Adonis Batista Pereira[1]
Emanuele Lima Souza[2]
Rozane Alonso Alves[3]
Resumo: O artigo em tela busca analisar o campo de experiência “O EU, O OUTRO E O NÓS” e suas implicações no desenvolvimento escolar da criança inserida no contexto da Educação Infantil. Para tanto, optou-se pela abordagem metodológica qualitativa com foco na produção de dados a partir da análise documental. Partindo da próprio BNCC (2017) e autores/as que fundamentam os conceitos de infância, criança e educação infantil, observamos, a BNCC propõe uma narrativa de socialização, autonomia e singularidade a partir das prerrogativas normativas. No entanto, o contexto educacional exige dos profissionais da educação, uma abordagem que deve estabelecer elementos de identidade e diferença no contexto escolar.
Palavras-Chave : Educação Infantil. BNCC. Criança. Olhar Pedagogico.
Introdução
Entende-se a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, e tem como finalidade o “desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996). Ao iniciar a vida escolar, a criança de 0 a 5 anos de idade estabelece o processo de reconhecimento do outro como elemento que organiza a sociedade. É neste sentido, que buscamos olhar para a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, e como esta compreende o conceito de infância e criança e, neste processo, descreve a funcionalidade do campo de experiência O EU, O OUTRO E O NÓS, abordando suas peculiaridades, e entendendo o papel do professor nesse processo de suma importância no desenvolvimento do aluno na Educação Infantil.
O primeiro dos Campos de Experiência, o eu, o outro e o nos, proposto pela BNCC trata sobre a construção da identidade, da subjetividade, das relações interpessoais, do respeito próprio e coletivo, da sensação de pertencimento a um grupo. Nesse campo, as crianças são convidadas a participar ativamente do processo educativo, incluindo as decisões nos projetos coletivos. Reconhecer seu pertencimento a um grupo social compreender que há diferentes modos de dizer, de fazer, de querer, de ser, além da importância de respeitar as diferenças (SANTANA, 2019, p.3)
Assim, trabalhar a socialização, a construção da identidade do aluno requer compromisso e cuidado propondo estudo de possibilidades e abertura de imaginação, a ludicidade, o brincar coletivo, o ser acolhido na escola somam para um desenvolvimento próprio e adequado ao aluno.
É diante disso que propomos enquanto elemento metodológico, a inspiração nas discussões sobre análise documental para fundamentar as análises produzidas neste excerto. Optou-se pelos escritos de Ludke (1986, p.39) que apresenta a análise documental como a pesquisa de organiza as evidências descrita nos documentos analisados e nesse processo se permite que seja “retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Não são apenas fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre o mesmo contexto”. Para Ludke (1986) os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte “natural” de informação.
Outro elemento de respaldo metodológico se numa pesquisa bibliográfica que é um trabalho realizado através de dados e estudos realizados em livros, revistas e afins, sendo também uma pesquisa documental.
A pesquisa bibliográfica quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa. Em relação aos dados coletados na internet, devemos atentar à confiabilidade e fidelidade das fontes consultadas eletronicamente. Na pesquisa bibliográfica, é importante que o pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar (PRODANOV, 2019, p.54)
Realizamos uma conversação através de marcos históricos mais importantes para marcar o caminho percorrido e com a os auxílios de autores como Santana (2019), Mello; silva; Ferreira, Peixoto (2020), Martins (2021), Machado (2010), Santos e Silva (2016), buscando entender ainda mais sobre o referido assunto.
Percurso de conquistas na Educação Infantil
A educação infantil teve suas primeiras conquistas com a expansão do atendimento infantil em creches e pré-escolas no Brasil em meados dos anos 1970, por meio de lutas da sociedade em defesa da criança, com os movimentos sociais e suas reivindicações, pautados na ideia da criança como sujeito de direito e como cidadão, pois não havia compromisso e nem obrigatoriedade do poder público em relação à educação da infância, sendo uma questão restrita à família (MELLO; SILVA; FERREIRA; PEIXOTO, 2020, p.73).
É válido destacar que a educação infantil vivenciou muito descanso e falta de compromisso antes de começar a conquistar seu espaço, e seu campo de direito pensando nisso a educação através de documentos legais fez seu marco histórico com suas conquistas e hoje se torna um campo de suprema importância, para o desenvolvimento infantil das nossas crianças.
No entanto, é necessário apresentar como se constitui, conceitualmente, a infância(s) no contexto social. Segundo Franklin (1995, p. 7),
A infância não é uma experiência universal de qualquer duração fixa, mas é diferentemente construída, exprimindo as diferenças individuais relativas à inserção de género, classe, etnia e história. Distintas culturas, bem como as histórias individuais, constróem diferentes mundos da infância.
