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EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO RÁDIO NO BRASIL, RONDÔNIA e JI-PARANÁ

EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO RÁDIO NO BRASIL, RONDÔNIA e JI-PARANÁ

*Nádia Cristina Rodrigues da Conceição de Toledo

Resumo: A reflexão ora apresentada é um recorte da Dissertação de Mestrado: “Culturas da escola por meio dos sons do Rádio: linguagens alternativas em uma escola do campo em Ji-Paraná – Rondônia”. A pesquisa foi desenvolvida por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (PPGEEProf) – Mestrado e Doutorado Profissional pela Universidade Federal de Rondônia (TOLEDO, 2018) por meio da pesquisa bibliográfica, narrativa e documental. Assim, o objetivo deste texto é apresentar os aspectos históricos do surgimento do Rádio no Brasil, Rondônia e Ji-Paraná como contextualização das relações entre educação e este instrumento de comunicação. A realização do estudo possibilitou a compreensão de como o Rádio desde o seu surgimento também contribui para a educação em perspectiva informal, aspecto que posteriormente pode ser estendido aos processos formativos na escola.

Palavras-Chave: Rádio. Aspectos históricos. Educação. Comunicação.

Abstract: The reflection presented here is a clipping of the Master’s Dissertation: “School cultures through the sounds of radio: alternative languages in a field school in Ji-Paraná – Rondônia”. The research was developed through the Graduate Program in School Education (PPGEEProf) – Master’s and Professional Doctorate by the Federal University of Rondônia (TOLEDO, 2018) through bibliographic, narrative and documentary research. Thus, the objective of this text is to present the historical aspects of the emergence of radio in Brazil, Rondônia and Ji-Paraná as contextualization of the relations between education and this communication instrument. The study made it possible to understand how radio from its inception also contributes to education in an informal perspective, an aspect that can later be extended to training processes in school.

Keywords: Radio. Historical aspects. Education. Communication.

Introdução

Em função de atividades desenvolvidas em nossa primeira graduação, acompanhamos o surgimento das primeiras emissoras de Rádio em Ji-Paraná, estado de Rondônia. Posteriormente esta temática foi objeto de nossa atenção acadêmica por meio do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma Especialização Lato Sensu (TOLEDO, 2006). Na ocasião elaboramos os registros desta história como uma contribuição à memória historiográfica da presença do Rádio em Ji-Paraná, estado de Rondônia, propósito evidenciado neste escrito.

Assim, a reflexão ora apresentada é um recorte da Dissertação de Mestrado: “Culturas da escola por meio dos sons do Rádio: linguagens alternativas em uma escola do campo em Ji-Paraná – Rondônia”. A pesquisa foi desenvolvida por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (PPGEEProf) – Mestrado e Doutorado Profissional pela Universidade Federal de Rondônia (TOLEDO, 2018). O objetivo é apresentar os aspectos históricos do surgimento do Rádio no Brasil, Rondônia e Ji-Paraná como contextualização das relações entre educação e o este instrumento de comunicação.

O procedimento metodológico que permitiu a elaboração desse escrito foi a pesquisa bibliográfica considerando diferentes contribuições. É um recurso que permite o contato com materiais já analisados. (LAKATOS E MARCONI, 2008). Recorremos também ao método autobiográfico (NÓVOA; FINGER, 2010) que constituiu um meio de assegurar a produção do relato de si como ferramenta reflexiva na medida em que pode evidenciar como a história pessoal possui relação com a história social. Foi útil para evidenciar os entrelaçamentos entre minhas trajetórias como docente e comunicadora social, importantes no desenvolvimento do trabalho, bem como na coleta de relatos.

Nesta direção, para adentrarmos no universo da comunicação possibilitada pela utilização do Rádio apresentaremos uma breve contextualização da discussão, por meio do reexame de leituras que disponibilizam os elementos necessários à compreensão da história  do Rádio chegou ao país.

Rádio: a chegada, impactos e contribuições para o Brasil.

