Tempos atrás, um amigo dos tempos de Primo Ferreira, hoje violeiro dos bons, pediu que eu escrevesse alguns poemas com temática sertaneja, para que ele os musicasse.
Até hoje estou esperando as músicas… rsrs, mas ele ficou surpreso quando num deles viu a expressão “amores ribeiros”.
Usei “ribeiros” no sentido de efêmeros, passageiros, daqueles que são levados pela correnteza, às vezes com vertigem caudalosa, com destino ao mar do esquecimento.
Hoje, passados muitos anos, essa expressão me veio à mente, nem sei explicar bem por qual motivo. Mas tudo sempre tem alguma razão de ser.
Refletindo sobre ela, concluí que nunca tive amores ribeiros, no sentido que usei naquele poema. Em verdade, eles nunca foram amores e nem deveriam ter sido.
Lembrei de outro poema que escrevi, “Costeiro”, onde, de certa forma, me auto defini, sobretudo na estrofe final, com toda a contradição natural do ser humano:
E assim, sou costeiro, limitado,
mas fronteira que define o mundo!
E assim, sou lindeiro… Às vezes raso…
Mas, quando apaixonado, profundo!
De fato, nunca me ative ou ativei por relação superficiais. Pelo contrário, sempre preferi navegar em águas profundas e explorá-las.
Ser ribeiro, costeiro, lindeiro ou raso, nesse sentido, é estabelecer limites para não ultrapassar ou aprofundar de maneira impensada ou avassaladora os sentidos, quando a razão sinalizada que feridas podem ser abertas, as quais podem jamais cicatrizar. Amores ribeiros, por mais inconsequentes e consentidos que sejam, no início, tendem a deixar marcas que, com o tempo, tendem a tirar a sensibilidade e a empatia, tornando pessoas meros instrumentos de prazer físico, satisfação de ego ou motivo para “contar vantagem” em rodas de amigos fúteis.
Com sentimentos não se brinca! Pois, quando isso ocorre, sempre alguém pode sair machucado, às vezes pelo resto da vida. Alguns até deixam de amar ou partem para a “vingança” indiscriminada, por vezes direcionada a quem por eles sente afeto.
O amor não é ribeiro, passageiro, mas também não é lagunar, estático. Tampouco pode ser chamado. Normalmente, ele vem de surpresa ou pode estar ao lado, apenas no aguardo de um olhar, de uma palavra ou de um toque que atinjam o espírito, transcendentes, mas também estremeça o corpo. Xô amor platônico!
A paixão consome com seu fogo efêmero, enquanto o amor se consuma em luz duradoura, que brilha sem ofuscar; que dá alento, sem nunca sufocar.
O amor não deve ser eterno por imposição, mas deve ser infinito pelo desejo renovado de querer estar junto.
Demorei muito para encontrar esse amor. Até pensei que isso não era para mim. Mas ele veio e sem pressa preencheu o vazio de meu peito, iluminando cada dia de minha vida. Amor que é meu norte, me dá sorte e forças para viver!
Amor que, para mim, tem nome e essencial essência: Cecília!
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro e Pesquisador Universitário
Membro da Academia Santista de Letras
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