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O MENINO QUE QUERIA SER REI

Nair Lúcia de Britto

(Inspirada por um anjo-da-guarda)   

Há muitos e muitos anos atrás, num lugar  tão distante, onde Judas perdeu as botas; digamos assim, um menino muito pobre, pobre como Jó, vivia numa tristeza que dava dó. Os pais dele trabalhavam muito. Levantavam cedinho e iam para o campo trabalhar para um fazendeiro rico de dinheiro, mas muito pobre de coração.

Quando voltavam do campo, vinham tão cansados e sem coragem para mais nada a não ser ir para uma cama rústica, cujo colchão era de capim, e dormir.A refeição que faziam antes de caírem num sono profundo era frugal, tão escassa de nutrientes que não dava para alimentar. Procuravam dar a melhor parte ao menino que passava os dias sozinho, ao Deus dará.Sem o alimento necessário, sem ver os pais o dia inteiro, o pobre menino procurava amenizar sua tristeza sonhando que um dia seria um rei muito rico, que nada faltaria em seu palácio e que seus pais nunca mais precisariam trabalhar, pois ele cuidaria que nada lhes faltasse. Assim, ele seria feliz e poderia recompensar os pais por todo sofrimento passado.
Seria uma felicidade só!

Numa noite, véspera de Natal, um anjo apareceu-lhe em sonho e lhe perguntou:

— Zézinho (assim o menino era chamado), tem certeza de que quer mesmo ser um rei? Acha mesmo que a felicidade consiste em ser rico e poderoso?  

— Sim, sim respondeu de pronto o menino, encantado com a imagem do anjo envolto numa veste colorida, com uma luz brilhante a sua volta, que o iluminava.

— Pois bem, vou lhe mostrar como é a vida de um rei e, depois, você me dirá se é isto mesmo que você quer.

E o anjo o conduziu a um Palácio enorme, onde um rei estava sentado em seu trono, muito aborrecido. Todos a sua volta, desde seus servidores até o povo que ele governava, o detestavam porque eram todos maltratados pelo rei, e por causa dele, tinham uma vida muito hostil.

É que o rei não tinha consciência do motivo pelo qual ele era detestado. Só pensava em si mesmo, nem mesmo pela  família ele era estimado. Possuía tudo que ele queria menos o amor que trás a verdadeira felicidade.                                       

Quando o menino viu que o rei era mais triste e mais infeliz do que ele, Zezinho percebeu que não era isso que queria para si. Além de um homem triste e inútil, aquele rei era carente do afeto que todo ser tem necessidade.                         

De repente Zezinho acordou do sonho tão intrigante e tão real, que o fez perceber que ele era feliz porque era muito amado pelos pais, que se sacrificavam para lhe dar o alimento  pobre, mas abençoado pelo amor ; e tirado do trabalho honesto e suado.

Era feliz porque também amava seus pais e sonhava em libertá-los da escravidão em que viviam. Então seu sonho passou a ser um ideal. Quando ele fosse adulto iria lutar por justiça, pelo pão de cada dia não só para ele ou para seus pais; mas para todos. Para que ninguém passasse mais fome.

Como poderia conseguir isso? Estudando, trabalhando; e orientado por um anjo, como aquele que lhe aparecera em sonho.  Esse anjo lhe mostraria o caminho a percorrer  para realizar o seu novo sonho.

Eis o Conto de Natal que sugere, às crianças pobres, que a verdadeira felicidade só se conquista com Amor, Fé e Fraternidade.

Nair Lucia de Britto – Folha

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