Em estudos anteriores feitos a partir da monografia para minha graduação (TOLEDO, 2006) foi possível apurar através das contribuições de César (1996), que em 1893 após algumas tentativas, o padre cientista Landell de Moura, testou seus experimentos fazendo as primeiras transmissões da voz humana sem o uso de fios. Depois de treze anos, a Marinha Brasileira utilizou seus serviços para a transmissão de mensagens telegráficas.

O padre brasileiro Landell de Moura não teve suas invenções reconhecidas, pois o primeiro mundo atribuiu essa criação a Guglielmo Marconi, cientista italiano que mais ou menos nessa época também fazia testes de suas invenções relacionadas a transmissão da voz ou do som sem uso de fios. Teve seus trabalhos patenteados em 1896, enquanto Landell só conseguiria obter a patente em 1906. Um fato curioso que chamou a atenção, é que nessa época, houve a popularização da sigla S.O.S. que significa “Salvem nossas almas” através de radiotelegrafia em uma mensagem de socorro enviada pelo Atlântico, mesmo em países que não falam inglês usam a sigla.

De acordo com Ferrareto (2001), as invenções de 1906 foram essenciais para o surgimento do Rádio no mundo, mas foi só nas primeiras duas décadas do século XX que este sistema foi popularizado com a criação de aparelhos receptores simples de chumbo natural. Eles receberiam o nome de galena por Henry H. C. Dunwoody que era ligado a uma antena de fio fino chamado vulgarmente de “bigode de gato”, o som podia ser ouvido através de fones de ouvido, a sintonia era através de uma agulha sobre o cristal de galena. Dessa maneira era mais em conta os aparelhos industrializados, que depois até a metade dos anos 1930 teriam seus preços reduzidos sendo fácil ser adquiridos por quem quisesse, uma vez que nesses aparelhos“[…] a variação de uma agulha sobre o cristal de galena fazia a sintonia da emissora. este tipo de receptor seria a alternativa barata aos então caros aparelhos produzidos industrialmente”. (FERRARETO, 2001, p. 34).

Segundo este autor, a popularização da radiodifusão na Europa e em outros países do mundo ocorreu com maior lentidão que nos Estados Unidos. Segundo César (1996), estudos apontam que 1925 já havia transmissões em 19 países europeus; inclusive o Brasil poderia ser incluído nessa lista embora fosse um país da América do Sul, já que as primeiras manifestações radiofônicas surgem em 1923.

No Brasil os registros apontam que neste ano, Roquette-Pinto e um grupo de pessoas que tinham interesse na instalação deste veículo no Brasil criariam a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, sendo a partir daí um dos momentos mais importantes da era inicial do Rádio brasileiro. (FERRARETO, 2001). No dia 6 de abril de 1919 um grupo de jovens da sociedade do Recife que tinha à frente Augusto Pereira, patrocinados por João Cardoso Aires, um importante industrial, adquiriu da Westinghouse durante a exposição do centenário no Rio um transmissor e a partir de então comemoram suas experiências radiofônica nascendo então a Rádio Clube de Pernambuco, que funcionava em um sobrado no bairro Santo Amaro.

No que se refere a datas de criação, em seus estudos, Ferrareto (2001) informa que a Rádio Clube de Pernambuco, oficialmente, segundo registros, seria a primeira emissora regulamentada do Brasil, em seguida, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, hoje Rádio MEC (Ministério da Educação). Então em 20 de abril de 1923 na sede da Academia Brasileira de Ciências nasce a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Partindo desse princípio podemos dizer que no início o Rádio, tornou-se o principal veículo de transmissão de notícias, tanto para o comércio quanto para a política e outros serviços nas diversas classes sociais. (FERRARETO,2001).

Mesmo Roquette-Pinto, Henrique Mourize e outros intelectuais da Academia Brasileira de Ciências tendo idealizado uma Rádio aparentemente elitizada com interesses comerciais. Vale destacar que Roquette é considerado um dos maiores defensores da radiodifusão educativa no Brasil, publicou vários artigos relacionados à educação em revistas e jornais. Segundo os escritos de Ferrareto (2001), o próprio Roquette elaborava e apresentava seus programas, ele foi o primeiro locutor de Rádio no Brasil, o primeiro speaker ou palestrante.

