Linguista Vivian Rio Stella explica que a comunicação efetiva é como construir um Lego, que encaixa peças de acordo com o objetivo
Habilidade em comunicação é uma das cinco soft skills mais procuradas por recrutadores este ano, segundo o Guia Salarial 2022, da empresa Robert Half. Soft skills são competências humanas e emocionais que norteiam o comportamento e a forma de agir. As outras quatro são adaptabilidade, flexibilidade, perfil analítico e visão estratégica, senso de dono e visão do negócio. O Guia informa que a maioria dos recrutadores, 69%, avalia que está cada vez mais difícil encontrar trabalhadores qualificados.
Ainda conforme o Guia, os segmentos que lideram as contratações este ano são tecnologia, bens de consumo, varejo, agronegócio e logística. Em todas elas, a comunicação é fundamental dentro das empresas e para estabelecer o melhor relacionamento com os clientes. Na comunicação, o desafio é transmitir as mensagens, em qualquer área de atuação, de forma clara e precisa, com ou sem palavras, minimizando os ruídos.
A linguista Vivian Rio Stella explica que a comunicação efetiva é como construir um Lego, que encaixa peças de acordo com o objetivo. Ela lembra que nas interações, presenciais ou virtuais, as pessoas formam uma imagem sobre quem está falando muito rapidamente, em até 90 segundos. Essa imagem não é definitiva, porque as peças vão encaixando, mas é muito importante no processo.
“Não é como um quebra-cabeça, mas como um Lego. Eu vou usando as peças que forem convenientes para mim. Que imagem eu quero passar? É de credibilidade, de naturalidade, de ser acessível, amistoso, mais direto? Qual a intenção?”, afirma Vivian. Ela explica que conhecer a intenção, o objetivo da mensagem, é o primeiro passo, ainda que o autor dessa mensagem não seja avaliado pela intenção, mas pelas ações. “Aí entram as peças do Lego que vão encaixar em um todo”, diz.
Na comunicação verbal, um dos elementos importantes é o olhar, explica a linguista. O contato visual torna a comunicação mais próxima, mais cordial ou mais distante. Outro elemento é a qualidade vocal. Algumas pessoas usam menos inflexão vocal, menos entonação, passam maior credibilidade e seriedade, mas são menos interativas. Pessoas que usam mais a entonação enfatizam melhor as ideias e vão trazer um tom mais espontâneo à comunicação.
Segundo Vivian, o gestual é outro ponto fundamental no encaixe do Lego porque representa a janela do pensamento, acompanha a fala, reforça a palavra. O vocabulário também merece atenção especial para que a mensagem seja passada com clareza e transparência. “O cuidado é sempre com a imagem que eu quero passar. É necessário pensar na intenção e quais recursos me ajudam a formar a imagem que eu preciso”, diz a linguista.
De acordo com Vivian, um recurso que parece sutil, mas faz a diferença, é a prontidão do autor da mensagem em receber as pessoas, tanto fisicamente, na maneira de trazê-las para próximo, como também à distância, respondendo rapidamente um e-mail, por exemplo.
No caso da comunicação não verbal, escrita, os recursos do Lego também são fundamentais. “Há pessoas que nunca vão se encontrar pessoalmente, mas trocam muitos e-mails. Não tem olhar, gesto, inflexão vocal. Tem as palavras que são utilizadas”, afirma a linguista. Algumas palavras soam impositivas, como os imperativos.
“Em português existe uma conotação de agressividade, ainda mais numa comunicação escrita, pelo excesso de imperativos, de diretividade”, diz Vivian. Nesse conjunto de peças, é preciso evitar soar imperativo demais. No lado oposto, há quem pareça muito bonzinho, pede um favorzinho, rapidinho. De acordo com a linguista, o diminutivo tem uma característica de dar um tom menos assertivo e mais casual à comunicação.
No cenário de interação através dos diferentes canais disponíveis hoje, é preciso estar atento. A comunicação é sempre posta à prova, a pessoa é avaliada o tempo todo e qualquer recurso é relevante nessa composição da imagem. “Ainda mais no campo profissional. Temos que saber aliar esses elementos para tornar nossa imagem positiva”, afirma Vivian.
Quando o autor da mensagem se questiona se parece bonzinho ou bravo demais, é hora de reavaliar a comunicação. “Nesse caso, tem algum elemento da comunicação verbal ou não verbal que está impactando equivocadamente essa imagem”, diz a linguista. Ela explica, no entanto, que sempre é possível trabalhar para reverter a situação.