem, protegem e, mesmo que não intencionalmente, encorajam. Também, não se importam se seus honorários são pagos com o fruto do dolo, do roubo, da prostituição, do vício, da corrupção, do assassinato, da fome ou da ignorância de inocentes. Talvez, até, façam parte de organizações benemerentes, clubes sofisticados e frequentem cultos religiosos e reuniões sociais, com eloquência, glamour e destaque.
Será que têm filhos? Supondo que sim: Que valores ensinam a eles? Respeito ao próximo? Ou, simplesmente, com a mesma competência com que defendem seus clientes, os protegem de todos os males, que eles próprios, sem limites, escrúpulos ou bons exemplos, causam aos outros? Será que esperam que seus filhos sejam imunes aos seus atos e escolhas, ou os exortam a seguir seu “caminho de sucesso”?
Somente suas consciências poderão responder.
Mas, o fato é que, em suas mãos, toda a beleza do Direito e a magnificência da Justiça são transformadas em lixo! Em vez de ajudar a sanear a sociedade, “cultivam” suas doenças crônicas. Sua competência é um instrumento do mal!
Mas, sempre é tempo de mudar. E o momento é sempre premente, imediato.
Naqueles tempos como hoje, precisamos de muitos Eddies para que possamos ter muitos “Butchs”.
Para sê-los é preciso de astúcia, ética, competência e, sobretudo, muita coragem para, de dentro, contribuir para desventrar o mal e usar a lei em defesa da sociedade, e não contra ela.
Com muita consciência, a mesma competência e um bom programa de proteção de testemunhas, quem sabe um dia teremos justiça de fato, sem que ninguém precise morrer!
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro e Pesquisador Universitário
Membro da Academia Santista de Letras