Com o tempo e a aparição de outros interesses, as Rádios precisavam sobreviver e manter seus gastos. A explosão de Rádios comerciais e as exigências técnicas da nova legislação de 1932 colocaram em contradição a ideia de Rádio educativa da Rádio Sociedade, foi então que em 1936, ela foi doada ao Governo Federal e passou a se chamar Rádio Ministério de Educação, hoje, Rádio MEC. (FERRARETO, 2001).

Surgimento do Rádio em Rondônia e Ji-Paraná

Na Porto Velho até 1978, quando a TV-Rondônia passou a transmitir direto por aqui, o Rádio era um grande informador dos fatos que aconteciam, de tristeza, de alegria. Diariamente a partir das 18 horas entrava no ar a Voz do Brasil, e de repente o locutor dava uma notícia, às vezes já esperada, como em 1943, quando o presidente Getúlio Vargas criou os Territórios Federais, dentre eles o do Guaporé, em 1956 Rondônia. (ALBUQUERQUE, 2017, p. 1).

Como já mencionamos, alguns aspectos deste texto foram produzidos inicialmente na pesquisa que desenvolvemos com vistas à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) (TOLEDO, 2006) e outros adicionados nesta sistematização por meio de dados da pesquisa documental (ALBUQUERQUE, 2017; 2020). Foi possível compreender que a história da chegada da Rádio em Rondônia e Ji-Paraná ocorreu no início dos anos sessenta, conforme relatou o senhor Alcides Paio, uma das grandes referências do radialismo na região:

As primeiras transmissões de Rádio do Estado de Rondônia aconteceram com a chegada da Rádio Caiari, quando foi ao ar em experiência no dia 18 de dezembro de 1961 com os transmissores localizados embaixo de uma das escadarias do Colégio Dom Bosco na cidade de Porto Velho – Rondônia. A inauguração da Rádio aconteceu de forma discreta em uma tarde quando transmitia a Novena Natalina da Catedral Sagrado Coração de Jesus, através de uma LP (Linha Particular). Como naquela época a forma de se comunicar das pessoas era através de cartas, a emissora recebeu a primeira correspondência em 9 de janeiro de 1962 de um ouvinte que acompanhava a transmissão de um programa da Editora Paulinas. A emissora estava em funcionamento sem regularização e precisava de autorização para dar continuidade em suas atividades, foi então que o DCT (Departamento de Correios e Telégrafos) que era o órgão fiscalizador do Governo Federal e responsável pelas concessões às Rádios, concedeu a autorização pois a Rádio era o único veículo de comunicação. Alcides Paio (TOLEDO, 2006, p. 12).

No decorrer deste estudo foi interessante verificar as relações entre Rádio e História, considerando que este instrumento veiculava notícias do interesse da sociedade local: “[…] pela Voz do  Brasil que a população ficou sabendo que o presidente JK sancionara a Lei que denominou Rondônia ao então Guaporé, projeto inicial do deputado Joaquim Rondon, mas que foi apresentado pelo deputado Áureo Bringel de Melo, da bancada do Amazonas […]”. (ALBUQUERQUE, 2017, p. 1).

Já em Ji-Paraná – Rondônia as primeiras manifestações radiofônicas surgiram nos anos de 1970. Na ocasião, poucos moradores da Vila de Rondônia, tinham acesso a notícia através deste veículo de comunicação, confirmando que o Rádio : “[…] É o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças, o consolador dos enfermos […]”. (MOREIRA E MOTTA, 2007, p. 2). Naquele tempo a emissora que chegava a essa localidade era a Rádio Nacional do Rio de Janeiro que inclusive noticiou aos moradores da Vila de Rondônia em 1955 a vitória de Juscelino Kubistchek nas eleições para presidente.

