Estratégias pedagógicas utilizadas por uma professora para ensinar a prática da escrita
Antônia Marques de Souza [*]
Resumo: O texto é resultado de uma pesquisa realizada em uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental em uma escola localizada em Humaitá-AM, e tem por objetivo: investigar como são desenvolvidas as práticas para ensinar a escrita nas turmas de alfabetização. Com embasamento foi usado a Psicogênese da língua escrita de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985), que trata da aquisição da língua escrita. A partir das observações foi possível identificar que as práticas da professora ainda são pautadas em atividades de cópias o que não estimula o aluno a refletir sobre o que é a escrita, o que ela representa e como ela é representada.
Palavras-chave: Alfabetização; Estratégias Pedagógicas; Avaliação diagnóstica; Aquisição da Escrita.
Abstract: The text is the result of a research carried out in a group of the 1st year of Elementary School in a school located in Humaitá-AM and aims to: investigate how practices are developed to teach writing in literacy classes. Emília Ferreiro and Ana Teberosky’s Psychogenesis of written language (1985) was used as a basis, which deals with the acquisition of written language. Based on the observations, we identified that the teacher’s practices are still based on copying activities, which does not encourage the student to reflect on what writing is, what it represents and how it is represented.
Keywords: Literacy; Pedagogical Strategies; Diagnostic evaluation; Writing Acquisition.
A alfabetização pode ser entendida como um processo de apropriação de saberes sobre a leitura e a escrita. Entende-se que ler e escrever é um processo que se desenvolve de maneira contínua e em diferentes contextos, assim, como assegura Ferreiro (2001, p. 98) “As crianças iniciam o seu aprendizado do sistema de escrita nos mais variados contextos, porque a escrita faz parte da paisagem urbana, e a vida urbana requer continuamente o uso da leitura”.
Este trabalho pautou-se em uma pesquisa de cunho qualitativa, que se caracteriza em trazer de maneira objetiva os mais variados elementos a partir de texto, vídeos e fala de entrevistas, com a finalidade de entender os dados com mais profundidade na investigação, pois ela enfoca na procura de entender os fatos de maneira aprofundada e precisa, observando os indivíduos dentro de um amplo processo e levando em consideração seu valor cultural, social e histórico.
Esta pesquisa foi realizada em uma escola pública do município de Humaitá AM, com uma professora e em uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental. Para a coleta das informações foi construído um questionario com questões relacionadas ao processo de alfabetização e conforme acontecia as observações na sala de aula as questões eram respondidas de acordo com as observações da prática da professora.
O processo de alfabetização é uma atividade complexa e multifacetada (SOARES, 2007) de certa forma requer profissional capacitado, empenhado para organizar os saberes múltiplos. Pois, os alunos no seu processo de aprendizagem não caminham no mesmo ritmo, como não trilham a mesma trajetória, para aquisição da prática da escrita, sendo compreendida como um sistema de notação gráfica o qual os alunos devem aprender o seu desenvolvimento e refletir sobre suas unidades, percebendo que a escrita é a representatividade da fala e assim, chegando a entender o que é a escrita, o que ela representa e como é representada. (FERREIRO & TEBEROSKY, 1985)
De acordo com Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985), a escrita é uma maneira de caracterizar o que é considerado significativo, de forma a instituir o conjunto de princípios da escrita que são necessários para que o sujeito aprenda a escrever, está por sua vez advém de maneira sucessiva, e requer uma análise minuciosa em relação as propriedades da prática da escrita. A partir do momento que o sujeito compreende a utilidade da escrita, entende que ela não equivale ao desenho, isto é, entendendo que ambos não são a mesma coisa, pois conforme Ferreiro (1999, p. 102), essa diferenciação entre desenho e escrita geralmente já acontece mesmo antes da criança entrar na escola, especialmente as crianças que vivenciam práticas de leitura e escrita no seio familiar, pois ela faz parte de uma sociedade grafocêntrica, fazendo com que ela já tenha noção desta distinção, desta forma a aquisição ocorre por meio das vivências extra- escolares. Como descreve Teberosky e Ribera (2004, p. 55-70) “[…] a qualidade e a quantidade de aprendizagem iniciais que as crianças têm parecem, pois, fortemente afetadas pela presença de materiais, de leitores/escritores e pelo tipo de interação que estabelecem com eles”.
Contudo, o processo de aquisição da escrita não é algo que advém de um único momento, mas sim um processo que ocorre de maneira contínua durante a vida escolar, sendo que o sujeito vai se apropriando dos conceitos, princípios, edificando e reedificando hipóteses, percorrendo inúmeras ponderações até a compreensão da prática da escrita. A partir dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985), são estabelecidos quatro níveis de escrita que toda criança independente de sua classe social perpassa para se chegar à alfabetização, sendo eles: nível pré-silábico, nível silábico, nível silábico-alfabético e nível alfabético.
A partir da compreensão que o processo de alfabetização acontece por meio de intervenções pedagógicas é necessário que o professor alfabetizador elabore situações didáticas para sistematizar os conhecimentos prévios que os discentes apresentam e desenvolver estratégias que permita estimular e desafiar o aluno possibilitando que ele conceba a aprendizagem conceitual e que possa desenvolver a escrita com autonomia.
Então, logo de início o educador deve ter a preocupação de conhecer o que seus alunos já sabem e identificar a hipótese de escrita e o nível de aprendizagem que se encontram, por meio de uma avaliação diagnóstica.
