O PROCESSO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA NAS ESCOLAS E SUA REALIDADE
Ana Helena Ribeiro da Silva[1]
Mario Marcos Lopes[2]
Resumo: Considerando a realidade, o estudo contribui para reflexão sobre os desafios quanto a educação inclusiva nas escolas, tendo como objetivo a importância do papel da escola e do professor no processo de construção da inclusão. Para tanto, procede-se a pesquisa bibliográfica, a qual analisa diferentes autores que abordam acerca da inclusão. Desse modo, observa-se que a educação inclusiva na escola regular é essencial para desenvolver competências e habilidades no educando. Contudo, considera-se que para que realmente aconteça uma inclusão é necessária a adequação do currículo e a utilização de novas metodologias.
Palavras-chave: Inclusão. Metodologias. Currículo. Educação.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo aborda a educação inclusiva no sistema de ensino regular na qual encontra-se ainda muitas falhas nesta educação para todos, os empecilhos são vastos e essas mudanças não são fáceis de acontecer. A escolha desse tema justifica-se pela preocupação com o desenvolvimento educacional do educando especial quebrando assim, o tabu da indiferença e exclusão. Por isso, tem como objetivo analisar o processo de inclusão e seus desafios para sua efetivação. Para chegar a um parecer favorável em relação ao tema proposto, faz-se necessário um aprofundamento do mesmo. Logo, utilizou a pesquisa bibliográfica a fim de dar respaldo a temática. O estudo foi divido em três etapa distintas: A primeira, a introdução, na qual descreve de forma clara e objetiva o assunto ao leitor. Na segunda etapa relata embasada em autores, como está sendo vista a educação inclusiva na rede regular de ensino e seus desafios como também a necessidade de professores aptos a trabalhar com este público e por fim, as conclusões e referências.
2 A INCLUSÃO ENTRE ESCOLA E SOCIEDADE
Visto que a sociedade está em constante mudanças, a cada dia novas conquistas aparecem, sempre se é levado a adquirir competências novas devido as constantes buscas que movem o indivíduo. Assim, a educação tem apresentado a necessidade de implantar uma nova pedagogia, uma educação voltada para o desenvolvimento integral do discente, sendo assim, cabe as instituições de ensino desenvolver um sistema que abrange a todos.
Quando se fala sobre a inclusão se faz necessário conhecer seu significado, antes de entender por que ela deve ser priorizada. Então, segundo dicionário Luft (2002) inclusão é “abranger, compreender, inserir, introduzir ou fazer parte”.
Dessa forma, o ato de incluir remete a trazer para perto, dispondo de um olhar diferenciado e uma atitude acolhedora, não só de um indivíduo ou de uma parte da sociedade, mas sim de toda a sociedade, frente as características específicas de cada indivíduo. Tendo como principal diferença a multiplicidade e não a igualdade.
A inclusão tanto na escola regular quanto para a comunidade é muito complexa, pois professores e comunidades esperam medidas do governo e de políticas públicas que formem uma comunidade a qual respeite a diversidade e garanta o direito de todos à educação. E esquecem que essa transformação também depende de cada um, segundo sua postura, sua atitude, sua visão, sua determinação em buscar novos conhecimentos, em querer aprender algo novo todos os dias, em mudar sua forma de ensinar e criar estratégias de ensino. Hoje estamos abertos a tantas mudanças e se faz vital acompanhá-las oferecendo o seu melhor.
Para Montoan (2006, p. 19), “educação inclusiva pode ser definida como a prática da inclusão de todos independente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou cultural, em escolas e salas de aula onde as necessidades desses alunos sejam satisfeitas”
Assim, a inclusão seria parte de nós, realizada de forma instintiva e não aprendida através de estudo. Todavia, sendo ela aperfeiçoada já teria abertura para novas metodologias e partir daí o processo de inclusão seria o início de uma educação para todos. Respaldamos a visão de inclusão nas palavras de Mittler (2000, p. 25):
(…) no campo da educação, a inclusão envolve um processo de reforma e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola.
Segundo o autor as instituições de ensino necessitam reconsiderar suas ações, de modo que venham a criar um ambiente escolar que possibilite a inclusão de todos os seus alunos, em que respeite suas respectivas individualidades. O eixo da educação inclusiva é exatamente compreender que o discente com ou sem necessidade especial é único, singular e social, independente de que ordem for, no momento que conseguiremos formar uma posição de entendimento e respeito frente às diferenças, conseguiremos combater as práticas pedagógicas excludentes. Complementando essa ideia: “o respeito, a autonomia e a dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder aos outros” (FREIRE, 2002, p.66).