A conquista da Taça Jules Rimet pela Seleção Brasileira derrotando a Suécia por 5 a 2 em 1958 foi motivo de comemoração entre os donos dos poucos aparelhos de Rádio existentes na localidade. Em trabalhos anteriores (TOLEDO, 2006), evidenciamos que a comunicação com o distrito de Rondônia tornava-se difícil devido à distância e a dificuldade de transitar pelas estradas.

A expansão do Rádio nos anos 1930 no Brasil não foi suficiente para que a situação da comunicação através desse meio fosse diferente na Vila de Rondônia, pois o Rádio só chegou de fato ao distrito no final da década de 1970. A sintonia dos aparelhos que aqui existiam era voltada a programação da Rádio Nacional de Brasília, que retransmitia avisos, noticiava desaparecimento e procura de pessoas que vinham de outros Estados do Brasil.

Essas pessoas vinham em busca de riqueza nos garimpos da Região Norte um deles o “Serra Pelada” no estado do Pará, um dos mais famosos do Brasil, ou em busca de terras onde muitas vezes acabavam perdendo suas vidas acometidas de doenças tropicais como malária, hepatite, febre amarela em derrubadas de florestas ou pela disputa de terras, além de conflitos com os povos indígenas.

Nessa época, já com 7 ou 8 anos, relembro que a Rádio Nacional de Brasília tinha uma programação bastante variada que ia desde programas musicais, notícias, programa infantil com a famosa “Tia Leninha”, Rádio novela e os mesmos em sua maioria eram direcionados à Amazônia Legal como era falado pelos locutores da Rádio quando se referiam a localidade durante todos os programas que apresentavam. Muitos profissionais da Rádio Nacional de Brasília tiveram carreira de sucesso nessa região, se tornaram artistas e realizarem shows musicais por toda região, como é o caso de Edelson Moura e Márcia Ferreira.

Outros se enveredaram na política como foi o caso de Rita Furtado que se elegeu deputada federal por dois mandatos. Rita Furtado que era dona de uma voz rouca e forte tornou-se proprietária de uma rede de emissoras de Rádio em Rondônia, o grupo Rondovisão, nascendo assim a primeira FM do município de Ji-Paraná a Rádio Clube Cidade FM. Não existiam Rádios difusoras em Ji-Paraná na época da Vila de Rondônia, o acesso a notícias era através de jornais de Porto Velho, entre eles o “Alto Madeira”.

Os únicos meios de comunicação que existiam na época na localidade eram alto-falantes, tipo corneta, chamado vulgarmente “pau de fuxico”, que ficavam pendurados em mastros de até trinta metros de altura e recebeu o nome de “A voz da cidade”. Levava informações por chamadas aos habitantes sendo pioneiro neste trabalho o senhor Sabá. Este serviço começou a ser realizado no ano de 1975 e foi até 1980, dois anos após a inauguração da primeira emissora de Rádio na Vila de Rondônia, atual município de Ji-Paraná.

Na época existiam quatro serviços de alto-falantes na Vila de Rondônia: na Avenida Brasil, na Vila Jotão, no Mercado Modelo, centro da cidade onde hoje se situa o Teatro Municipal e outro no bairro 2 de Abril. Os comunicadores da “voz da cidade” na época eram: Mané do Rádio (reside hoje em Porto Velho em endereço incerto), Welliton Mendes, Marinaldo Souza (assassinado por questões políticas em 1995), Edimilson Barroso, Nelinho, Daniel Santa Cruz, Pedro Leal, Luiz, Paulinho e Ivanilde Caires a única representante feminina no ramo da comunicação naquele tempo.

A implantação da Rádio Alvorada em Ji-Paraná

Ainda retomando parte do texto referente ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no ano de 2006, o relato do senhor Alcides Paio, informa que em 1975 ele era Rádio difusor e diretor de uma emissora em Goioerê no Estado do Paraná. Em uma visita a amigos que residia na Vila de Rondônia entre eles a família Pichek notou naquela época a possibilidade de crescimento da região bem como a necessidade de se implantar uma emissora de Rádio, pois a única existente era a Rádio Caiari – AM e Parecis em ondas tropicais. Depois dessa constatação, decorrido alguns meses, Alcides Paio retorna ao Estado do Paraná, antes, porém conhece dois empresários bastante influentes que residiam na Vila de Rondônia: Luís Bernardi e Roberto Jotão Geraldo que mais tarde se tornariam sócios proprietários da emissora.

