Educação Em questão

Escola como espaço de cura

Maria Cláudia Amaro*

Desde que ingressei no segmento da educação, tenho me envolvido em muitas conversas sobre como despertar consciência afetiva no corpo docente. Afinal, entendo o quanto este cuidado é necessário para estabelecer boas relações no ambiente escolar e também render bons frutos em termos de aprendizado. Não é de hoje que conhecemos a importância do professor atuar como um mentor, levando em conta a afetividade, a interação social. Só que sabemos o quanto isso é difícil.

É comum escutarmos professores dizendo que hoje precisam assumir o papel de psicólogo, de pai e de mãe, e de fato isso é verdade. O professor de hoje não pode mais se resumir ao papel de transmissor de conhecimento, resumindo-se a um vetor; é preciso entender que seu papel hoje vai muito além disso.

Promovemos um evento online recentemente que contou com a presença da Carolina Campos, diretora-executiva da Vozes da Educação, uma consultoria de inteligência educacional. Carolina defende a escola como espaço de cura, uma proposta tão interessante que eu não posso deixar de compartilhar com vocês.

Para ela, a escola é um espaço onde se realiza a cura. Mas afinal, o que isso quer dizer? Quer dizer que na hora de entrar na sala de aula, o professor se conecta com sua criança interior, que se encontra ferida, machucada, precisando de carinho e acolhimento. Ele começa a se curar quando olha para seus alunos com compaixão, sendo sensível o bastante para olhar para os traumas desse estudante e ajudá-lo a enfrentá-los.

Entre os inúmeros exemplos citados por Carolina, ela menciona alunos em situação de vulnerabilidade, sofrendo violência doméstica, por exemplo. É preciso que o professor tenha sensibilidade para perceber isso e dar o encaminhamento necessário – seja para o conselho tutelar ou para a rede de apoio da própria escola. Não basta perceber o mau rendimento do aluno e cruzar os braços; a melhor postura a ser adotada é entender o que está por trás dos resultados ruins, uma vez que quando eles ocorrem, é quase certo que haja problemas emocionais como pano de fundo.
 

Cuidar da saúde mental dos estudantes é também papel da escola porque precisa ser aceito pela sociedade como um direito fundamental. Infelizmente, ainda há muito estigma com relação a isso: a depressão é encarada como uma frescura, como insubordinação, ou até mesmo como o chamado “mimimi”. Atribuo esse pensamento retrógrado ao fato de que as dores emocionais não são visíveis, e há falta de empatia para colocar os sapatos do outro e perceber onde os calos apertam.

Ocorre que para haver educação é preciso estar com a saúde em dia, e essa se divide em três eixos: saúde mental, físico, emocional. E o papel da escola é apoiar no desenvolvimento de competências socioemocionais, que por si só, não são suficientes para prevenir problemas de saúde mental, mas fazem parte de uma escola acolhedora, voltada para a formação do aluno de maneira integral. A escola pode ser sim um ambiente de promoção de saúde, garantindo assistência, espaço de fala e encaminhando os estudantes que passam por alguma situação de vulnerabilidade.

Sabemos que algumas competências podem ser desenvolvidas, como, por exemplo, ter autogestão, empatia, resiliência. Obviamente que alguns alunos já chegam ao ambiente escolar adoecidos, e somente a escola não vai ser suficiente para sanar suas dores. Mas a postura do professor é essencial para dar encaminhamento adequado a cada caso.

Acredito que nas escolas em que a liderança e a gestão promovem iniciativas com abordagem voltada para o aprendizado, mas também para o bem-estar das pessoas, os resultados são infinitamente melhores. Para que o aprendizado aconteça, professores e educadores precisam pensar que determinados comportamentos dos alunos não são pessoais, mas sim uma forma de eles se expressarem no mundo. Os alunos mais desobedientes e agressivos são aqueles que mais precisam do professor, e ser empático não é uma questão de perfil ou opção, mas sim parte do trabalho.

Todo mundo já teve um mentor na vida: um pai, uma mãe, um tio, um gestor ou um professor. E ser essa pessoa na vida de alguém é, sem dúvidas, um presente.

*Maria Cláudia Amaro é CEO da Rhyzos Educação.

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