Neste contexto, a pessoa com deficiência deve viver como uma pessoa que dentro de suas limitações, tem capacidade de estudar ou mesmo trabalhar como qualquer pessoa, sendo respeitada dentro de sua comunidade. Em que a escola tenha uma forma de educar que priorize a aprendizagem de todos, e aceite suas diferenças para que possam viver ativo dentro da sociedade. Acrescenta Mantoan (2005, p. 24) em sua concepção a inclusão:
[…] é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, interagir com o outro.
De acordo com a autora uma escola inclusiva, o ensinar e o aprender são processos dinâmicos, onde a aprendizagem não fica restrita a conteúdos e ao espaço físico da escola, ela ultrapassa as barreiras sociais, afetivas, físicas e cognitivas.
Na sociedade contemporânea a educação inclusiva tem se mostrado um assunto de muitos debates entre órgãos políticos e educacionais, porém há muito a ser feito para que o sistema esteja preparado para oferecer oportunidades iguais a todos os alunos de acordo com as suas limitações. Segundo Camacho (2003, p.9):
Estabelecer um tipo de escola capaz de adaptar-se, acolher e cultivar as diferenças como um elemento de valor positivo, e a abertura de um espaço pluralista e multicultural, no qual se mesclam as cores, os gêneros, as capacidades, permitindo assim o acesso a uma escola, uma educação, na qual todos, sem exclusão, encontrem uma resposta educativa de acordo com as suas necessidades e características peculiares.
Embora as escolas, a passos lentos, estão buscando estratégias e métodos que ajudem os alunos a caminhar e é preciso que haja uma reestrutução do currículo escolar e constantes capacitações aos professores, para que eles possam contribuir de forma positiva e significativa no processo ensino-aprendizagem do educando.
Trabalhar a inclusão requer mudança em todos os níveis e principalmente um novo olhar de cada indivíduo sobre o incluir. E isso remete de forma abrangente. As instituições de ensino devem trabalhar com os conhecimentos das diferenças individuais e o respeito por elas por meio de discussões, reflexões, interação com a família, comunidade, corpo docente e os demais no processo educativo.
É necessário ressaltar que o novo traz receios, inseguranças e medos, porém é importante que tenhamos em mente que a educação sozinha não resolve os problemas da sociedade, mas é um elemento essencial nos processos de transformação social da humanidade.
3 O PROFESSSOR MEDIADOR
Em todo processo de aprendizagem humana, a interação social e a mediação do outro são fundamentais. Na escola, pode-se dizer que a interação professor-aluno é essencial para que ocorra o sucesso no processo ensino aprendizagem. Por essa razão, quanto mais o professor compreender a dimensão do diálogo como postura necessária em suas aulas, maiores avanços conquistarão em relação aos alunos.
Quando o professor atua nessa perspectiva, ele não é visto como um mero transmissor de conhecimentos, mas como um mediador, alguém capaz de articular as experiências dos alunos com o mundo, levando-os a refletir sobre seu entorno, assumindo um papel mais humanizador em sua prática docente.
Assim, atualmente a postura do professor vem a cada dia se reorganizando devido aos fatores que influenciam constantemente a forma de trabalho. Um deles é a tecnologia que avança em uma velocidade maior que a agilidade do sistema em transformar-se para atender às novas demandas.
Mas para Demo (2008, p.13) “o professor continua sendo a melhor tecnologia em sala de aula”, ele é o profissional que medeia o processo de aprendizagem do aluno, favorecendo-o através de seu saber, por meio da implantação de práticas educativas concatenadas com as demandas educacionais pós-sociedade informacional. E para Moita (1995, p. 15):
Professores com práticas didáticas efetivas influenciam positivamente na formação dos estudantes, pois ninguém se forma no vazio, porém, o processo de formação supõe troca, experiência, interações sociais, aprendizagens, um sem fim de relações.
Portanto a educação vem passando por muitas transformações e uma delas e a forma com que o professor se apresenta. Se faz necessário um professor que produza o conhecimento em sintonia com o aluno. Não é suficiente que ele saiba o conteúdo de sua disciplina. Ele precisa não só interagir com outras disciplinas, como também conhecer o aluno. Conhecer o aluno faz parte do papel desempenhado pelo professor pelo fato de que ele necessita saber o que ensinar, para que e para quem, ou seja, como o aluno vai utilizar o que aprendeu na escola em sua prática social. Como afirma (ANDRADE, 2003, p. 80):
Colocando-se como aprendiz, como um indivíduo com mais experiência e que tem maiores condições de aprender, o professor pode desempenhar muitas funções novas, ou seja, mediador, articulador, orientador e especialista da aprendizagem. Articular a prática, gerenciando a organização do ambiente de aprendizagem e programando o uso dos recursos tecnológicos; identificando as necessidades de atenção relativas às aprendizagens.