Naquela época a regulamentação das emissoras de Rádio era feita através do Contel, um órgão ligado ao Ministério das Comunicações. O Brasil passava por um período conturbado, pois para se obter uma concessão era difícil, entretanto o senhor Alcides Paio, gozava de bom prestígio com o ministro da Educação na época Nei Amintas de Barros Braga que havia sido governador do Estado do Paraná e também senador da república. Ao retornar ao Paraná teve o apoio também do deputado estadual Fabiano Braga Cortes, quando manifestou seu desejo de implantar uma emissora de Rádio em Rondônia.

No entanto, não havia no Plano Nacional de Distribuição de Canais de Radiodifusão-AM previsão para a instalação de uma emissora de Rádio em Rondônia e em outros estados da federação. Foi necessário contratar um engenheiro para a montagem de um projeto e na ocasião foi contratado o Major Jorge Pequeno Vieira que também já havia sido diretor de engenharia do Departamento Nacional de Telecomunicações. Foram colocados três canais: um na Vila de Rondônia, um em Ariquemes e outro em Vilhena. Então em 1976 esses canais passaram a constar no plano de distribuição do Governo Federal bem como foi dado a abertura do edital para a implantação da emissora de Rádio nessa localidade.

Ao retornar a Vila de Rondônia o senhor Alcides Paio convidou os empresários Roberto Jotão Geraldo e Luís Bernardi para serem sócios da futura Rádio o que de pronto foi aceito e lavrado em um contrato social, envolvendo uma terceira pessoa Evair do Couto Carneiro que passou a ser diretor da então chamada Rádio Cultura da Vila de Rondônia LTDA. Após algumas eventualidades tiveram que mudar a direção da Rádio, excluindo Evair e na ocasião Jotão assumiria a direção da que passou a ser chamada de Rádio Alvorada.

No ano seguinte, em março de 1978, o presidente Ernesto Geisel, assinou o decreto dando a concessão para que fosse explorado o serviço de Radiodifusão na Vila de Rondônia, que já não era mais Vila desde 22 de novembro de 1977. Em junho deste ano, os transmissores da Rádio, equipamentos e materiais para a construção chegavam em um caminhão que trazia também o técnico Adual Linjard que foi responsável pela montagem dos equipamentos enquanto que os sócios construíam o prédio onde funcionaria a Rádio.

Posteriormente, no dia 7 de setembro do mesmo ano a Rádio já estava em caráter experimental quando transmitiu o Desfile Cívico de 7 de Setembro que comemora a Independência do Brasil com a colaboração do professor Alejandro Yague Mayo e também Gessy Badocha, que na ocasião era apresentado ao público a Rádio Alvorada tendo Alcides Paio como âncora nos estúdios com a ajuda de Silva Júnior que fez locução em vários pontos da avenida através de maletas de som.

No dia 11 de outubro de 1978 saiu a ordem do Dentel concedendo o prefixo da Rádio ZYJ 672 com Frequência 1460 KHZ, que foi destinada no plano brasileiro de distribuição de canais de radiodifusão AM, logo após, a Rádio sofreria uma mudança passando a operar com 900 KWATS aumentando assim o alcance de 30% na ocasião foi feito também o rebaixamento da torre sendo alterado o sistema irradiante. A falta constante de energia elétrica era uma das maiores dificuldades enfrentadas tanto pela população quanto por quem pretendia montar uma empresa no município, pois a Centrais Elétricas de Rondônia (CERON), funcionava com sistema de motor gerador de energia que era ligado das seis horas da manhã até à meia-noite. Para que a Rádio fosse ao ar sem interrupções foram implantado dois grupos geradores um nos estúdios e outro nos transmissores, o que segundo o senhor Alcides Paio, dificultava muitos os trabalhos da emissora.