Em virtude disto, compreende a importância do papel da avaliação diagnóstica, como meio de identificar os níveis de escrita que os alunos se encontram. Pois, compreende que nenhum conhecimento é homogêneo, tendo em vista uma sala de aula heterogênea, sendo que cada aluno tem seu tempo e ritmo de aprendizado, é comum observar que certos alunos evoluam rapidamente e outros lentamente. Por isso, o professor ao elaborar práticas educativas deve pensar em estratégias que tenham finalidade de alcançar uma aprendizagem significativa, para que o aluno se aproprie da aquisição da escrita e possa compreender seu funcionamento.
A seguir, será exposto algumas questões elaboradas do roteiro de observação com as análises.
Quais as estratégias elaboradas pela professora que envolvem o ensino da prática da escrita na sala de aula?
Com as observações foi possível notar que a professora somente utilizava cópias da lousa usando atividades de sua apostila, o que não envolvia a prática da escrita, somente a transcrição para o caderno. Podemos observar uma prática mais voltada para o tradicional, para a transferência de conhecimento, nessa linha de pensamento Freire (1996) acredita que o ato de ensinar vai muito além de transferir conhecimento; o professor deve apresentar a seus alunos a possibilidade para a construção e a produção de seu próprio saber. Com isso, compreende que o aluno no decorrer do processo de alfabetização não pode ser limitado somente a cópias, mas sim ser conduzido a reflexões, possibilitando a apropriação do conhecimento de maneira significativa.
Na sala de aula a professora oportuniza momento espontâneo de prática da escrita ou somente há momentos específicos?
De acordo com as observações foi possível notar que não há momento espontâneo de escrita, estes momentos são específicos apenas quando os alunos estão tirando do quadro atividades, e a professora ao final quando todos terminam a cópia passa em todas as cadeiras observando se a escrita está de acordo com a escrita da lousa e assim, passa visto, se caso, houver alguns erros, ela solicita que ele apague e copie correto. Aqui podemos observar que tudo é dado pronto para o aluno o que não leva ele a pensar sobre a escrita, pois de acordo com Teberosky e Colomer (2003) a escrita, enquanto elemento cultural, deve ser entendida pelas crianças por meio das vivências e das situações de uso social, no qual devem sempre estar em contato com a prática, isto é, os alunos devem ter o contato com a prática da escrita de maneira a compreender suas particularidades.
Há agrupamentos dos alunos para desenvolver as atividades de escrita?
Durante a prática de observações, as atividades desenvolvidas todas foram realizadas de maneira individual, tanto que houve em uma dessas aulas, certa situação, onde um aluno estava com dificuldade de escrever a letras “G” e seu colega que se sentava a sua frente se disponibilizou em ajudá-lo, porém, a professora não permitiu a ajuda, alegando que ela já havia orientado como escrevia determinada letra. Assim, notamos que não há interação entre os alunos, impossibilitando a troca de saberes, pois, o diálogo entre alunos em sala de aula é considerado significativo, pois um aprende com o outro, juntos refletem e constroem suas ideias sobre determinadas questões. Pois, permitir em sala de aula que os alunos interajam é essencial para a troca de informação.
Como podemos observar a partir das questões em análise a professora utiliza em sala de aula práticas tradicionais, que visam apenas aplicar os conteúdos do plano de aula, sem a preocupação em voltar a atenção para o que o aluno aprendeu ou não, é evidenciado o pouco ou quase nenhum incentivo a prática da escrita, como também, não foi possível observar as estratégias que ela utiliza em sala de aula, apenas a arte de copiar.
Considerações finais
Compreendemos a partir da presente pesquisa que a alfabetização é o processo de aquisição de saberes sobre a leitura e a escrita. Sendo a escrita uma maneira de caracterizar o que é considerado significativo, de forma a instituir o conjunto de seus princípios que são necessários para que o sujeito aprenda a escrever.
Para tanto, a partir das observações, dos dados coletados e das análises identificamos que as práticas da professora ainda são pautadas em atividades de cópias o que não leva o aluno a refletir sobre o que é a escrita, o que ela representa e como ela é representada, compreendemos assim, que o aluno não se apropria da escrita do dia para a noite, é um processo que precisa ser trabalhado com frequência em sala de aula, levando o aluno a escrita autônoma e que quando for desafiado a escrita tenha confiança ao escrever, são reflexões que nos fazem pensar como futuros profissionais que caminho trilhar.
Referencias
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
FERREIRO, Emília. Com Todas as Letras. São Paulo: Cortez, 1999. 102p v.2.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. 2 ed. Rio de Janeiro: EPU. 2013.
SOARES, Magda. As muitas facetas da alfabetização. IN: Alfabetização e letramento. 5ª ed. São Paulo: contexto, 2007.
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Ana. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.
TEBEROSKY, Ana; RIBEIRA, Núria. Contexto de alfabetização na aula. In: TEBEROSKY, Ana; GALLART, Marta Soler. Contexto de alfabetização inicial. Porto Alegre: Artmed, 2004. Cap. 4. p. 55-70.
Citar o artigo como:
SOUZA, Antônia Marques. Estratégias pedagógicas utilizadas por uma professora para ensinar a prática da escrita.
[*] Formada em Pedagogia no Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: antoniamarques7890@gmail.com