É necessário levar em consideração que as formulações e modos de ver e viver as infâncias se constituem como elementos centrais de como a escola enquanto espaço formal de educação, neste caso, da Educação Infantil, organizam os modos de aprendizagem. Sarmento (2000, p. 156),
A infância não é a idade da não-fala: todas as crianças desde bebês, têm múltiplas linguagens (gestuais, corporais, plásticas e verbais) por que se expressam. A infância não é a idade da não-razão: para além da racionalidade técnico-instrumental, hegemônica na sociedade industrial, outras racionalidades se constroem, designadamente nas interações entre crianças, com a incorporação de afectos, da fantasia e da vinculação ao real.
As instituições educacionais que atuam com crianças, devem buscar estabelecer processos que movimentem as crianças a partir de suas culturas infantis. Não devem, segundo Sarmento retirar delas, seu lugar de fala e de aprendizagem, pois, nessa retirada
[…] a criança morre, enquanto sujeito concreto, com saberes e emoções, aspirações, sentimentos e vontades próprias, para dar lugar ao aprendiz, destinatário da acção adulta, agente de comportamentos prescritos, pelo qual é avaliado, premiado ou sancionado. A escola criou uma relação particular com o saber, uniformizando o modo de aquisição e transmissão do conhecimento, para além de toda a diferença individual, de classe ou de pertença cultural. (SARMENTO, 2011, p. 588).
É diante essas indagações, que apresentamos a concepção da educação infantil, levando em consideração seu marco cronológico, que inicia a prerrogativa da educação infantil como instituição escolar a partir da Constituição Federal de 1988 (levando em consideração seu histórico no Brasil), que reconheceu-se pela primeira vez no Brasil um direito próprio da criança pequena, em que no Art. 208, inciso IV, desenvolve que é dever do Estado, enquanto poder público, “a garantia do atendimento em creches e pré-escolas, às crianças de 0 a 6 anos de idade” (BRASIL, 1988).
Nosso foco se dá com a Base Nacional Comum Curricular – BNCC que foi homologada em dezembro de 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é documento com caráter normativo, que tem como objetivo servir de guia para que os estados e municípios elaborem seus próprios currículos, um ponto importante destaca-se que a BNCC para a educação infantil propõe cinco campos de experiências a serem seguidos nos currículos das instituições infantis, tais campo são estes: o eu, o outro e o nós; corpo, gestos e movimentos; traços, sons, cores e formas; escuta, fala, pensamento e imaginação; e espaço, tempo, quantidades, relações e transformações (MELLO; SILVA; FERREIRA; PEIXOTO, 2020, p.75). Entretanto como já foi destacado o foco do respectivo trabalho é o primeiro campo “o eu, o outro e o nós”.
Cada campo de experiência tem suas peculiaridades e sua importância para a educação, suas formas de se trabalhar somam ao desenvolvimento do aluno. O eu, o outro e nós trata e desenvolve-se acerca das primeiras convivências sociais, seja a escolar e familiar, leva também a elaboração da identidade a partir da referência do outro, ou seja, a criança reconhece o companheiro de classe como um ser humano diferente da realidade familiar da mesma, porém ao mesmo tempo como alguém que se possa conviver e brincar. (BRASIL, 2017).
O outro, ou seja o colega de classe no ambiente escolar soma ao desenvolvimento do aluno pois, vai trazer e somar mais experiência, mais vivências, já que muitas das vezes o aluno chega à escola com convívio social apenas com adultos e o que pode acarretar em atraso na fala ou dificuldade de socialização e somando a isso o professor tem um papel importantíssimo tendo o mesmo que encontrar um caminho partindo de um olhar pedagógico para auxiliar interações em sala de aula que proporcione o desenvolvimento da criança em todos os pontos do campo de experiência.
A importância de desenvolver dentro da sala de aula o campo de Experiência o Eu, o Outro e o Nós
Falar desse campo é fazer valer de sua importância e aplicabilidade no contexto escolar. Quando tratamos de crianças, que se encontram nesse contexto educacional que é a educação Infantil, nos deparamos com uma série de desafios a serem superados, tanto por elas, quanto pelos professores. Sabemos que essa relação professor-aluno não se inicia no Ensino Fundamental ou Médio, mas sim desde o início da sua vida escolar. Por tanto, se faz necessário uma reflexão e ao mesmo tempo ação coletiva que proporcionará a esse público seu desenvolvimento cognitivo, motor e social.
Diante dos argumentos já expostos, é necessário se atentar como aplicar na prática esse Campo de experiência. Primeiramente é fundamental considerar que as crianças são atores sociais que já carregam consigo certa bagagem cultural, de onde vem suas primeiras impressões, crenças e hábitos. A partir desse momento o professor poderá diagnosticar quais são os défits que cada criança apresenta, por isso a importância do método da observação nesse início.
“Essa perspectiva conduz à percepção das crianças como atores competentes nas interações entre si e com os demais grupos de idade da sociedade, por meio das quais produzem culturas que expressam e, ao mesmo tempo, reconstroem a experiência infantil”. (SANTOS E SILVA, 2016, p. 132). Essa produção e expressão é aguçada pelo professor no ato de ensinar, seja, conhecendo, se conhecendo ou nos conhecendo. Essa interação ajudará o aluno a se desenvolver que maneira gradual, sem acelerar o processo, ou seja, ensinar brincando.