Na mesma época a comunicação via telefone, também seria um outro empecilho para o bom andamento dos trabalhos na Rádio, pois para conseguir uma ligação para São Paulo, por exemplo, demorava até uma semana. Os programas de televisão eram vistos através da retransmissão que era feita pela TV Ji-Paraná, hoje afiliada da Rede Globo com até 24 horas de atraso, os mesmos chegavam aqui através de voos da TAMA. Nessa ocasião a Rádio Alvorada contratou uma pessoa que identificava o código de Morse que passou a ouvir as agências noticiosas e redigir as notícias que posteriormente ia ao ar, atualizando assim os seus ouvintes.

Antes da implantação da Rádio Alvorada a comunicação entre as pessoas era difícil, muitos ficavam sem vacinação por causa desse problema, para se ter uma ideia a divulgação da inauguração da Rádio foi feita através de lançamento de panfletos e voos realizados na área urbana e rural, foi usado também alto falante para alertar os comerciantes que seria inaugurado uma emissora de Rádio no município, para que eles preparassem um bom estoque de receptores de Rádio.

No segundo dia após a inauguração da Rádio não havia mais aparelhos receptores para comprar em todas as lojas do ramo no município. A população de Ji-Paraná era solidária entre si e o Rádio contribuiu muito para que esta união fosse ainda maior, como foi relatada por Alcides Paio. As dificuldades eram muito grandes, mas a solidariedade e acima de tudo o serviço que o Rádio prestou na época foi conscientizar, alertar e unir a comunidade em suas reivindicações. Segundo ele, o objetivo não era só o de explorar comercialmente o município, a imprensa que fez toda a vida era mais rara no Brasil, não tinha tantos veículos de comunicação, em consequência disso não havia dependência do poder público para sobrevivência e era possível mais autonomia.

A Rádio Alvorada foi pioneira na realização de eventos, todos eles com recursos próprios, trouxe vários artistas renomados ao município em uma tradicional festa realizada em primeiro de maio chamada a “Festa do Trabalhador”, entre eles: Luiz Gonzaga, Ronald Golias, Trio Parada Dura, Milionário e José Rico e outros. Numa dessas festas o governador Jorge Teixeira estava presente e viu a necessidade de construir um espaço para realização desse evento. No ano seguinte a festa do trabalhador era realizada no Ginásio de Esportes Gerivaldo José de Souza. A Rádio Alvorada tinha um espaço muito grande para o comércio, tanto que precisava muitas vezes deixar de veicular algumas publicidades por insuficiência de lugar durante a programação, como relatou o radialista.

Os diálogos com o senhor Alcides Paio foram retomados em meados do ano de 2018, por ocasião da pesquisa do Mestrado. Ele informou que estava fora dos trabalhos de Rádio, aposentado como radialista e profissional liberal, entretanto continua contribuindo com a cultura do município sendo presidente da Fundação Cultural. Foi radialista por 40 anos, trabalhou ao lado de grandes nomes como Otávio Cesk, Geraldo Tissanai, Marcelino Medeiros e trabalhou também como locutor na Rádio Bandeirantes de São Paulo. Alcides Paio nunca se considerou um grande locutor, afirma que: “Quando eu fazia Rádio, que eu usava o microfone fazia de conta que estava diante de um altar, diante de Deus, onde eu não podia mentir, onde eu tinha que ser leal com a comunidade.”

Teve um dos programas de maior audiência na Rádio Alvorada que ia ao ar sempre às 12h00min horas com mensagens de otimismo dirigidas aos ouvintes, e até hoje, mesmo fora do ar encontra pessoas que continua admirando o trabalho que por ele foi realizado. Aos 83 anos não escondia sua paixão pela comunicação, entretanto não pensava em voltar a trabalhar no Rádio “penso que está surgindo muita gente que pode contribuir com este setor”, para ele o sistema mudou e teria que se reciclar para recomeçar. E com estas perspectivas de reconhecimento das mudanças que o radialista Alcides Paio se despediu do mundo. No início deste ano, recebemos a notícia de seu falecimento, tinha 87 anos.

