Francis Ricken*
Nem todo mundo quer disputar de forma franca a Presidência da República, algo que você já deve ter percebido. Geralmente, temos uma infinidade de candidatos ao cargo de chefe do Poder Executivo, mas nem todos têm condições políticas, econômicas ou interesse de vencer a disputa. Estar na presidência é se colocar de forma muito evidente no jogo político e, muitas vezes, ser o responsável por acertos ou o culpado pelos erros de sua administração, interesse não compartilhado por todo grupo político.
Vamos falar da terceira via. Partidos que se recusam a entrar na base de apoio das principais candidaturas e que juram de pé juntos que irão criar uma grande coalizão para escapar da chamada “polarização”, dentre eles: União Brasil, PSDB, PSD, MDB, Podemos e Cidadania. Esses partidos têm em comum o discurso, o desencontro de ideias e a incapacidade de formar alianças. O que temos até o dado momento são apenas nomes relativamente conhecidos do público, entre eles, Sérgio Moro, João Dória, Eduardo Leite, Luciano Bivar e Simone Tebet, que dificilmente deixarão suas pretensões pessoais, ou terão capacidade de formar um acordo e rivalizar com as candidaturas de Lula e Bolsonaro.
Temos também os candidatos de voo solo, que têm o papel de divergir e não desistir de seu espaço na disputa à Presidência da República, pelo menos até o resultado do primeiro turno. Essas candidaturas não têm o intuito de vencer a disputa, mas de criar espaço para o trabalho de seus colegas de partido nas disputas de cargos nos Estados e para vagas na Câmara e no Senado. São candidatos que acabam chamando a atenção para o posicionamento e para a imagem do partido, que pode sair fortalecido das eleições. Podemos colocar nesse grupo as candidaturas de Ciro Gomes, do PDT e de Felipe D’Ávila, do Novo.
Destaco também os grupos políticos com posicionamentos ideológicos enfáticos, ou seja, aqueles que não abrem mão de suas convicções para formação de grandes coalizões políticas, capazes de vencer a disputa. Esses grupos dificilmente venceriam uma eleição presidencial. Para eles, o que importa é a presença e a capacidade de debater temas, mas a tendência é que esses pequenos grupos políticos diminuam de tamanho cada vez mais e acabem sendo engolidos pelas cláusulas de barreiras de acesso ao fundo partidário, dificultando ainda mais sua sobrevida. Destaque para os pequenos partidos de esquerda como PSTU, PCO e PCB.
Outro caso que chama atenção é o Centrão, grupo de partidos de centro-direita que sempre se posicionam favoráveis ao governo de plantão, não importando a ideologia do chefe do Poder Executivo. Esses partidos costumam defender de forma enfática o governo da vez e não têm identificação com bandeiras ou posicionamentos políticos. De forma geral, tendem a defender seu bom desempenho eleitoral. O Centrão se aproxima dos grandes “puxadores de votos” nas eleições majoritárias para governo de Estados e Presidência da República, com objetivo de apoiar os vencedores e se beneficiar do status de ser governo. O apoio de partidos de centro pode ser medido pela capacidade do governo do momento e, quando as dificuldades surgem, são os primeiros a desembarcar, sempre pensando no momento eleitoral futuro. Observe os grandes nomes que integram o grupo de apoio do atual presidente da República e você encontrará vários que já apoiaram e fizeram parte dos governos de FHC, Lula, Dilma e Temer. Dificilmente encontraremos esses partidos com candidatos próprios ao Palácio do Planalto. Eles se encaminham para entrar na base de apoio das candidaturas fortes ou até mesmo renunciar à disputa, focando nos cargos legislativos.
Nem sempre seu candidato tem condições ou quer ganhar as eleições. Na política, muitas vezes, o que importa são as articulações e as estratégias. A jogada ou o recuo do presente pode ser uma estratégia para o futuro.
*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).