Segundo o autor, o professor necessita estar em contínua transformação, felizmente, muitos já seguem em constante aprendizado. E, a escola precisa ser vista como um espaço propício à aquisição do conhecimento, mas com plena consciência do potencial extraclasse de seus alunos.
Sendo assim, o professor tem a obrigação de entrar em sintonia com as necessidades reais dos discentes, e isso inclui também, estar capacitado para lidar com modernos recursos tecnológicos e procurar formas de integrá-los às atividades pedagógicas. Esta é a nova posição que o educador deve se colocar: de aprendiz
O professor consciente de seu papel deve respeitar a identidade de seus alunos, criando um ambiente educativo, com vista a alcançar uma aprendizagem significativa. Nessa perspectiva, conclui- se que uma aprendizagem significativa está inteiramente ligada a forma como o professor estimula seus alunos a transformar atitudes gerando ações conscientes e críticas. Ou seja, uma aprendizagem significativa tem como objetivo permitir que tudo que foi mediado tenha significado e que possa ter aplicabilidade no cotidiano do aluno.
Contudo, disto podemos perceber que o papel do professor como mediador é fundamental, para potencializar o aprendizado, como um guia, orientador na utilização dos recursos e na busca pelo conhecimento, mas para isto é necessário que tenha subsídios desde sua formação, reconhecimento, mudanças nas políticas educacionais, planejamentos mais elaborados até estrutura física e material para efetuar seu trabalho da melhor maneira possível. E ainda, nota-se que é preciso que o aluno esteja no centro do processo de aprendizado, não como um depósito, mas sim como um colaborador, um parceiro no qual o professor deposite confiança.
Portanto, a educação tem acompanhado um grande processo de mudanças, para a melhor formação de um novo sujeito, capaz de tomar suas próprias decisões, tornando se mais crítico e objetivo. Sendo assim o desafio de ensinar, acompanhar e avaliar na escola solicita um trabalho docente consciente, que possa contribuir cada vez mais com a construção de uma sociedade justa. Para isso, o professor não poderá limitar-se a simples transmissão de conteúdo; faz-se necessária uma formação continuada que considere a ação docente em sua amplitude e complexidade e de maneira concreta e continua.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de inclusão escolar ainda está em processo, existem sim leis que auxiliam os alunos da Educação inclusiva, eles estão inseridos em um contexto de ensino regular, que precisa de reajustes em todos os setores e é importante pensar que todos são responsáveis por esse processo de inclusão e não somente as instituições escolares. É preciso que se aprimorem as necessidades tanto relacionados à prática de ensino como ao próprio sistema educacional.
Ressaltamos ainda a importância do professor como mediador do processo de ensino-aprendizagem fazendo ele a ponte entre a teoria e a prática; e deve refletir sobre seu papel na constituição do conhecimento de seu aluno e sobre a forma de desenvolver seu trabalho, a fim de levar seus alunos a serem líderes de si mesmos e serem questionadores.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, P. F. de. Aprender por Projetos, Formar Educadores. In: VALENTE, J. A. (Org.). Formação de Educadores para o Uso da Informática na Escola. Campinas, SP: UNICAMP/NIED, 2003.
CAMACHO, O. T. Atenção a Diversidade e Educação Especial. In: STOBAUS, C. D.; MOSQUERA, J. J.M. (Orgs.). Educação Especial: em direção à educação inclusiva. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
DEMO, P. Habilidades do século XXI. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 34, n. 2, p. 4-15, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à prática educativa. 24.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. Nova Escola, maio de 2005.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2006.
MITTLER, P. Educação inclusiva: contextos sociais. Tradução: Windyz Brazão Ferreira. Porto Alegre: Artmed, 2000.
MOITA, M. C. Percursos de formação e transformação. In: NÓVOA, A. (Org.) Vidas de professores. 2 ed. Porto: Porto Editora, 1995.
[1] Especialista em Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade de Educação São Luís. E-mail: anahelenaribeiro@yahoo.com.br
[2] Docente do Centro Universitário Barão de Mauá; Faculdade de Educação São Luís; Tutor do Curso de Graduação em Pedagogia – Universidade Federal do Triangulo Mineiro.