Considerações Finais

A reflexão sobre a relação Rádio e Educação nos impulsionou a buscar mais informações sobre o surgimento deste importante veículo de comunicação. Nesta direção, a intenção deste escrito foi disponibilizar elementos históricos do surgimento do Rádio no Brasil, Rondônia e Ji-Paraná, tendo como suporte metodológico a pesquisa bibliográfica, narrativa e documental.

Os estudos de Ferrareto (2001) possibilitaram entender que o sistema radiotelegráfico foi pensado para comunicações em tempos de guerra, mas depois passou por diversas modificações atingindo outras populações e outras finalidades. No Brasil uma das finalidades iniciais do Rádio era propiciar à população processos formativos através de palestras sobre diversos assuntos que eram veiculados diariamente nos programas produzidos na primeira Rádio no país.

Esta perspectiva vai ser observada em Rondônia, considerando a visibilidade do Rádio sobretudo como importante marcador de notícias, caso do anúncio da criação dos Territórios Federais, dentre eles o do Guaporé, em 1956 por meio da Voz do Brasil, de acordo com dado da pesquisa documental. Conforme o relato do radialista Alcides Paio, as primeiras transmissões de veículos próprios da região ocorreu através da Rádio Caiari no final do ano de 1961 em Porto Velho, relacionada a contextos religiosos.

Este colaborador informou ainda que em Ji-Paraná, os primeiros gestos radiofônicos ocorreram na década de 1970 no contexto da Vila de Rondônia, por meio da Rádio Nacional, ocasião em que avisava importantes comunicações do meio político, como o caso da vitória de Juscelino Kubistchek em 1955 nas eleições presidenciais. E em 1978, o protagonismo local veio com a criação da Rádio Alvorada – recurso comunicativo importante para a educação e a cultura na região.

A sistematização apresentada neste texto foi importante porque possibilitou compreender as aproximações entre Rádio, educação, comunicação e História. O breve apanhado sobre os impactos da chegada do Rádio no Brasil e na região amazônica, favorece a produção de conhecimento e formação popular, uma vez que por meio desse instrumento, a comunicação pode chegar a locais com poucos acessos de comunicação.

Referências

ALBUQUERQUE, Lúcio. Histórias de emissoras e de radialistas em Porto Velho

11 de maio de 2017. Gente de Opinião. Disponível em: https://www.tudorondonia.com/noticias/historias-de-emissoras-e-de-radialistas-em-porto-velho,1558.shtml Acesso em 22 mar. 2023.

CÉSAR, Cyro. Rádio: Inspiração, Transpiração e emoção. São Paulo: IBRASA, 1996.

FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. 2. ed. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2001

LAKATOS, Eva Maria. MARCONI. Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. – 5. ed. – São Paulo: Atlas 2008.

MOREIRA, C. da C.; MOTTA, Manoel F. de V. Educom: a utilização do Rádio como meio de ação pedagógica. Trabalho apresentado no VIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Centro-Oeste – Cuiabá – MT, 2007.

NÓVOA, António; FINGER, Matthias. O método (auto)biográfico e a formação. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010.

TOLEDO, Nádia Cristina Rodrigues da Conceição de. Origem e evolução do Rádio Ji- Paranaense. Monografia (Bacharelado em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.) Ji – Paraná – Rondônia, 2006.

TOLEDO, Nádia Cristina Rodrigues da Conceição de. Culturas da escola por meio dos sons do Rádio: linguagens alternativas em uma escola do campo em Ji-Paraná – Rondônia. 91f. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar). Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar (PPGEEProf) – Mestrado e Doutorado Profissional. Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2018.


*  Mestra em Educação Escolar pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Luterana do Brasil (2006). Graduanda em Pedagogia (UNIR) É professora da Prefeitura Municipal de Ji-Paraná e Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação na Amazônia da Universidade Federal de Rondônia, Campus Ji-Paraná (GPEA).

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