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Projeto de educação inclusiva em município do Mato Grosso capacita professores da educação para atender estudantes com deficiência

Em 2021, o número de matrículas de crianças TEA (Transtorno do Espectro Autista) aumentou subitamente na rede pública escolar de Paranaíta, uma cidade com apenas 12 mil habitantes, localizada no Estado do Mato Grosso. A procura em relação ao ano anterior crescia significativamente e atender este público representava um verdadeiro desafio para os cuidadores e demais profissionais da rede.

“Faltava a eles capacitação adequada para atuar com as crianças. A maioria não tinha nenhuma formação e estavam a ponto de abandonar suas funções por não saberem nem mesmo por onde começar”, afirma Silvia Ferraresi, fisioterapeuta, pedagoga, mestranda em educação e fundadora do Instituto Inclusão na Escola, centro cujo objetivo é oferecer formação continuada e assessorar a implantação do projeto de educação inclusiva, de acordo com a realidade da rede de ensino.


O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem como principais características padrões de comportamento repetitivos e com prejuízos na comunicação e interação social. O termo espectro se deve aos vários níveis de comprometimento, que se manifestam de maneira única em cada pessoa: enquanto algumas pessoas com autismo enfrentam prejuízos graves, outras podem ser mais independentes. “Esta complexidade levou a Prefeitura Municipal de Paranaíta a buscar um projeto que preparasse seus profissionais para a nova realidade”, explicou Silvia.


Assim, o Instituto Inclusão na Escola assumiu o compromisso de levar conhecimento e capacitação técnica para cerca de 40 técnicos do desenvolvimento infantil (TDI) da rede municipal da cidade – entre eles, professores, merendeiras, faxineiras, enfim, todos aqueles que têm contato com as crianças no dia a dia e precisam ser envolvidos na causa.

As formações tiveram como foco a sensibilização da equipe sobre a cultura inclusiva, voltadas para a construção de escolas para todas e também para cada uma das crianças. Ao chegarem ao local, o instituto mapeou as condições de ensino durante visitas técnicas e definiu as melhores estratégias a serem aplicadas.

Conforme relata a especialista, as escolas de Paranaíta possuíam infraestrutura interna capaz de causar inveja a muitas instituições de ensino situadas nas grandes metrópoles. Destaque para o cuidado com a educação infantil e a creche, que além da estrutura possuem sala de recursos e serviço de atendimento educacional especializado (AEE). “apesar de este ser um direito previsto na Constituição, dificilmente vemos isso na prática”


Com alimentação de primeira, ar condicionado e transporte de qualidade garantido a todas as crianças, as escolas são frequentadas por públicos bastante ecléticos: atendem desde os filhos dos produtores agrícolas até os das autoridades locais, o que reforça a tese de que todos entendem a mensagem de que existem escolas públicas com qualidade. “Isso ficou ainda mais evidente ao perceber o interesse dos profissionais da educação no projeto”, salientou.

Silvia lembra que, na maioria das instituições de ensino regulares, os estudantes com deficiência não têm as mesmas oportunidades de aprendizagem e participação que os demais. “Um dos motivos é que nem todas as escolas ou educadores conhecem o potencial de aprendizagem desses alunos. E não me refiro somente aos estudantes com deficiência, pois a pandemia revelou a necessidade de olhar para os estudantes com transtornos de aprendizagem, ou de comportamento e questões emocionais transitórias. Afinal, todos os estudantes tem alguma necessidade específica para lidar. Por isso precisamos olhar para todos e cada um dos estudantes.

O projeto de Paranaíta foi totalmente pago com verba do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual, composto por recursos provenientes de impostos e das transferências dos Estados, Distrito Federal e Municípios vinculados à educação.


As visitas técnicas presenciais já terminaram e o próximo passo é estruturar o Plano Educacional Individualizado para cada estudante público alvo da educação especial (aqueles com deficiência física, intelectual, visual, auditiva, TEA, altas habilidades ou superdotação). Até o final do ano, o Instituto Inclusão na Escola vai trabalhar para transformar a provocação da formação continuada em práticas adotadas dentro da escola. A previsão é que isso ocorra até o final do ano.

“Estamos muito felizes em perceber a melhora significativa no atendimento aos alunos com deficiência em Paranaíta. Hoje, eles somam 79 alunos, o que representa 4,3% de toda a população escolar na cidade. Fazer a diferença na educação destas crianças é recompensador”, conclui a secretária de educação, Andressa Oliveira.

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