Diante o exposto, atividades de interação que competem em revelar a identidade, facilitará os futuros passos a serem galgados por esse indivíduo no seu meio social. Para tomarmos como exemplo estão; as contações de história em rodas; brincadeiras ao ar livre explorando o espaço e objetos; e reconhecimento do seu corpo e do colega observando suas diferenças. São atividades que aparentemente simples, mas que revelam extrema importância no desenvolvimento e aprendizagem da criança.
A prática quando acompanhada da teoria, relacionadas de maneira dinâmica, vão levar a criança como afirma MACHADO (2010), o compartilhamento da vida social com o adulto, mas com uma forma particular de ser e estar no mundo. A criança possui formas não representacionais de vivenciar suas experiências e, portanto, haveria nos/as pequenos/as uma aderência (corpórea) às situações que vivenciam. Existe na experiência da criança, alerta-nos Machado, “uma ‘aderência às situações’ que a impede de representar o mundo: ela não o representa, ela o vive” (MACHADO, 2010, p. 128).
Considerações finais
Consideramos que, para criarmos e vivermos uma escola democrática e social é válido ressaltar que a coletividade é peça chave para esse desenrolar do ensino. Tendo a participação de professores, famílias, crianças e gestores. Quando afunilamos essa concepção ao campo de experiência o Eu, o Outro e o Nós fica nítido que, criança não é um ser que já foi considerado como uma tábua rasa, mas um ser dotado de memorias culturais e sociais.
Buscou-se ao longo do texto mostrar que forma clara e coesa, por mais que seja uma normativa não tão aceita por se tratar de pressupostos estáticos, ao olhar atentamente para este campo, podemos identificar que ressignificar o ensino levando consideração a sua aplicabilidade, é por vez se desfazer de um discurso estático, que não leva a lugar algum , a não ser voltar ao ponto de partida e nunca permear por caminhos novos, ou até mesmo permear pelo mesmo caminho mas com uma visão totalmente atenta e nova.
Referência
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. 2017. Disponível em Acesso em: 19 dez. 2022.
FRANKLIN, Bob. The Handbook of Children ‘s Rights: Compa-rative Pollcy and Practice. London. Routledge, 1995.
MACHADO, Marina Marcondes. A criança é performer. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 35, n. 2, p. 115-138, maio/ago. 2010.
MARTINS, Thiago de Mello. O campo de experiencia “o eu, o outro e o nós” na Educação Infantil: Possibilidade de aplicação. Educação Infantil Online, vol.2, is.1, May./Aug., 2021, p.59-66 ISSN: 2675-9551
MELLO, K.E.S. SILVA, V.M.B. FERREIRA, L.F.S. PEIXOTO, A.C.B. Uma análise crítica do campo de experiencia o eu, o outro e o nós proposto pela BNCC (2017): a ausência da afetividade como uma pratica de cuidado para a Educação Infantil. REe- Revista de Estudos Aplicados em Educação, v.5, n.9, jan/jun. 2020.
PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico] : métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico / Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
SANTANA, Lucas. Campos de experiência na pratica: Como trabalhar “o eu, o outro e o nós” na educação infantil. NOVA ESCOLA 02 de Maio | 2019. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/17134/campos-de-experiencianapraticacomotrabalhar-o-eu-o-outro-e-o-nos-na-educacao-infantil. Acesso em 19 dez 2022
SANTOS, Sandro Vinicius Sales dos; SILVA, Isabel de Oliveira e. Crianças na educação infantil: a escola como lugar de experiência socia. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/P4VsRVFtJyFWp9mTnLrx9Hm/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 19, dez. 2022.
SARMENTO, M. J. Sociologia da infância: correntes, problemáticas e controvérsias. Cadernos do Noroeste, Porto, 2000.
SARMENTO, M. J. A Reinvenção do Ofício de Criança e Aluno. Atos de Pesquisa em Educação, v. 6, n. 3, p. 581-602, set./dez. 2011.
Como gostaria que fosse citado.
PEREIRA, Adonis Batista; SOUZA, Emanuele Lima Souza. ALVES, Rozane Alonso. O processo de aprendizagem na Educação Infantil segundo o campo de desenvolvimento eu, outro e nós. Revista Virtual P@rtes. xxxxx
[1] Acadêmico de pedagogia, na Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de Educação Agricultura e Ambiente. 6º Período. Contato: adonisbatista.pereira@outlook.com, Fone: 97991688062
[2] Acadêmica de pedagogia, na Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de educação agricultura e Ambiente. 8º Período. Contato: emanuele12.souza@gmail.com. Fone: 97984292413.
[3] Doutora em Educação. Professora da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Email rozanealonso@ufam.edu.br.