Crônicas nair lucia de britto

UM SORRISO DE CRIANÇA

Nair Lúcia de Britto

Juninho foi passar o dia na casa do primo Dadá e ganhou do outro menino uma gaiola para pássaros. Era grande e bonita. Mas uma gaiola vazia não tem graça nenhuma, por isso com o dinheiro da merenda, resolveu comprar um periquito. Escolheu um todo azul e. só depois de vê-lo dentro da gaiola, é que voltou satisfeito para casa.

— Mas o que é isso?!!! – A mãe dele pôs as mãos na cabeça. – Vai pôr essa gaiola onde, posso saber? – Mãos na cintura, o avental de cozinha bastante surrado.

O garoto olhou para o varal de roupas, lotado, na minúscula área de serviço. Ali não cabia nem um grão de alpiste… quanto mais uma gaiola.

Que tal na cozinha? – o menino arriscou. Mas a cozinha não era muito maior.

— Nem pensar! Vá devolver já, o periquito, a gaiola e tudo…

Ao ver a mãe tão irritada, Juninho deixou-se cair numa cadeira e esfregou os olhos marejados de lágrimas.

— Eu só queria ter um bichinho de estimação… O Marco tem uma tartaruga!

— O Marco mora numa casa com quintal!

— E por que a gente não mora numa casa com quintal?

Era o que a mãe de Juninho também gostaria de saber. Por quê?

— Tudo bem! Por enquanto deixa o periquito aí debaixo da mesa. Depois a gente resolve o que vai fazer.

Juninho  pulou de alegria. Sabia que a mãe dele era brava, mas tinha coração mole… E, assim, o Quito, como o menino passou a chamá-lo, ficou lá, um dia… dois… três… Cada vez mais amuado.

— O Quito está triste, o menino observou, preocupado.

— Claro, meu filho. O Quito gosta de liberdade. Você, não?  

Juninho não respondeu. Passou o resto do dia aborrecido e muito pensativo.

Finalmente, na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi soltá-lo. Imediatamente, o pássaro voou alegre, em direção às árvores.

Juninho, então, sorriu feliz.

Esta é uma história de ficção publicada no dia 10 de outubro de 1994, no Jornal Primeira Cidade, de São Vicente/SP. Eu a escrevi inspirada no meu filho que, quando era criança, gostava muito dos animais. Hoje ele é adulto, e continua amando os animais. Acho que um bichinho de estimação cuidado por uma criança pode ajudar muito na sua Educação, tornando-a um bom cidadão.  

Nair Lucia de Britto – Folha

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